A educação é uma das áreas mais impactadas pelo aumento da pobreza. Crianças de famílias mais pobres têm mais probabilidade de abandonarem a escola ou apresentarem dificuldades na aprendizagem. Mas é também por meio da educação que cresce a chance delas romperem com o ciclo de pobreza.
A Região Metropolitana do Recife é a quarta do País que tem o maior percentual de crianças de até cinco anos vivendo em domicílios com rendimento per capita de até um quarto do salário mínimo, ou seja, R$ 275. O índice é de 48,1%.
Acima estão Maceió (51,5%), São Luís (49,2%) e Manaus (49,0%). É o que mostra o Boletim Desigualdade nas Metrópoles, produzido pelo Observatório das Metrópoles, com dados do IBGE e divulgados nesta quinta-feira (07).
"É notório que há uma relação direta entre melhores resultados educacionais associado a níveis mais elevados do ponto de vista socioeconômico. Se você trabalha num território mais pobres economicamente falando há também relação com piores resultados na educação", observa o professor emérito da UFPE Mozart Neves Ramos, que também é titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, da USP de Ribeirão Preto.
"Todavia é preciso levar em conta que o Brasil pode aprender com o Brasil. Há municípios relativamente pobres e que têm encontrado bons resultados na educação. Existem cidades que podem nos ensinar a proporcionar uma educação de qualidade, equilibrando os investimentos com boa gestão e foco no aprendizado do aluno", diz Mozart.
Ele defende que as políticas públicas para compensar os déficits educacionais considerem as diferenças territoriais. "O planejamento deve ser de acordo com a realidade de cada território dentro da própria cidade", observa Mozart.
"Recife tem muitos bolsões de pobreza, mas o investido per capita por aluno é alto e bem maior se comparado com outras cidades como Paulista, Olinda, Caruaru, Petrolina. Mostra que às vezes pode ter dinheiro, mas não está sendo investindo de maneira apropriada e que produza bons resultados do ponto de vista escolar", comenta Mozart. Investimentos em educação, lembra, impactam na redução de taxas de homicídios e de violência.
CRECHES
Com maioria das famílias chefiadas por mulheres, ampliar o acesso a creches é um dos caminhos para reduzir a pobreza. Muitas mães não conseguem trabalhar porque não têm com quem deixar os filhos.
"Na creche ou na escola, a criança tem educação, proteção, merenda, está num espaço adequado para seu desenvolvimento", ressalta o diretor executivo do Primeira Infancia Plantar Amor (Pipa) e consultor Rogério Morais. Ele lembra que o acesso a creches no País é muito baixo: 35% no Brasil e 20% no Nordeste. "Significa que de cada dez crianças, oito não frequentam creches", diz Rogério.
EQUIDADE
Para a vice-presidente da União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) em Pernambuco e secretária de Educação de Igarassu, Andreika Asseker, é preciso também assegurar equidade, sobretudo depois da pandemia de covid-19.
"As crianças mais vulneráveis socialmente foram as mais prejudicadas. O acesso é importante, mas as redes de ensino terão que desenvolver ações para garantir equidade", diz Andreika.