Não vamos aqui dizer que o recapeamento e requalificação de ruas e avenidas não é importante, ainda mais quando são corredores viários por onde circula o transporte público. Mas é fato que o Recife, assim como todas as cidades brasileiras - grandes, médias ou pequenas -, seguem priorizando os investimentos públicos para o tráfego dos automóveis. Eles seguem em primeiro lugar. Nunca deixaram de estar. Apesar de estarmos avançando, com uma sociedade que dá sinais de desapego à propriedade e ao status que historicamente foi e é associado ao carro, o caminho ainda é longo.
Prefeitura do Recife vai gastar R$ 40 milhões para recuperar ruas e avenidas da cidade
Essa constatação se confirma quando comparamos os investimentos feitos pela capital pernambucana para a circulação de veículos individuais, para a mobilidade ativa (pedalar e caminhar) e para a priorização do transporte público coletivo por ônibus. Fica claro que os automóveis seguem tendo prioridade na gestão da Prefeitura do Recife. É fato que a capital nunca teve uma infraestrutura cicloviária tão ampla como agora, apesar da ausência de conexões entre as rotas e a dificuldade de implantá-las nas grandes avenidas, onde falta segurança para o ciclista circular. E que também levamos oito anos para chegar a quase 160 km de ciclofaixas, ciclorrotas e algumas ciclovias.
Também é fato que a cidade nunca teve um programa de requalificação de calçadas como o criado pelas gestões do PSB à frente do município - o Calçada Legal, que já requalificou 49 km de calçadas e passeios públicos desde 2013. Assim como foi a mesma gestão quem implementou as Faixas Azuis para os coletivos, fazendo a cidade alcançar 60 km em oito anos. Mas é pouco. O transporte público e a mobilidade ativa precisam de muito, muito mais. Enquanto a pavimentação de vias receberá R$ 40 milhões em seis meses, as calçadas receberam R$ 25 milhões em quatro anos, a ciclomobilidade e as Faixas Azuis contaram com R$ 16 milhões em dois anos. E têm a promessa de mais R$ 6,5 milhões para o segundo semestre de 2021.
O prefeito João Campos anunciou na semana passada que investirá R$ 40 milhões na pavimentação de ruas e avenidas do Recife. Sabemos que esses recursos irão beneficiar, direta e indiretamente, o ônibus que circula por essas vias e a ciclofaixa existente ou que venha a ser implantada nelas, mas não é um investimento direto. Os corredores viários que serão atendidos com esses recursos, inclusive, ainda não foram sequer definidos.
Confira os valores investidos pela PCR e tire suas próprias conclusões:
COMPARAÇÃO DE INVESTIMENTOS
Requalificação de ruas e avenidas:
Investimentos: R$ 40 milhões (Apesar do anúncio do prefeito João Campos, na semana passada, os corredores viários beneficiados ainda não foram selecionados)
Implantação e requalificação de calçadas:
Projeto Calçada Legal
Desde 2017 em andamento, depois de uma paralisação do projeto quando foi lançado em 2011
Total de investimentos: R$ 105 milhões para 134 km de calçadas e 56.300 m2 de largos
Mas até agora investiu: R$ 25 milhões na requalificação de 49 km de passeios públicos. Outros 14 km estão em obras
Total: 63 km dos 134 km previstos
Implantação de ciclofaixas e ciclovias/Faixa Azul para ônibus/Urbanismo tático
Investimentos em sinalização viária:
Em 2019, R$ 7,7 milhões
Em 2020, R$ 8,5 milhões
Total em dois anos: 16,2 milhões
Para o segundo semestre de 2021, estão pactuados:
R$ 6,5 milhões em expansão da rede cicloviária, das áreas de urbanismo tático, Faixa Azul e manutenção de sinalização viária
Sendo:
R$ 3 milhões para expansão da malha cicloviária (incluindo as obras necessárias)
R$ 600 mil para as áreas de urbanismos tático
R$ 200 mil para serviços de Faixa Azul
R$ 2,7 milhões para manutenção de sinalização (incluindo serviços de ordenamento de trânsito nos bairros e sinalização de áreas escolares)
CONFIRA O ESPECIAL MULTIMÍDIA PELO CAMINHAR
CONFIRA O ESPECIAL MULTIMÍDIA ELES SÓ QUERIAM PEDALAR
CONFIRA O ESPECIAL MULTIMÍDIA O EXEMPLO DE FORTALEZA
CONSEQUÊNCIAS
As décadas de privilégio ao uso de veículos motorizados restringe cada vez mais os espaços para as pessoas. E, como mostra esse quadro desenvolvido pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil), toda a sociedade paga por esse padrão de deslocamento a motor e prioritariamente individual.
Algumas pessoas, aliás, ainda pagam mais do que outras porque os impactos ambientais e sociais gerados pelo uso excessivo de veículos particulares afeta especialmente crianças, mulheres, idosos, pessoas com deficiência e pessoas pobres e negras.