Bruna: "A melhor parte da viagem está nos encontros"

É do tipo que entrega as chaves e confia nas pessoas. Muitos desses hóspedes viraram amigos e a inspiraram
Carolina Albuquerque
Publicado em 22/03/2015 às 8:00
É do tipo que entrega as chaves e confia nas pessoas. Muitos desses hóspedes viraram amigos e a inspiraram. Foto: Arquivo Pessoal


Bruna Castro, redatora publicitária, moradora de Curitiba, 26 anos. Através do AirBnb, rede de hospedagem em casa própria, já recebeu mais de cem viajantes. É do tipo que entrega as chaves e confia nas pessoas. Muitos desses hóspedes viraram amigos e a inspiraram. Ela tem um blog, onde conta um pouco sobre esses encontros. Para acessar: http://www.abrajanela.com.br/. 

Por quê viajar só? 

Até hoje, o máximo que viajei sozinha foi 15 dias em 2013, entre Cuba e México. Mas para mim sempre foi natural. Cada um da minha família já morou num lugar. Então essa coisa de viajar sempre foi uma constante muito grande na minha vida. Tinha que me enfiar num ônibus desde muito jovem. Hoje, pensando, isso pode ter ajudado esse sentimento de liberdade. 

Como foi a experiência? 

Quando a gente está sozinho, dá oportunidade de aprofundar contatos com outras pessoas. Acompanhado, a pessoa do lado é o seu mundo. Quando sozinho, damos mais atenção ao que está ao redor, para escutar o outro, aprofundar relações que podem virar amizade. Em Cuba, viajei parte sozinha, parte com amiga. Em alguns momentos, a gente sente falta de alguém, para compartilhar. Um momento que achamos sublime. Por outro lado, sempre temos a liberdade de ir e vir. 

Pelo fato de ser mulher e estar só, isso limita a viagem de alguma forma?

Claro que a gente sempre tem que tomar um cuidado a mais. Mas tem formas de burlar isso. A pessoa que estava me hospedando em Havana sabia para onde eu ia, tinha alguém sempre a par dos meus planos. 

Você já hospedou mais de cem viajantes na sua casa. Quando viaja prefere fazer o mesmo? Por quê?

Eu não gosto da sensação do hotel, de ser servido, ter alguém à sua disposição. Ficar na casa das pessoas é mais horizontal. Além do olhar de alguém nativo. Ele te dá dicas mais fáceis e preciosas do que o google. Numa casa em São Francisco, por exemplo, me deixaram um papel impresso com tudo que podia fazer a pé, pelo bairro. Peguei aquele papel e já sai andando, explorando o bairro da melhor maneira possível. Quando viajo, procuro mais as pessoas, amigos, e menos google. 

Como você se sente nesses dias de viajante solitária? 

Percebo que escrevo muito mais. Viajar sozinho é uma forma de autoconhecimento, quando estamos longe de casa, conseguimos olhar a própria vida sob outra perpectiva, questionamento, reflexões. 

Já deixou de fazer algo por receio ou medo, pelo simples fato de ser mulher?

Até agora, houve um episódio no Chile. Eu disse a minha amiga que ia dar uma volta. Ela ficou no lugar onde estávamos hospedadas. Um senhor na rua se aproximou e começou a conversar. Ele parecia super legal, estava vendendo umas coisas. E daí ele me chamou para tomar uma cerveja na sua casa. Nessa hora, eu fiquei um pouco triste de ser mulher. Poderia ser que ele estavesse bem intencionado ou não. Mas acabo sendo prevenida e não fui porque sou mulher e poderia me colocar numa situação vulnerável.  

Tem uma leitura ou alguém que te inspira a se aventurar? 

Tem uma menina que ficou super famosa, a Aline Campbell, do Portas Abertas. Tive que pegá-la na estrada com seu cachorro e ficou alguns dias lá em casa. Ela me inspira bastante. Pegou carona e conseguiu viajar por muitos lugares. Até desmistificou aquela fama de caminhoneiro. Hospedando pessoas em casa, quebrei esse paradigma de receber estranhos. Sempre prefiro dar chances para as coisas boas acontecerem primeiro. Se acontecer algo de ruim, terei que lidar com isso. Os europeus, principalmente, desde que abri as portas da minha casa, me apresentaram um novo mundo. Eles tem outra cultura, é muito mais natural viajar.

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