Considerada uma das melhores melhores escolas públicas do Brasil, o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) está envolvido em dois impasses. Ainda não voltou a ter aulas presenciais (suspensas há um ano e meio por causa da covid-19), o que motivou o envio de uma carta aberta das famílias de alunos reivindicando esse retorno já que a maioria das escolas públicas e privadas do Estado reabriu. E não decidiu se a seleção dos novatos para 2022 será novamente por meio de sorteio, adotado excepcionalmente por causa da pandemia, ou voltará a aplicar provas de seleção. Em meio a essas indefinições, estudantes, professores e servidores estarão a partir desta quinta-feira (30) no colégio, de forma escalonada, para o início de atividades integradoras presenciais. Eles não se encontram desde março de 2020.
A decisão de manter as aulas remotas foi tomada na última sexta-feira (24) pelo pleno do colégio e informada à comunidade escolar. Significa que os 420 alunos do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio continuarão com aulas síncronas (online) pela manhã e assíncronas à tarde. Para as atividades integradoras, a cada dia poderão ir duas turmas, uma em cada turno. As turmas têm em média 30 estudantes. No dia 11 de outubro a direção pretende avaliar como foi esse retorno e adotar ou não novas medidas, inclusive não está descartado o início de aulas presenciais, a depender da avaliação dos docentes.
ARGUMENTOS
Na carta aberta dos pais, disponível para assinatura online (havia 234 assinaturas até 17h45 desta quarta-feira), as famílias classificam a decisão pelo não retorno das aulas presenciais como "unilateral e equivocada" e afirmam que "não atende aos interesses dos alunos e das famílias, desconsidera a inegável perda da qualidade do ensino com a permanência do formato remoto, além de ignorar os graves malefícios psicológicos causados a crianças e adolescentes".
Os pais ressaltaram também que "ao insistir no modelo de aulas exclusivamente remotas", o colégio "não está em conformidade com a Portaria 005/2021 do Ministério da Educação, que reconhece 'a importância do retorno à presencialidade das atividades de ensino e aprendizagem, em todos os níveis, etapas, anos/séries e modalidades da educação básica nacional."
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A carta foi enviada na noite de terça-feira (28) para a direção do Aplicação. As famílias afirmam que compreendem as limitações financeiras impostas pelo governo federal e que sempre defenderam a volta do ensino presencial apenas com professores e boa parte da população vacinados.
"Entendemos que esse momento chegou e a escola não pode simplesmente ignorar os fatos", escreveram, enfatizando ainda que "o Aplicação é hoje a única escola em todo o Estado de Pernambuco que permanece sem nenhum plano de retorno às aulas presenciais". Entre os prejuízos da manutenção das aulas remotas, destacaram o comprometimento do conteúdo programático, desmotivação dos alunos, fragilidade do vínculo entre docentes e discentes e danos à saúde emocional.
JUSTIFICATIVAS
Em resposta à carta, a equipe de gestão (Erinaldo Carmo, diretor; Danilo Carvalho, vice-diretor; Isis Lovera, coordenadora do ensino médio; e Fernanda Melo, coordenadora do ensino fundamental) assegura que sobre o retorno presencial e o seu formato, a decisão não foi tomada de forma unilateral e que houve amplo debate com a direção, docentes, técnicos e representantes dos alunos.
"A forma de retorno adotada pelo Colégio de Aplicação foi pensada por profissionais da educação, incluindo psicólogas e pedagogas, sempre pensando na melhor maneira de reintrodução dos estudantes no espaço escolar. Não seria prudente ao colégio, depois de 18 meses sem atividades presenciais, colocar os alunos em sala de aula para trabalhar conteúdos curriculares sem antes tratar questões emocionais e de acolhimento. A experiência dos nossos profissionais na relação com crianças e adolescentes nos faz acreditar que estamos no caminho certo para acolher melhor nosso alunado", ressaltam os gestores.
Segundo a direção, as atividades integradoras presenciais serão encontros pedagógicos "que envolvem, além do acolhimento, ações de ensino e aprendizagem que vão além dos conteúdos específicos de cada componente disciplinar".
Não foi usado o termo aula porque, conforme os diretores, "a aula pressupõe o registro da frequência e o cômputo da carga horária. Caso essas atividades fossem registradas como ‘aulas”, estudantes que não pudessem participar presencialmente poderiam ser reprovados por falta ao atingirem mais de 25% de ausência. Já as atividades integradoras presenciais são optativas, com ganhos aos participantes, sem prejuízos aos ausentes", explicam.
Estão programados dois encontros entre a escola e as famílias, nos próximos dias 1º e 8 de outubro, para esclarecer dúvidas e informar aos pais como será o funcionamento do colégio.
SELEÇÃO DE NOVATOS
A comissão de seleção que está discutindo o formato da seleção dos alunos novatos para 2022, formada por oito servidores, entre professores e técnicos do colégio, não chegou a um entendimento. A ideia inicial era definir o modelo e lançar o edital ainda esta semana, mas em reunião realizada na última terça-feira (28) não houve uma definição.
"Avançamos na elaboração do documento, mas não conseguimos fechar nem o formato nem as datas. Os participantes da comissão farão sugestões ao longo dessa semana e na próxima voltaremos a nos reunir", informa o diretor Erinaldo. Ele estima que o edital será publicado em meados de outubro. Haverá 56 vagas para o 6º ano, sendo 28 pra cotistas (egressos de escolas públicas) e 28 para ampla concorrência.
Até 2019, os novos alunos eram selecionados por meio de uma seleção com provas de português, matemática e redação. Ano passado, devido à pandemia, o colégio informou que os testes aconteceriam este ano. Depois, decidiu realizar um sorteio para preenchimento das vagas, o que causou indignação em algumas famílias que chegaram a questionar a conduta no Ministério Público Federal e acionaram a Justiça para tentar barrar a medida.
Nesta quarta-feira, por unanimidade, a Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região – TRF5, manteve decisão da 1ª Vara da Justiça Federal em Pernambuco, que negou o mandado de segurança ajuizado por pais de 38 candidatos, pedindo a realização de provas presenciais. De acordo com o TRF5, a utilização de sorteio público como critério para ingresso de novos alunos no Aplicação, em meio à pandemia de covid-19, é lícita.
NOVIDADES
Independentemente do modelo de ingresso - se os novatos entrarão por sorteio ou por seleção - Erinaldo informa que não haverá cobrança de taxa de inscrição. Portanto, o processo será gratuito para todos.
Outra novidade é a reserva de vagas para candidatos com deficiência, atendendo a uma exigência do Ministério Público Federal. Serão quatro vagas, sendo duas para cotistas e duas para ampla concorrência.