Praticamente dois em cada três jovens entre 14 e 16 anos que iniciaram o primeiro ano do ensino médio em 2024 afirmam que desejam um modelo de escola de ensino médio com currículo flexível, ou seja,
com uma parte comum a todos e outra em que podem aprofundar conhecimentos em áreas de
interesse ou fazer cursos profissionalizantes de forma integrada – em linha com a essência do “Novo
Ensino Médio”.
Os dados são da pesquisa Datafolha, encomendada pelo Todos Pela Educação, e realizada de
forma presencial entre janeiro e fevereiro deste ano. O levantamento teve abrangência nacional, sendo realizada em 113 municípios, contemplando todas as regiões do Brasil.
A amostra total foi de 462 entrevistas, com a margem de erro total de cinco pontos para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%.
"A pesquisa não refuta a necessidade de ajustes na reforma do ensino médio. A pesquisa reforça de forma bastante categórica que a maioria dos estudantes ingressantes do ensino médio, defendem as mudanças que o novo modelo propõe a avançar. Quanto mais o estudante diz estar bem informado sobre a reforma, mais forte é essa defesa", explicou o diretor-executivo do Todos pela Educação, Olavo Nogueira Filho, em entrevista à coluna Enem e Educação, do Jornal do Commercio.
Segundo o levantamento, a maioria dos estudantes (65%) prefere uma escola que tenha algum tipo de flexibilidade curricular na etapa, seja para se aprofundar em disciplinas do interesse (35%) ou para fazer um curso técnico (29%). Os outros 35% preferem uma escola com as mesmas disciplinas para todos os alunos durante toda a etapa.
Entre aqueles que dizem conhecer o Novo Ensino Médio, o percentual de estudantes que quer algum tipo de flexibilidade vai de 65% para 70%. Entre aqueles que se consideram bem informados sobre o modelo, 79%.
"Esse dado mostra que pleitos de revogação da reforma, por mais legítimos que possam ser, não encontram respaldo na opinião da maior parte dos estudantes que estão ingressando no ensino médio. Muito pelo contrário", pontua Olavo Filho. "A segunda observação é o reforço do senso de urgência a esse processo de ajustes em curso. Acho que a pesquisa ao trazer com bastante ênfase o desejo dos jovens ingressantes por esse novo modelo, ela indica que passou da hora do MEC e do Congresso darem o encaminhamento final nesse processo de revisão, que agora caminha para um ano", complementa o diretor-executivo.
APROFUNDAMENTO NAS ÁREAS DE CONHECIMENTO
Na pesquisa feita pelo Datafolha/Todos Pela Educação, oito em cada dez jovens (81%) indicaram que, se pudessem escolher aprofundar os estudos em disciplinas do seu interesse, escolheriam apenas uma área do conhecimento. Outros 15% indicaram duas áreas. Dentre os estudantes que escolheram apenas uma área, 36% optaram pela área de Linguagens, 16% pela área de Ciências da Natureza, 16% por Ciências Humanas e 13% por Matemática.
O diretor-executivo do Todos Pela Educação volta a reforçar que a pesquisa não pontua os desafios e os problemas de implementação da reforma do ensino médio, mas evidencia múltiplos indícios de que há problemas que precisam ser bem debatidos. "Acho que a pesquisa ela traz com muita força, mais uma vez, é que uma coisa são os problemas que precisam ser ajustados, outra coisa é a manutenção dos princípios e da essência da reforma do ensino médio", afirmou Olavo Nogueira Filho.
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TÉCNICO
No Congresso Nacional, a principal divergência entre o texto proposto pelo governo federal e o relatório apresentado pelo relator do PL, o deputado federal Mendonça Filho, é referente a carga horária básica.
O parlamentar estabeleceu um teto de 2,1 mil horas para a Formação Geral Básica, enquanto o Ministério da Educação defende que sejam 2,4 mil horas, com 600 horas para as matérias optativas, e com a possibilidade de que a educação técnica cumpra apenas 2,1 mil horas.
O estudo também mostra que entre os estudantes que gostariam de fazer um curso técnico, 77% ainda optaria pela modalidade mesmo que tivessem menos aulas relacionadas aos conteúdos que são cobrados na prova do Enem e dos vestibulares. Além disso, os estudantes que desejam fazer um curso técnico afirmam que aceitariam ficar mais tempo na escola todos os dias para realizá-lo - 29% dos entrevistados afirmaram que ficariam de 1 a 2 horas a mais na unidade de ensino.
"As duas propostas que estão tramitando em diferentes patamares, propõem uma diferenciação da carga horária de Formação Geral Básica entre quem segue a trilha acadêmica, e de quem faz a trilha técnica. O que tentamos extrair dessa pergunta é se a decisão de um jovem que tem interesse em cursar o técnico, ter menos Formação Geral Básica faria ou não diferença nessa escolha", explicou Nogueira Filho.