Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
castilho@jc.com.br
Coluna JC Negócios

BRT do Recife é fratura exposta da visão do Governo de Pernambuco sobre transporte público

Pernambuco virou o paraíso de aproveitadores de primeira hora para propor todo tipo de soluções

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Fernando Castilho

Publicado em 12/12/2021 às 19:06 | Atualizado em 13/12/2021 às 6:48
Corredor de BRT Leste-Oeste, no Recife - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

O nível de destruição em que se encontra o que sobrou do projeto do BRT (Bus Rapid Transport (BRT) do Recife é um desses fracassos que o Governo do Estado não consegue explicar e que se transformaram numa fratura exposta do estado em que próprio sistema de transporte público por ônibus se encontra, e sobre o qual o poder público faz cara de paisagem todas as vezes em que é cobrado.

Mas ele denuncia também uma concepção de planejamento e visão do que pensam as últimas quatro administrações sobre qual a função do Estado como gestor e agente central do transporte público da RMR e qual o seu papel como indutor do desenvolvimento a partir do suporte ao trabalhador.

O corredor leste-oeste do ônibus BRT, está funcionando de forma regular, mesmo com alguns problemas e falta de manutenção. - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

O governo de Pernambuco transformou a geração de emprego no eixo de sua comunicação, mas sua atuação para isso se limita a fazer o acesso a uma nova fábrica quando a estrada vicinal impede os empregados de chegaram. Ou de isentar o ICMS, considerando isso suficiente para que a estrutura de custos suporte um bom serviço.

O conceito adotado é o de que o preço da passagem paga o serviço de qualidade, embora em anos de pré-campanha eleitoral o padrão seja a não concessão de reajuste da tarifa.

O Estado também é mal pagador dos seus compromissos com o Metrô do Recife, que acaba bancando parte do custo da tarifa. Dinheiro mesmo só para a compra de passagens para estudantes (50% da tarifa) e servidores.

Mas o caso do BRT é mais emblemático. Porque ele revela como o Governo de Pernambuco entendeu de colocar um sistema de transporte sem estudos consistentes do custo da implantação e de manutenção.

Na verdade, da ideia à entrega das primeiras estações, o Estado foi sempre o contratante de terceirizados. O Estado recebeu a proposta, o modelo conceitual, o projeto básico e modelo de estações de consultorias. Ou seja, da proposta à inauguração a fiscalização foi de empresas contratadas.

O governador Eduardo Campos na obra do BRT - GOVERNO DO ESTADO

Naturalmente, sem uma ação do Estado - cuja única exigência seria a entrega antes da Copa de 2014 - Pernambuco virou o paraíso de aproveitadores de primeira hora para propor todo tipo de soluções.

Talvez a única participação efetiva do setor público no projeto do BRT tenha sido a definição do traçado. E a licitação para contratação do consórcio que iria operar os ônibus que deveriam atender as estações. O resto foi tudo terceirizado.

A obra custaria R$ 131 milhões e deveria ficar pronta no primeiro trimestre de 2013. Teve a licitação no Diário Oficial do Estado, edição de 27 de setembro de 2011, sendo vencida pelo consórcio responsável pelo corredor: o Mendes Júnior / Servix. O sistema, como se sabe, nunca foi concluído.

Mas teve festa quando o governo de Pernambuco começou mais uma obra de mobilidade urbana voltada para a Copa do Mundo de 2014: o corredor Norte-Sul, via expressa para ônibus que vai cortar a região metropolitana do Recife.

Foi nesse dia em que o governador Eduardo Campos foi conferir os trabalhos iniciados no km 42 da BR-101, em Cruz de Rebouças, Igarassu. A obra atrasou e a inauguração das duas primeiras estações no dia 3 de maio 2014, um mês antes da Copa do Mundo.

O Governo chamou sistema de Via Livre, tem capacidade que varia de 150 a 160 passageiros, equipado com ar-condicionado, câmbio automatizado e motor central. Ele liga o terminal de Camaragibe, na Região Metropolitana, até o Derby, passando por 25 estações. O sistema inteiro teria 33 mas que nunca forma concluídas.

Na época o govenro do Estado falou numa nova concepção de Transporte Rápido de Ônibus (TRO), o corredor Norte-Sul que integraria a cidade de Igarassu à estação Central do metrô, no Recife. Ao passar por Olinda, ganhará um viaduto e um elevado nos Bultrins e outro elevado em Ouro Preto.

Uma coisa que sempre chamou a atenção foi como o sistema se sustentaria?

A começar pelo custo das 33 estações embora elas não tenham sido entregues. As estações com ar-condicionado central só têm semelhante em Dubai (Emirados Árabes).

Obras atrasaram desde o começou. Sistema nunca ficou pronto. - DIVULGAÇÃO
 

Um relatório do TCE apontou 1.200 itens contidos em cada uma delas. Ninguém se preocupou com isso na hora da definição da obra em 2011.

Outra coisa é o custo do sistema para o operador. Ou seja, como seria a remuneração do consórcio vencedor já que a passagem cobrada não supria a deficiência.

Um ano depois as obras já tinham orçamento de R$ 151 milhões em investimentos e devem ficar prontas em 18 meses. O percurso de 33,2 km ligando as 33 estações aos a quatro terminais: Igarassu, Abreu e Lima, Pelópidas Silveira e PE-15.

O corredor Leste/Oeste do BRT, principal obra da matriz da Copa, não teve o desempenho que se previa inicialmente. Na Copa do Mundo das 28 estações do corredor, sendo 16 no padrão BRT e 12 provisórias, apenas duas serão usadas.

A Copa do Mundo aconteceu, o sistema nunca ficou pronto eo resultado está a matéria de Roberta Soares publicada na edição do Jornal do Commercio Digital.

Na verdade, o sistema não se paga. E mais ainda com os custos de manutenção das estações. Além disso com o passar dos tempos os ônibus que não trafegam em corredores segregados tiveram sua vida útil reduzida.

A pandemia se encarregou de destruir as estações e hoje o governo tenta recuperar algumas sem previsão de concluir o sistema. Este ano as empresas operadoras trocaram os veículos duplos de três eixo por veículos comuns descaracterizando o que se poderia chamar de BRT

A ideia vendida na época de transportar até 125 mil passageiros dia nunca se efetivou em parte porque as 33 estações nunca ficaram prontas.

Mas o problema está na origem. O Governo de Pernambuco se recusa colocar mais dinheiro no sistema e avalia que a passagem tem de pagar os custos por que dá subsídio para o combustível através da isenção do ICMS

Isso acaba desiquilibrando o sistema já que a conta não fecha. Como não fecha a do Metrô, como não fecha a manutenção do SEI que nunca teve atenção dos Governo do PSB cujo discurso de apoio ao trabalhador fica só no discurso mesmo.

Em tempo de eleição.

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