Dinheiro vivo, notas frias e doações simuladas: os esquemas da JBS

Ricardo Saud, diretor de Relações Institucionais da Holding J&F, explica como empresa agia no esquema de corrupção que irrigou campanhas de diversos partidos
Marcela Balbino
Publicado em 19/05/2017 às 16:54
Ricardo Saud, diretor de Relações Institucionais da Holding J&F, explica como empresa agia no esquema de corrupção que irrigou campanhas de diversos partidos Foto: Foto: Reprodução delação


"Nós participamos de todas as eleições de 2010 para cá", disse o delator Ricardo Saud, diretor de Relações Institucionais da Holding J&F. Ele era visto pelos investigadores da operação Bullish como lobista da empresa junto a políticos brasileiros. No dia 5 de maio, ele gravou os depoimentos na Procuradoria Geral da República. Ao todo, o depoimento do delator contém 17 vídeos e neles há uma descrição de como ocorria os esquemas de propina.

O esquema de propina para irrigar campanhas políticas funcionava via dinheiro vivo, notas fiscais frias e doações legais. Em um dos depoimentos, ele cita o repasse de dinheiro ilegal para Gilberto Kassab (PSD), atual ministro de Ciência e Tecnologia do governo Temer. Saud conta que repassou R$ 20 milhões para o partido, na campanha de 2014. Mas, Kassab interceptou R$ 5 milhões deste valor para o próprio bolso, contou o delator. "Depois eu passo uma nota fiscal falsa da empresa do meu irmão", disse ele, segundo o delator.

"Parte da propina era em dinheiro vivo, outra parte em doação simulada e outra parte em nota fiscal por serviços não prestados", contou, fazendo referência ao repasse de R$ 35 milhões para serem repassados a seis senadores do PMDB.

Segundo Raud, Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda, pediu que a JBS desse R$ 35 milhões para as campanhas de Renan Calheiros, Eduardo Braga, jader barbalho, waldir raupp e Eunício oliveira - todos do PMDB. Kátia Abreu também estava na lista, mas foi limada.

"Ele (Joesley) pediu para mostrar o pedido de Mantega ao Michel Temer, porque não tinha nada para ele", conta. A ideia de turbinar as campanhas do peemedebistas era uma forma de barrar o crescimento da candidatura de Aécio.

RESERVATÓRIO DE BOA VONTADE

Para evitar se indispor com os políticos e obter benefícios fiscais, Saud conta que a intenção de dar a propina era "pro cara não chatear e nem atrapalhar". 

"Por exemplo, demos R$3 milhões para o (Geraldo) Alckmin (PSDB) a pedido do coordenador da campanha dele. Alckmin nunca falou comigo. Pegamos e demos 3 milhões oficial pra ele. Como falo? doação oficial?", contou o delator.

Saud chamava os acordos de "reservatório de boa vontade". 

PERNAMBUCO

Diretor da JBS, o delator Ricardo Saud afirmou, ainda, que negociou o pagamento de propina na campanha de 2014 com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, e com o prefeito do Recife, Geraldo Julio; ambos do PSB. Tudo começou com um acerto para pagar R$ 15 milhões para a campanha presidencial do ex-governador Eduardo Campos, falecido em agosto de 2014.

A delação envolve também o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB). "Exatamente no dia que ele faleceu, eu estava com o Henrique que era a pessoa dele que ele mandava... Ou o Henrique, ou o Paulo Câmara ou o Geraldo Julio para ir lá tratar da propina", afirma Saud. 

Em nota divulgada na noite desta sexta-feira (19), o governador repudiou a denúncia. "Nunca solicitei e nem recebi recursos de qualquer empresa em troca de favores", escreveu. "Tenho uma vida dedicada ao serviço público. Sou um homem de classe média, que vivo do meu salário", afirmou ainda. No texto, o governador também refuta o uso do termo "propina"; embora a palavra seja empregada, mais de uma vez, pelo delator Ricardo Saud.

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