A causa do hipotireoidismo envolve diversos fatores, como cirurgias que retiram a glândula por causa de nódulos, tratamentos com radiação para tumores na cabeça ou no pescoço e uso indiscriminado de alguns medicamentos. “O problema mais comum que afeta diretamente a tireoide são os processos inflamatórios, como a tireoidite de Hashimoto, que ataca a glândula através de mecanismos ligado à imunidade”, explica o endocrinologista Fernando Almeida.
Ele salienta que a tireoidite de Hashimoto tem uma evolução lenta e pode passar por várias fases, inclusive por períodos em que o paciente pode nem se queixar de sintomas. “A progressão da doença se manifesta quando anticorpos fabricados pelo organismo agridem as células da glândula, chegando a destruí-la ou a reduzir a sua atividade.” Um detalhe importante, segundo o endocrinologista, é que os anticorpos antitireoideanos têm fases cíclicas, o que dificulta o diagnóstico. “Por isso, recomendamos acompanhamento clínico criterioso e realização frequente de exames.”
Ainda há outro detalhe que deixa os médicos sempre à espreita: o hipotireoidismo subclínico, definido por concentrações elevadas do TSH e por níveis normais do T4. Quem convive com essa condição pode ter os mesmos sintomas de quem lida com o hipotireoidismo em essência. “Entre as disfunções da glândula, essa é a mais comum. A prevalência geral pode chegar a até 12%. Acima dos 60 anos, esse percentual sobe para 20%”, frisa o endocrinologista Gustavo Caldas.
Ele chama a atenção para o fato de que essa condição tem probabilidade de 5% a 7% de evoluir para o hipotireoidismo propriamente dito. O tratamento dessas disfunções é simples, pois a reposição do T4 é eficaz. O paciente, no entanto, precisa ter disciplina. Ele não pode abandonar a medicação e nem mesmo deixar de voltar às consultas para refazer os exames.
Do lado totalmente oposto do hipotireoidismo, está a disfunção que deixa a glândula com um funcionamento acelerado, conhecida como hipertireoidismo. A doença é caracterizada por uma produção exagerada dos hormônios, que causa sintomas específicos e até complicações graves. Entre elas, estão taquicardia e atraso no crescimento (no caso de crianças e adolescentes).
“É uma doença que pode ser tratada com medicação que diminui a produção de T3 e T4. Se o problema não resolver em cerca de um ano, parte-se para o iodo radioativo ou a cirurgia”, diz Gustavo Caldas. Ele acrescenta que existe também o hipertireoidismo subclínico, que acomete de 1% a 2% da população em geral. “Em 40% dos casos, é uma condição que desaparece espontaneamente.”
Vale ainda ressaltar que uma das formas mais comuns do hipertireoidismo é a doença de Graves (DG), em que o corpo humano produz um anticorpo que estimula a tireoide a produzir um excesso de T3 e T4. Além de agir na tireoide, esse anticorpo age também nos olhos, deixando-os saltados – uma consequência com a qual convive a profissional de marketing Ivanilda Santos, 52, que passou sete meses em busca de um diagnóstico preciso. “Tinha insônia e agitação e, dessa maneira, não conseguia relaxar. Passei por vários neurologistas, que erroneamente receitaram remédios controlados”, relata.
Sem diagnóstico e terapêutica certos, ela também passou a ter perda de peso, lapsos intensos de memória e falta de força. Quando detectaram o hipertireoidismo, ela fez tratamento com iodo radioativo, que elimina o problema porque destrói a tireoide. “Assim como quem tem hipotireoidismo, tomo diariamente comprimidos de T4 para manter níveis hormonais normais”, acrescenta Ivanilda, que lamenta ter herdado do hipertireoidismo os olhos saltados. “Ainda estou em busca de um médico que resolva esse problema.”
SITUAÇÕES ESPECIAIS - Em alguns momentos da vida, é importante vigiar ainda mais a tireoide. A glândula sofre muito com a variação hormonal da puberdade, gestação e menopausa. “Além disso, ela também envelhece com o passar dos anos. Por isso, é comum encontrar nódulos e cistos nos idosos, o que merece um bom acompanhamento”, ressalta Fernando Almeida. Ele ainda explica que o hipotireoidismo é mais frequente no envelhecimento. “Se não tratado, pode até piorar a cognição dos idosos.”
Outro detalhe é que, na gestação, há maior necessidade de hormônio tireoidiano, o que pode exigir aumento da dose para suprir mãe e feto. “A glândula do feto ainda não está formada nas 12 primeiras semanas, e o bebê em formação recebe os hormônios diretamente da mãe. Por isso, as mulheres devem estar com tudo sob controle nessa fase”, sublinha Gustavo Caldas. Na gravidez, a tireoide é preciosa porque seus hormônios têm como principais efeitos o término da formação do esqueleto e dos pulmões, além do desenvolvimento do cérebro e da função intelectual.
E assim que o bebê nascer, ele deve se submeter ao teste do pezinho, que também detecta o hipotireoidismo congênito. “Não significa, contudo, que gestantes com hipotireoidismo têm mais chances de ter filhos com essa condição, que é totalmente controlada”, reforça o endocrinologista.