O "vou dizer à professora" faz parte de nossa construção para o convívio em sociedade.
De pequenos, na escola, somos incentivados a não resolver situações complexas e recorrer à instituições, "poderosas", que as resolvam.
No começo é a tia do colégio ou os pais.
E vai se formando a ideia de que podemos sempre esperar que alguém resolva nossos problemas.
Adultos, os brasileiros olham para o poder público e começam a cobrar dos gestores tudo aquilo que não costumam praticar no dia-a-dia, desde a ética e a honestidade até o bom uso dos recursos disponíveis.
Também esperamos que o poder público resolva tudo para nós, sem nos obrigar a nada.
A conta não fecha.
Quando se trata de vacinação, no meio de uma pandemia, os decretos obrigando imunização para determinadas situações, em Pernambuco, viraram cabo de guerra entre quem acha que o governo deve interferir na decisão da população de se vacinar e quem acha que isso fere a liberdade do indivíduo, prevista em lei.
Na prática, é apenas uma plataforma eleitoral que está sendo explorada por atores políticos, usando a discussão sobre tutela do Estado como pano de fundo.
Se tivéssemos outra formação cultural, o governo não precisaria se meter, os políticos não teriam do que reclamar e todo mundo estaria vacinado.
Como não é o caso, deputados estaduais de oposição resolveram se unir para denunciar o governo de Pernambuco à Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
É o "vou dizer à professora da professora". Pobre Brasil.