Deputado federal e pré-candidato do PSB ao governo do Estado, Danilo Cabral (PSB) declarou, no domingo (29), quando já se contavam 84 mortos nas chuvas que atingiram Pernambuco, que é o “momento de unir esforços”.
União é algo bonito de se defender. Quem vai discordar?
A prática, porém, quase sempre necessita de ajustes. Diferente do que aconteceu na Bahia, talvez pela proximidade com a eleição (o que não importa para quem está precisando), Bolsonaro foi ágil em disponibilizar recursos.
Enviou ministros que fizeram uma coletiva no estado. Prontificou-se a desembarcar por aqui, pessoalmente, na segunda-feira (30) para ver de perto o estrago e anunciar mais ajuda.
Paulo Câmara (PSB) já avisou 24h antes que não ia, porque não foi convidado.
No centro da tragédia desde antes da tragédia acontecer, Paulo até foi visitar as áreas atingidas, mas num sobrevoo, olhando de cima, até o domingo.
João Campos (PSB), prefeito do Recife, passou 24h até ir visitar um dos locais da tragédia. Foi só quando a chuva passou.
Deve ter algo a ver com a memória do colunista, que já viu chefes de Executivo terem outros comportamentos, mas incomoda quando, diante da tragédia, os dois principais gestores das áreas afetadas não tomam nem um pingo de chuva na cabeça depois que tanta gente andou com água no pescoço para tentar sobreviver. Passa uma ideia de distanciamento que gestores públicos não deveriam cultivar.
Cada um tem um estilo. Ficar dentro do gabinete, de longe, parece estar na moda, como observou o colega Fernando Castilho.
No meio disso tudo, o governo Federal realizou coletiva de imprensa em Pernambuco. Antes, os ministros fizeram um sobrevoo nas áreas afetadas e também não pisaram na lama, ficaram de cima.
O governo do Estado diz que também não foi convidado.
No governo federal se fala que houve tentativa de contato com o Palácio, sem sucesso.
É uma pena, já que era só pra voar, poderiam ter dividido o helicóptero e economizado combustível de aviação, que é caro.
Poesia
Independente de quem esteja falando a verdade, “união” é algo que não está funcionando, nem com toda a tragédia, nem com a perspectiva de que esse número de 84 mortos do domingo se transforme em mais de 100 até o fim dos trabalhos de resgate.
Para ir além da poesia, é necessário ir além da eleição. É preciso pisar na lama, levar chuva na cabeça, sentar junto e ignorar estratégias políticas.
Alguém é capaz de fazer isso? Pelo jeito, não.