Enquanto busca o apoio do PT para a reeleição, o governador Paulo Câmara (PSB) passou a ser questionado por sua posição em relação ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016. O JC compilou declarações públicas de Paulo entre dezembro de 2015 e agosto de 2016 que mostram como o pensamento do governador evoluiu durante as fases do impeachment.
Nas últimas semanas, os deputados de oposição Bruno Araújo (PSDB) e Mendonça Filho (DEM) afirmaram ter conversado mais de uma vez com Paulo e com o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), sobre o impeachment de Dilma. Em nota, no último dia 20, o governador negou os encontros. A oposição, vale lembrar, pode se favorecer por uma candidatura própria do PT, que pode levar a disputa ao segundo turno.
Nas primeiras declarações, Paulo deixava claro a posição contra o impeachment. "Não há ainda motivo para afastamento por crime de responsabilidade da presidente", afirmou à Rádio Jornal, em 10 de dezembro de 2015.
Em 17 de março, o governador começou a cobrar celeridade do processo, depois que Dilma foi gravada em conversa com o ex-presidente Lula (PT) sobre a posse como ministro do petista, já investigado pela Lava Jato.
A declaração mais dura de Paulo sobre o impeachment ocorreu em 22 de março, quando ele disse que se os fatos contra Dilma fossem comprovados, tornariam "muito difícil" a continuidade do governo. "Não se trata só de pedaladas e sim de outros fatos. Fatos graves que precisam ser apurados, que precisam ser responsabilizados", registrou então.
Em 11 de abril, o PSB, que tem Paulo como vice-presidente nacional, decidiu votar contra Dilma. Quando o impeachment passou na Câmara, no dia 17, o governador ressaltou a "robustez e equilíbrio das instituições democráticas".
No Congresso, o PSB votou majoritariamente pelo impeachment: 29 dos 32 deputados federais e cinco dos sete senadores apoiaram a deposição de Dilma. Dentre eles, todos os cinco deputados do partido em Pernambuco e o senador Fernando Bezerra Coelho (hoje no MDB), que na época integrava a legenda.
Paulo Câmara liberou três secretários que tinham mandato de deputado para participar da votação. André de Paula (PSD) e Danilo Cabral (PSB) engrossaram o coro do impeachment. Sebastião Oliveira (PR) se absteve. Na época, o governador disse que queria que o trio tivesse ficado nos cargos.
No dia 6 de maio, Dilma visitou a Transposição do São Francisco em Cabrobó, no Serão pernambucano, ao lado do governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), onde repetiu que era vítima de um golpe. Sete dias depois, Paulo afirmou que a admissibilidade do processo de impeachment seguiu as normas constitucionais.
Quando o Senado depôs Dilma, em 31 de agosto de 2016, o governador disse que o afastamento de um presidente não é algo a ser comemorado. Mas defendeu que era a hora de "virar a página" e se queixou de que "muita coisa se desarrumou nesses últimos anos".
No último ano, porém, o PSB iniciou uma reaproximação com o PT, de olho no forte apelo que Lula ainda tem junto ao eleitorado pernambucano e se afastando do impopular governo Michel Temer (MDB).
O JC procurou o governo do Estado e o PSB. Ambos reafirmaram a nota divulgada no último dia 20 em que o governador nega que ele e Geraldo Julio tenham negociado o impeachment de Dilma.