A restauração dos 130 quilômetros da BR-232 entre o Recife e Caruaru, no Agreste de Pernambuco, começará ainda este ano, provavelmente no mês de setembro. Pelo menos essa é a expectativa e o desejo do governo de Pernambuco.
A reconstrução, que já foi calculada em R$ 100 milhões entre 2019 e 2020, agora está com uma previsão orçamentária de até R$ 300 milhões.
São 16 anos desde a duplicação do trecho, no valor de R$ 400 milhões - recursos da privatização da Celpe.
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Segundo a Secretaria de Infraestrutura de Pernambuco (Seinfra), o projeto de engenharia que antecede a contratação das obras está sendo elaborado.
Será submetido para análise do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), órgão do governo federal que valida a intervenção - mesmo ela sendo de responsabilidade do governo estadual -, para depois ser lançada a licitação para contratação da empresa que fará as obras.
“Vamos refazê-la por completo, aproveitando o que está bom e refazendo o que está ruim. Temos cuidado da rodovia e não há como negar que ela está muito melhor do que antes. Aliás, como nunca esteve há muitos anos. Mas a restauração é uma necessidade”, explica a secretária de Infraestrutura de Pernambuco, Fernandha Batista.
“O projeto sendo aprovado pelo Dnit, lançamos a licitação em maio, para conseguir iniciar as obras em setembro. É uma intervenção que levará, no máximo, três anos”, informa.
Atualmente, existe um convênio firmado entre o governo de Pernambuco e o Ministério da Infraestrutura, fruto de uma emenda de bancada de R$ 52 milhões. Esse valor seria ideal para o início dos trabalhos em 2022.
“A obra completa, no entanto, deverá custar entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões, a depender das variações dos preços dos insumos (petróleo). Não temos como fechar um valor agora devido aos aumentos que antes eram anuais e passaram a ser mensais. Mas os recursos serão de emendas e sob responsabilidade do Estado”, reforça Fernandha Batista.
Segundo a Seinfra, os trabalhos de restauração serão divididos em etapas e a primeira delas será o trecho de 40 quilômetros a partir do Recife.
“Queremos otimizar a estrutura que a rodovia tem e garantir que ela tenha capacidade para receber a carga que recebe. Seja usando camadas de concreto ou de asfalto. Como já disse, vamos manter o que está bom e retirar o ruim”, finaliza.
ALERTAS PARA NÃO REPETIR ERROS HISTÓRICOS
No fim de 2020, diante da expectativa de restauração da BR-232, o JC foi em busca dos caminhos corretos que o processo deveria seguir para que os pernambucanos não venham a pagar, de novo, por uma terceira “nova BR-232”, digamos assim.
Procedimentos, análises, estudos e escolhas que precisariam ser adotados para que erros que desperdiçaram o dinheiro público anteriormente não voltem a acontecer, como a ausência de um dreno ao longo dos 130 quilômetros da rodovia que agora serão refeitos, 16 anos depois de entregues duplicados.
Além dos equívocos na duplicação da BR-232, o Estado acumula outros erros que justificam um monitoramento maior por parte da sociedade de forma geral. É importante lembrar a situação da restauração do contorno urbana da BR-101 na Região Metropolitana do Recife, que foi investigada pela Polícia Federal e já virou processo judicial com oito denunciados.
Apura-se a prática de desvios de recursos públicos destinados à obra de requalificação da rodovia com a conivência de órgãos públicos. Adiada por pelo menos duas décadas, a restauração do contorno urbano da BR-101 - contratada por R$ 192 milhões - começou estranha, quando, sob o argumento de economia, o governo federal descartou a troca do pavimento por concreto. Optou pelo asfalto.
Alguns dos atores que embasaram esses alertas são os mesmos que alertaram sobre a qualidade da restauração do contorno da BR-101. A Associação Brasileira de Engenheiros Civis em Pernambuco (Abenc-PE) e o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura de Pernambuco (Crea-PE).
PONTO A PONTO DOS ALERTAS
PAVIMENTO
A solução de pavimento que o poder público irá escolher é, como tem que ser, o ponto de maior atenção. Abenc e Crea-PE alertam que deve-se optar, independentemente de valor, pelo concreto. O pavimento rígido, como é chamado, é o recomendado para a rodovia, eixo estruturador de Pernambuco, para onde o Estado cresce e se desenvolve.
Uma estrada de tráfego intenso e pesado. Somente entre Recife e Caruaru são 30 mil veículos - muitos de carga - trafegando por dia. Há períodos em que esse volume aumenta em 40% - como nas festas juninas e da Semana Santa.
Por isso, o pavimento rígido é o melhor. O pavimento de concreto tem vida útil mínima de 20 anos, enquanto o flexível (asfalto) dura, com a devida manutenção, no máximo dez anos. Discordam da solução adotada na restauração do contorno da BR-101 na RMR e dizem que será desperdício de recursos adotá-lo na 232.
DIAGNÓSTICO
As entidades alertam que, antes mesmo da contratação do projeto executivo da restauração, o correto seria realizar um diagnóstico da situação da rodovia. Essa análise poderia ser feita pela própria equipe do DER-PE, por exemplo, ou ser contratada via licitação.
É um levantamento preciso dos problemas e desgastes da BR, fundamental para guiar e baratear o projeto executivo. Existem equipamentos específicos (como o FWD) para fazer esse diagnóstico e projetar, com precisão, o tipo e a quantidade de peso que os pavimentos suportam.
O FWD é um equipamento que identifica as alterações de pavimentos rígidos e flexíveis, simulando o impacto de uma roda em movimento, utilizando aplicação dinâmica de cargas.
A secretária Fernadha Batista garantiu que todas as recomendações foram seguidas pelo governo de Pernambuco.
VARIANTES
Outra recomendação feita pelos engenheiros é em relação à implantação de variantes, como são chamados os contornos que as rodovias devem fazer quando cortam áreas urbanas dos municípios.
Passa por fora dos centros urbanos. Esse contorno contribui com a segurança viária porque reduz o volume de travessias na estrada e também pode representar vantagem para o comércio local, que deixa de ser dividido pela rodovia.
A Abenc e o Crea-PE entendem que é a oportunidade de fazer o que foi feito na cidade de Vitória de Santo Antão, durante a duplicação da 232, quando foi implantada uma variante e a rodovia passou por fora do município.
PLANO DE CIRCULAÇÃO
É fundamental, segundo os engenheiros, que a obra de restauração tenha um plano de circulação e que ele seja bem feito, elaborado e divulgado com antecedência. A restauração será uma obra impactante, executada num eixo estruturador que não pode parar.
A recomendação é que o chamado plano de ataque preveja a criação de várias frentes de trabalho para minimizar o impacto. Assim, haverá pequenos congestionamentos e, não, o que se viu na restauração do contorno da BR-101 na RMR, quando além de quilômetros de retenções, houve a migração do tráfego para as vias do Recife, sobrecarregando o sistema viário local.
Os engenheiros defendem que a obra levará, com certeza, três anos, e que, por isso, precisam ser criadas alternativas como as estradas de serviço ou a utilização do canteiro central como alternativa, por exemplo. Eles lembram que a BR-101 não teve esse plano de circulação.
CONTROLE DE CARGAS
O controle do peso das cargas é outro requisito fundamental apontado pelos engenheiros e que deve ser adotado para a rodovia depois da restauração.
A sobrecarga é uma das infrações de trânsito (pode ser média, grave e gravíssima de acordo com o excesso de peso) que mais contribuem para o desgaste precoce das estradas e acidentes, como os tombamentos.
A BR-232 chegou a ter áreas para instalação de balanças fixas, que nunca foram instaladas.