No dia em que marca os 50 anos do assassinato do padre Antônio Henrique Pereira Neto, familiares, ex-alunos e autoridades do Estado estiveram na manhã desta segunda-feira (27), na Catedral da Sé, em Olinda, para prestar uma homenagem ao religioso. O governador Paulo Câmara (PSB) fez a aposição de flores no túmulo do padre, e em seu discurso afirmou que é preciso relembrar todos os dias a luta de Antônio Henrique pela liberdade para que períodos como a ditadura militar (1964-1985) não possam voltar a acontecer.
“Ele simboliza o que a gente trabalha todos os dias para que nesse País não volte a acontecer o que vimos há 50 anos. Período em que o Brasil ficou apreensivo, contra a liberdade, justiça e o direito das pessoas. Períodos como esse a gente tem que lembrar todos os dias para que não volte mais a acontecer no nosso País”, afirmou. “O símbolo que nós temos, a resistência que nós temos que fazer é reverenciar aquelas pessoas que justamente lutaram para que o Brasil tivesse liberdade, voltasse a ter democracia e as pessoas pudessem voltar às ruas, pudessem falar e pensar. E padre Henrique fez tudo isso”, concluiu o chefe do Executivo.
Braço direito de dom Helder Câmara, o padre Antônio Henrique foi visto pela última vez no dia 26 de maio de 1969, no Largo do Parnamirim, zona Norte do Recife. Professor dos colégios Marista e Vera Cruz, o sacerdote também era coordenador da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Olinda e Recife. “Estamos aqui nesse grande evento que é fazer memória ao Padre Henrique. Um jovem como tanto outros, cheio de vida, um sacerdote cheio de esperança, um cristão, um cidadão do mundo, que colocou sua vida a disposição da verdade, do amor e da paz. Então Padre Henrique para nós é um referencial de esperança, de amplidão, de pensamento, alguém disposto a dialogar, particularmente com a juventude”, declarou o bispo auxiliar dom Limacêdo Antonio da Silva, que estava representando dom Fernando Saburido.
A verdade sobre o sequestro, tortura e assassinato do padre Henrique, até então associada ao “envolvimento toxicômanos, foi comprovada apenas em 2014. Primeiro caso a ser investigado pela Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara, o colegiado descobriu documentos sigilosos do extinto Serviço Nacional de Informação (SNI), pelo Ministério da Justiça e o Serviço de Inteligência da Marinha. Nele havia a identificação dos autores do crime. “Os documentos que tivemos acesso foram surpreendentes, as investigações na época tentaram encobrir a verdade e o padre começou a ser responsabilizado pela própria morte, mas a Comissão descobriu que as autoridades descaracterizaram o caso. O assassinato de Antônio Henrique não foi só uma visão política”, afirmou Roberto França membro da Comissão da Verdade.
Para a irmã do Padre Henrique, Izarias Pereira Padovan, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o ato desta segunda-feira se faz necessário para que toda trajetória do seu irmão e de tantos outros que foram vítimas do Golpe Militar, não sejam esquecidos. “Eu acho que é muito necessário preservar a história para que você possa programar e ter noção do que vai fazer no futuro. Porque verdade, coragem e fortaleza são as coisas que a vida impõe a todos. E se nós não soubemos lidar com isso, o que vi ser do nosso futuro?”
Também estiveram presentes na homenagem o secretário de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco, Pedro Eurico; o Assessor Especial do Governo, Antônio Carlos Figueira; o vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira.