Neste sábado (24) completa um mês que o Grupo Carrefour Brasil ("Carrefour Brasil") anunciou um acordo com a Advent International e o Walmart para a aquisição do Grupo BIG Brasil S.A. Mas até agora nada mudou e o consumidor ainda continua vendo o Bompreço como Bompreço sem nada que lembre a companhia francesa.
Os dois grupos controlavam a marca Bompreço, muito forte no Nordeste. O Grupo BIG (antigo Walmart Brasil) operava uma rede multiformato de 387 lojas, compreendendo 35 lojas somente para membros sob a bandeira Sam's Club, 107 lojas de hipermercados sob as bandeiras BIG e BIG Bompreço, 99 lojas de supermercados sob as bandeiras Bompreço e Nacional.
Na verdade, a única coisa que mudou foi que nos hipermercados BIG Bompreço o Carrefour reativou o serviço de e-commerce com vendas pela internet.
Quando do anúncio, a Companhia disse que esperava converter parte das lojas BIG e BIG Bompreço para as bandeiras Atacadão ou Sam’s Club. Entretanto, depois de um mês, essas mudanças ainda não foram vistas.
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Esse é uma operação bem interessante no Carrefour. Graças a parcerias com as plataformas de entrega iFood, Rappi, Cornershop, Uber, Uber Eats, Supermercado Now e Americanas Mercado, o Carrefour disponibiliza área dentro dos hipermercados para que equipes dos aplicativos façam essa retaguarda.
No Bompreço, a primeira plataforma a ter lojas foi o Rappi, que já tem espaços de apoio. No Carrefour, essa é uma operação que já está implantada e funciona com grande desenvoltura. Fora desse novo serviço, o consumidor ainda não pôde observar nenhuma mudança.
A aquisição ampliará a presença do Carrefour Brasil porque o Grupo BIG, que possui 387 lojas, 41 mil funcionários, presença em 19 estados brasileiros, registrou R$ 24,9 bilhões em vendas brutas em 2020, a um valor estimado em R$ 7,0 bilhões.
A combinação das operações criou um grupo com vendas brutas de cerca de R$ 100 bilhões e aproximadamente 137 mil funcionários atuando em todos os formatos.
A compra do BIG permitiu a presença do Carrefour Brasil em regiões onde tem penetração limitada, como o Nordeste e Sul do País, que oferecem forte potencial de crescimento. A rede de lojas do Grupo BIG, portanto, apresenta forte complementaridade geográfica.
Mas esse será um novo desafio para uma rede de formato próprio como Carrefour. Ou seja, mudar a visão de uma rede com forte influência do modelo de sucesso francês (Carrefour) que se adaptou aos costumes do Brasil de uma rede com visão americana que nunca entendeu o mercado Brasil.
Na verdade, a operação Walmart sempre foi desastrosa no Brasil. Primeiro porque eles assumiram uma rede com duas culturas muito fortes. O Bompreço no Nordeste, e o BIG na Região Sul.
O problema é que a operação era feita a partir de São Paulo, que é um outro mercado que tem formatos diferentes dessas duas regiões. Na prática, o Walmart americano geria uma rede de três cabeças com pensamentos e visão de mercados diferentes.
Esse desafio era ainda maior no Nordeste, onde a marca Bompreço virou substantivo que designa supermercados. Na Região Sul, fazer compras de alimentos quer dizer ir ao BIG. E as histórias dessas marcas no imaginário coletivo é tão presente que dificilmente deverá ser esquecida ou substituída pelas marcas do grupo francês por muito tempo.
É importante lembrar que, no caso do Bompreço, a companhia, quando controlada pelo João Carlos Paes Mendonça, cujo grupo (JCPM) tem 86 anos de atuação no varejo, foi a maior responsável por todas as grandes inovações no varejo moderno no Norte e Nordeste.
Do supermercado ao hipermercado. Do cartão de crédito de loja (Hipercard) ao pioneiro clube de fidelização (Bom Clube), que fixaram a marca no inconsciente coletivo, que a despeito das mudanças de controladores, nunca deixou de ser um referencial no setor.