Se fazer um bom jornalismo é contar boas histórias, Fernando Menezes, que nos deixou nesta quinta-feira (9) era, certamente, um mestre para centenas de jornalistas que, nos mais de 40 anos em que esteve na atividade, conviveram com com sua bondade e aprenderam a fazer parte dessa estranha tribo que são os jornalistas.
Menezes era tão bom em contar histórias que, mesmo quando a gente ouvia dele as que já tinha contado antes, era como se fosse a primeira vez.
Ele começou e encerrou sua carreira no Jornal do Commercio; chamava o JC de sua casa. E era mesmo.
Feitas as contas, ele passou mais tempo na Redação do JC do que com sua família, que aprendeu a conviver com isso e entendeu que essa era sua vida.
Ele tinha um jeito tão sério de tratar as pessoas, ouvir suas queixas, se meter nas boas articulações para ajudar colegas e profissionais, que certa vez um amigo dele, o publicitário Carol Fernandes, o chamou de “Irmã Paula”. Depois ele explicou que Menezes se especializou na “intriga do bem”.
Nos anos 2000, Fernando ganhou da Redação o apelido de “Vovô Fernando”, depois que sua vida ficou mais iluminada pelas netas. A Redação do JC virou a Redação do Vovô Fernando.
E ele cuidava de cada um de seus colegas como se fossem netos, invertendo o conceito de que se os pais educam, os avós deseducam. Fernando Menezes educava. Chamava num canto e dizia: “O certo é assim. Vá por aqui”.
Claro que nesse relacionamento, alguns acabavam virando os seus “peixinhos”. O problema é que o aquário de Fernando Menezes era grande.
Mas essa era uma marca nossa, da Redação do Jornal do Commercio. No público externo, Fernando Menezes era o cronista internacional experiente, o cronista de Futebol respeitado, a despeito do seu humor fino e cortante, e para a cidade, era o repórter que sempre achava um pauta nova do Recife.
Isso incluía sua tomada de posição sobre o seu Sport Clube do Recife. E exatamente por nunca esconder a condição de torcedor e conselheiro do clube que ajudou em várias campanhas, ele tinha autoridade moral para falar dos demais.
Certa vez ele se envolveu numa matéria sobre o zoo de Dois Irmãos, e o Recife acabou sabendo mais da dieta que os grandes animais comiam do que o parque. Ele fez essa matéria no ano em que completou 75 de vida.
É importante observar que Fernando Menezes cobriu várias Copas do Mundo para o Jornal do Commercio, como cobriu para o mesmo JC a campanha em que o empresário F Pessoa de Queiroz venceu o pleito para senador.
E esteve à frente da Assessoria de Imprensa do governador Moura Cavalcanti, de quem se tornou amigo e tinha grande prestígio por ter sempre a coragem de dizer o que o governador de temperamento explosivo deveria fazer. Anos depois, ele foi assessor de Imprensa do governador Carlos Wilson, com a mesma desenvoltura.
É importante observar a importância de Menezes para o jornalismo, não apenas pela sua crônica esportiva, mas pelo cuidado com as coisas da cidade e do Estado. Pode-se dizer que nenhuma iniciativa em favor do Recife em que a imprensa se envolveu Menezes não tenha participado e tomado posições.
Fora disso, era um bom garfo e apreciava uma boa comida sabendo orientar os mais novos na educação do paladar. Talvez porque sua querida Norma fosse tão cuidadosa com isso.
Numa boa conversa contando histórias, é possível escrever um terabyte sobre Fernando Menezes, seus conselhos e seus ensinamentos. Pena que ele, por força das limitações do Alzheimer, tenha discretamente se ausentado da redação, até nos deixar na manhã desta quinta-feira.
A gente já tinha “uma saudade dos diabos” das histórias de Vovô Fernando. Mas a partir de hoje, a gente vai pode lembrar dele sabendo que como um grande farol, foi se apagando lentamente. Embora sua luz agora brilhe num outro plano de nossas vidas.