O Litoral Norte de Pernambuco é o oposto do Litoral Sul. De forma geral, o acesso à região é bem melhor do que o disponível no Sul e, por enquanto, segue gratuito para a população. Mas a infraestrutura das praias deixa muito a desejar. Em algumas, a favelização chegou à faixa de areia, como é o caso da Ilha de Itamaracá, uma das praias mais famosas de todo o Estado. Badalada e concorrida no passado, hoje acumula problemas urbanos típicos de uma cidade de médio porte.
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Embora as estradas sejam relativamente boas e ainda não exista pedágio, de forma geral, a infraestrutura das praias tem um aspecto desarrumado, que foi potencializado pela crise econômica da pandemia de covid-19. O que já estava maltratado, ficou ainda mais. Entre as praias que o JC visitou, e que são as mais procuradas da região, isso foi uma constante. Itamaracá, mais uma vez, se destaca. Muitas das ruas de acesso à Praia do Forte Orange são pura lama e obstáculos, quase intrafegáveis. Em Ponta de Pedras, principal destino do Litoral Norte, as vias de terra que dão acesso às casas de veraneio também estão assim. Com a gravidade de que, diferentemente de Itamaracá, que tem um sistema viário mais estruturado, com ruas principais pavimentadas, o acesso ao Norte de Ponta de Pedras é todo de estradas de terra.
Há trechos em que até veículos com maior tração correm risco de atolar, como aconteceu com o auditor fiscal André José da Silva, que está construindo uma casa na praia e ficou preso na lama das vias. "A infraestrutura é muito ruim e não condiz com o porte financeiro de Goiana. Estamos falando de um município com boa arrecadação e que tem apenas quatro praias (Ponta de Pedras, Carne de Vaca, Catuama e Barra de Catuama). Era para haver muito mais investimento. É inadmissível que Ponta de Pedras não tenha uma avenida asfaltada no acesso ao pontal, por exemplo. São todas de terra e em condições precárias”, critica.
A Praia de Jaguaribe, em Itamaracá, não sofre com a qualidade das vias porque já tem um sistema pavimentado, mas a favelização da beira-mar é um problema crescente. As invasões que começaram há mais de dez anos seguem no local sem que a Marinha do Brasil e a prefeitura consigam fazer muito para evitar. O resultado são moradias irregulares na faixa de areia, com a destinação errada de resíduos para o mar, além de outros improvisos como roupas secando à beira-mar para turistas, veranistas e frequentadores verem.
É claro que, assim como no Litoral Sul, os problemas ficam mais evidentes para os visitantes mais atentos. Ou para os veranistas e frequentadores assíduos. Mas é impossível não perceber a urgente necessidade de arrumação que essas áreas precisam antes que seja tarde demais.
Essa pressa defendida na reportagem se justifica no apelo desesperado do comerciante da Praia do Forte Orange, na Ilha de Itamaracá, José Romildo, que chorou diante do JC num apelo à prefeitura para que ajude os quiosques instalados no local a sobreviverem ao avanço do mar. Unidos, os comerciantes já gastaram R$ 1.400 com paliativos à força da natureza. Vêem a hora perder tudo. “Não há mais nem um metro de distância entre o mar e meu bar. Estamos desesperados e improvisando barreiras com sacos de farinha e pedaços de concreto. Já apelamos ao prefeito e a secretários para nos ajudarem, mas o projeto de contenção do mar não vinga. De dois anos para cá o mar cresceu demais. E com a pandemia o movimento caiu muito”, relata.
SEM INFRAESTRUTURA
Em Carne de Vaca, a “prima pobre” das praias de Goiana - como definiu um veranista local ao JC -, a situação de abandono permanece. O improviso dos pequenos comerciantes que dependem da praia é grande. Já era antes da pandemia e, com a crise sanitária e a perda de 90% do movimento, a luta para sobreviver tem sido bem maior. “A infraestrutura da orla deixa muito a desejar. Não temos como negar isso, infelizmente. A Praia de Carne de Vaca é a prima pobre de Goiana porque toda atenção da prefeitura é dada a Ponta de Pedras e Catuama. Sempre foi assim. Chegar é fácil, verdade, mas a praia sofre até com o lançamento de esgoto pelo Canal Maceió, sem que uma solução seja dada”, lamenta o veranista Roberto Barbosa.
Em Ponta de Pedras, os 14 bares localizados no calçadão - o trecho mais bem organizado da praia - seguem aguardando a requalificação das estruturas, que foi iniciada um pouco antes da pandemia e suspensa por problemas no contrato. Segundo os comerciantes, a cobertura das construções foi feita com telhas inadequadas para a beira-mar.