Mercado de imóveis de luxo vive boom de vendas após a covid-19

A falta de novos produtos da área de imóveis com áreas acima de 120m2 era uma constatação do setor. O estoque de imóveis com quatro quartos prontos para morar chegou a um dos menores dos últimos 10 anos.
Fernando Castilho
Publicado em 11/10/2020 às 10:35
A construção civil em Pernambuco vive um momento de vendas aquecidas especialmente na região de Boa Viagem. A Pandemia do novo Coronavírus, Covid-19 represou o interesse dos clientes de alta renda. Foto: ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM


Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios


Nos últimos meses, a intensa atividade no segmento de alto luxo movimentou o mercado imobiliário do Recife. Empreendimentos na planta, com preços acima de R$ 1,8 milhão, parte deles à beira-mar e com três a quatro quartos, tiveram vendas esgotadas antes de serem lançados.

Apenas as três maiores construtoras do Recife (Moura Dubeux, Rio Ave e Vale do Ave) lançaram projetos que somam R$ 834 milhões sem problemas de comercialização.

Não acontece apenas no Recife. Na maioria das capitais o fenômeno está sendo observado. A novidade é que o perfil do cliente é de famílias que desejam imóveis adaptados aos novos tempos.

É um fenômeno decorrente da covid-19, diz Alberto Ferreira da Costa, da Rio Ave, que vendeu quase 100% do projeto Brunehilde Trajano, com Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 118 milhões, no quarteirão da Avenida Conselheiro Aguiar com Padre Carapuceiro.

Primeiro, o mercado não tinha produtos. Depois, na pandemia, o setor identificou novos diferenciais. Em um ano, sua empresa lançou projetos que passam de R$ 340 milhões.

A falta de novos produtos da área de imóveis com áreas acima de 120m2 era uma constatação do setor. O estoque de imóveis com quatro quartos prontos para morar chegou a um dos menores dos últimos 10 anos.

Concorrente direta, a Vale do Ave, que pertence a primos de Alberto, também não tem problemas de comercialização. Seus projetos Avenida e Villa Lobos (R$ 248 milhões) venderam rápido.

Zeferino Ferreira da Costa Filho avalia que o que aconteceu foi que muita gente descobriu que morava mal e decidiu mudar. Também viu que o que tinha aplicado no banco já não rendia o suficiente para pagar o aluguel de luxo. Imóvel voltou a render mais. Além disso, o setor identificou necessidades e já incluiu espaços como varanda office e concierge como serviços de portaria.

A questão da qualidade do imóvel versus investimento passou a ser relevante durante a covid-19 onde a classe média alta parou de consumir e a obrigação de ficar em casa a fez descobrir novas necessidades.

Detalhes que eram irrelevantes para quem só chegava em casa para dormir passaram a ser determinantes.
Serviços que o cliente tinha fora de casa passaram a ser feitos delivery. Entregas precisaram ser desinfetadas ou não puderam mais ser entregues diretamente. A portaria virou uma barreira de segurança. E esse item veio para ficar.

Maior construtora no Nordeste, a Moura Dubeux reportou no segundo trimestre quatro projetos, com R$ 275 milhões com VGV bruto, em Pernambuco e Ceará, e obteve vendas brutas de R$ 317 milhões. No Recife, o projeto dos edifícios Mimi&Léo Monte, antigo Recife Monte Hotel (BGV de R$ 125 milhões), foi vendido em uma semana.

A MD comprou dois terrenos em Salvador (R$ 68 milhões) e Recife (R$ 58 milhões), mirando novos empreendimentos, sentimento compartilhado por Alberto e Zeferino Filho.

Zeferino Filho revela que a ideia de morar melhor está consolidada. Pela pouca permanência em casa, as pessoas se acostumavam com imóveis que serviam mais de dormitórios. Isso mudou.

Uma das grande novidades que segundo ele estará em todos os projetos é a possibilidade de a varanda ser um ambiente de trabalho. A varanda office virou diferencial de vendas em projetos com quatro quartos. E isso inclui infraestrutura de serviços como um banda larga robusta.

Alberto Ferreira da Costa revela que os novos projetos já atendem necessidades de permanência por mais tempo em casa. O investidor não é tão exigente, mas o que vai morar quer mais comodidades, diz.

O fato novo é esse interesse de quem comprou imóvel de luxo não estar apenas interessado numa sala ampla, numa cozinha gourmet (que agora a família, efetivamente, vai usar), mas de ambiência para maior permanência em casa. Especialmente para as pessoas de mais idade que descobriram que podem gerir negócios em casa e aproveitar mais o tempo com a família.

Até porque voltar a viajar para fora do Brasil com segurança ainda vai demorar um pouco.

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