Era uma vez uma deputada que deixou de ser mulher quando não concordou com uma pauta da esquerda.
Era uma vez uma economista cuja condição de vítima perdeu força porque o agressor é ligado à esquerda.
Era uma vez um movimento feminista, muito importante que, capturado por militantes partidários, passou a existir, para a luta, apenas quando a vítima é do mesmo "time".
Quando se observa a repercussão dos casos de violência contra mulheres atacadas por homens de esquerda, a impressão que se tem é que é mais fácil fingir que elas não são mulheres do que defendê-las.
Tábata Amaral (hoje no PSB), foi praticamente expulsa do PDT quando votou a favor da reforma da Previdência em 2019. Bastava escrever "bom dia" nas redes sociais para ela ser, imediatamente, xingada por homens e mulheres ligados a partidos de esquerda.
Recentemente, defendeu equilíbrio nas eleições de 2022. Depois, disse "admirar e ter condições de construir a tal terceira via nomes como Alessandro Vieira (Cidadania), Eduardo Leite (PSDB) e Simone Tebet (MDB)". Imediatamente, foi ameaçada nas redes sociais por um sujeito que dizia ter vontade de dar socos nela na rua até ser preso.
Solidariedade feminina? Teve pouca.
Pra completar, a ameaça foi compartilhada e repassada pelo ator José de Abreu, ligado ao PT. Aquele mesmo que já cuspiu em um casal num restaurante.
Solidariedade feminina? Quase nenhuma.
Não houve protestos, não houve campanhas, nada. Pelo contrário, teve mulher concordando com o ator, afinal, ela é "aquela que votou a favor da reforma da Previdência". Ser mulher é mero detalhe.
Aqui em Pernambuco o exemplo é mais recente. A economista Maria Eduarda Marques de Carvalho acusa o ex-marido de agressões terríveis. Estão no pacote de horrores, chutes, cusparadas e até violência sexual, além de ameaças de morte.
Há gravações. Há boletins de ocorrência registrados nos últimos 21 anos.
Em outra situação, talvez as deputadas e vereadoras pernambucanas estivessem nas ruas, organizando protestos e pedindo justiça. Talvez estivessem nas portas das delegacias exigindo providências ou em visitas ao Ministério Público.
Isso não está acontecendo e, nesse ponto é preciso apontar um detalhe essencial: o suposto agressor era, até alguns dias atrás, secretário de Direitos Humanos da gestão do PSB no estado. E as parlamentares que normalmente estariam fazendo esse barulho, são ligadas ao PSB ou a partidos aliados.
Uma delas é ligada à Polícia mas, ao que parece, nunca ficou sabendo dos dez boletins de ocorrência registrados ao longo de 21 anos, dois deles em 2021.
Quando a informação chegou para a imprensa, ainda houve quem tentasse abafar a situação. Só quando foi divulgado, o secretário entregou o cargo.
Esse detalhe é importante. Ele não foi demitido do governo socialista. Após 21 anos, vários boletins de ocorrência, sendo duas denúncias só em 2021, o secretário que estava no cargo defendendo a bandeira dos Direitos Humanos ainda teve o direito de decidir sair, ao invés de "ser saído".
Quando começou a ficar muito feio, as deputadas resolveram publicar notas, daquelas que marcam posição e não servem de nada. Cumpriram o rito mínimo para não ignorar o assunto completamente e... sumiram de novo. Nada de novas cobranças.
É mais fácil fingir que não é mulher do que admitir que agressores, homens violentos, fazem parte de uma cultura que não obedece bandeira ou ideologia. Até agora, nenhuma parlamentar pernambucana pediu para o ex-secretário, colega de muitas delas, o que seria comum em outros casos: prisão. Nada até agora. Silêncio.
O devido processo legal deve ser respeitado. O objetivo desse texto não é acusar ninguém, porque a Justiça é quem deve apontar o caminho a ser seguido e deve ter, sempre, liberdade para agir.
Este texto é sobre mulheres deixarem de ser mulheres.
Um fenômeno curioso.