Internações de vítimas do trânsito aumentam 725% em PE

Publicado em 04/06/2019 às 8:00
Colisão ocorreu em 2017 Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem


Foto: Arnaldo Carvalho/JC Imagem

 

É preciso ver além do óbvio, do que todos geralmente conseguem ver. Foi isso que fez o Conselho Federal de Medicina (CFM), dentro daquele que é seu papel, é lógico, quando divulgou recentemente a pesquisa sobre o custo com os feridos em “acidentes de trânsito” – muitos não são acidentes, é preciso sempre registrar – para a saúde pública do Brasil na última década. Um prejuízo de R$ 3 bilhões pago pelo cidadão brasileiro, não esqueçam. O CFM foi além numa tentativa de chocar o País pelo aspecto financeiro, já que a média de 30 mil a 40 mil mortes anuais nas avenidas e estradas do País não incomodam mais. Ou incomodam pouco. O levantamento mostra que foram 1,6 milhão de feridos e mutilados entre 2009 e 2018. E, por ano, uma média entre 125 mil e 182 mil mensais. É como se, a cada hora, 20 pessoas dessem entrada em uma unidade de saúde feridas gravemente no trânsito brasileiro. Chocados?

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E Pernambuco não fugiu à regra da mutilação evitável – podemos definir assim porque, com certeza, muitos desses feridos estavam em episódios que poderiam ter sido evitados. Ao contrário, teve destaque negativo no ranking do CFM e foi o segundo Estado brasileiro, proporcionalmente comparando (número de habitantes), a registrar o maior crescimento no número de internações hospitalares: um salto de 725% na última década. Ficou atrás apenas de Tocantins, na Região Norte do País, que teve o pior cenário de todos: saiu das 60 internações, em 2009, para 1.348, no ano passado (aumento de 2.147%). No País como um todo, houve um crescimento de 33% na quantidade de internações entre 2009 e 2018.

 

Os números ruins de Pernambuco não param por aí. O alto custo pelos seus mutilados nos últimos dez anos chegou a R$ 65 milhões. Quantia gasta para cuidar dos ferimentos de 56.342 pessoas. Pernambuco ficou em 10º lugar no ranking do Estados que mais registraram internações e em 11º quando o foco são os custos. No recorte de Nordeste, o Estado ocupa a 4ª posição entre os que mais tiveram internações de vítimas do trânsito. A região Nordeste, aliás, só perde para o Sudeste, que respondeu, em números absolutos, por 43% do volume total de internações registradas no SUS na última década. Mas lembrando que a região reúne metade da frota de veículos automotores do País. O Nordeste respondeu por 28% dos casos graves.

Ou seja, o CFM mostrou que razões não faltam para que a sociedade fique, ao menos, incomodada com a violência no trânsito.

Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem

 

ESTÍMULO AO AUTOMÓVEL E MOTOCICLETA COMO VILÃO

O que precisa ser destacado é o que todos que vivem e lutam pela mobilidade urbana nas cidades sabem decorado e vivem alertando: o estímulo ao transporte individual – automóvel e motocicleta – é a nossa sentença de morte. E é paga por todos. Os anos mais impactantes para a saúde pública foram exatamente os de maior incentivo à compra de automóveis e motos. Na década analisada pelo CFM, vemos um crescimento no número de feridos e mutilados no Sistema Único de Saúde (SUS) a partir de 2010, avançando cada vez mais em 2011, 2012, 2013, 2014, chegando até 2017 em alta.

Compreensivel, já que o Estado tem hoje uma frota superior a 3 milhões de veículos. E que, embora venha tendo uma leve redução no percentual de crescimento, continua crescendo.

Quando observamos os números ano a ano, Pernambuco também reflete a associação entre estímulo à compra de carros e motocicletas com o aumento das internações provocadas pelo trânsito. A explosão no Estado é ainda mais condensada nos anos em que o governo federal ampliou o crédito direto ao consumidor para aquisição de automóveis e motos em até 72 meses e 36 meses, respectivamente. Em 2009, 845 vítimas do trânsito foram internadas com ferimentos no Estado. Dez anos depois, em 2018, foram 6.969 internações.

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