Professores da rede municipal do Recife - são cerca de 5 mil, dos quais 4 mil estão em salas de aula - entram nesta quinta-feira (10) no quarto dia de greve. A principal reivindicação da categoria é o pagamento do reajuste do piso salarial do magistério (previsto em lei federal), com repercussão para todos os níveis da carreira. Na avaliação do sindicato que representa a categoria, a adesão ao movimento é de 97% dos efetivos (são aproximadamente 3 mil no total). Os temporários (1.190) não suspendem as atividades porque se fizerem serão dispensados.
O piso foi reajustado em janeiro e passou de R$ 2.886 para R$ 3.845,63, para carga horária semanal de 40 horas (incremento de 33,24%). Na Região Metropolitana, as cidades de Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Camaragibe e Igarassu anunciaram que vão aumentar o salário dos docentes com no mínimo esse índice determinado pela União. No Estado, além dos professores da rede estadual, levantamento do Sindicato dos Professores da Rede Municipal do Recife (Simpere) aponta que 27 municípios prometeram pagar o piso do magistério.
PRESSÃO
Para pressionar a prefeitura do Recife, foi feito ontem um ato em frente à Câmara de Vereadores, no bairro da Boa Vista, área central da capital. Os professores pediram a intermediação dos representantes do Poder Legislativo para que as negociações com a gestão municipal sejam retomadas. Desde que a greve foi anunciada, quinta-feira da semana passada (03), não há mais conversa entre as duas partes. Hoje estão previstos ato público e panfletagem em frente ao Centro de Formação Paulo Freire, na Madalena.
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A rede municipal tem 325 escolas e creches. Segundo a Secretaria de Educação do Recife, somente 16% das unidades estão com funcionamento normal. Em outros 10% a suspensão das atividades é total. E nos outros 74% a adesão à greve é parcial. Atualmente, um professor da capital, em início de carreira, recebe R$ 2.886, conforme a secretaria. Na última proposta, a prefeitura ofereceu aumento salarial de 13,06% (índice correspondente à inflação de 2021 mais 3%). Os professores não aceitaram.
"Estamos fazendo uma greve histórica, com adesão de quase toda categoria. A prefeitura se nega a aplicar a lei do piso, quando cidades menores, com arrecadação inferior, como Olinda e Camaragibe, vão conceder o reajuste de 33%", diz a coordenadora geral do Simpere, Ana Davi. "Recentemente a gestão disse que havia superávit de R$ 419 milhões. Tem ainda a verba do Fundeb. Por isso não convence a justificativa de que não tem dinheiro para nos pagar o que temos direito por lei", complementa Ana.
CARREIRA
Ela diz que é preciso recompor a carreira. "Um professor com mais de 10 anos da rede ganha igual a um colega que está em início de carreira. Nossos salários estão defasados. Se for aplicado o aumento apenas para o primeiro nível salarial, como quer a prefeitura, essa diferença vai aumentar ainda mais entre quem está chegando na rede e quem tem mais de 30 anos em sala de aula", afirma a coordenadora do Simpere.
Em Camaragibe, o índice de aumento é 33,24%, previsto pela União. Olinda dará reajuste de 34%, Igarassu 35,5% e Jaboatão dos Guararapes, 36%. Na rede estadual, o governo de Pernambuco vai dar 35,13%.
NEGOCIAÇÃO
O secretário municipal de Educação, Fred Amancio, reafirmou que a prefeitura pretende pagar o piso para docentes em início de carreira (são pelo menos mil profissionais). "Garantimos o piso para o primeiro nível da carreira. O índice de reajuste para os demais depende de negociação", observa Fred. Ele lamentou a greve. "É uma pena para os alunos, já tão prejudicados na aprendizagem por causa da pandemia.".
Questionada se a negociação com os docentes será retomada, a Secretaria de Planejamento não respondeu. Afirmou apenas que "a greve foi deflagrada com negociações em andamento. A prefeitura reafirma seu posicionamento, que é aberto ao diálogo e espera que a categoria compreenda que essa paralisação penaliza duramente os estudantes e a própria discussão entre as partes".