Não é agradável fazer essa análise, mas lá vai: quem ainda acredita em datas como o Dia Mundial Sem Carro e a Semana Nacional da Mobilidade, anteriormente definida como Semana Nacional do Trânsito? Talvez, apenas as pessoas que diariamente lidam de alguma forma com o setor. A população em geral ignora.
E não é para menos. O Brasil finge que se preocupa com a segurança viária nas ruas e avenidas do País. Uso o verbo fingir porque quem está envolvido diariamente com o trânsito e a mobilidade urbana em geral sabe: são inúmeras as dificuldades que as gestões públicas enfrentam o ano inteiro para investir na mobilidade urbana, especialmente a coletiva e sustentável.
Seja para ampliar o serviço de transporte público e a prioridade a ele nas ruas das cidades, ampliar a malha cicloviária, reduzir a velocidade das vias ou investir em tecnologia para fiscalização do trânsito. Essa é a realidade o ano inteiro.
O Dia Mundial Sem Carro é lembrado nesta quinta-feira (22/9) e a Semana Nacional de Mobilidade entre os dias 19 e 23/9.
As duas datas viraram símbolo de uma mobilidade quase utópica atualmente porque, no resto do ano, a mobilização do poder público pelo setor é pífia. Em todo o País. São datas excelentes para a realização de blitzes educativas, webinários ou para anunciar pequenas ações e iniciativas que, na maioria das vezes, se perdem no tempo.
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Funcionam mais nas redes sociais do que na vida prática de um Brasil cujo trânsito ainda mata 32 mil pessoas por ano e mutila de 200 mil a 500 mil por ano, gerando um custo social de trilhões de reais. O custo do trânsito para a saúde pública e a previdencia social é de R$ 1,5 trilhão por ano, segundo estudo do IPEA. Em Pernambuco, é de R$ 6 bilhões. Metade desse valor somente com motociclistas.
Infelizmente.
Mesmo assim, o poder público e a sociedade civil organizada promovem inúmeras ações em referência às datas. A Coluna Mobilidade relaciona algumas abaixo:
RECIFE CHEGA A 170 KM DE CICLOFAIXAS E CICLOVIAS
A Prefeitura do Recife entregou nesta quinta-feira (22), o Dia Mundial Sem Carro, uma das novas rotas cicloviárias anunciadas em agosto. A Ciclofaixa Francisco Trindade fica no bairro de Campo Grande, na Zona Norte da capital, e tem apenas um quilômetro de extensão. Mas como alega a CTTU, se conecta com outros equipamentos ampliando a malha.
A principal conexão será com a Ciclofaixa Correia de Brito. Com ela, o Recife atinge a marca de 170 km de rotas cicloviárias. A região de Casa Amarela e a Rua das Oficinas, no bairro do Pina, também ganharam sinalizações de urbanismo tático para garantir áreas de trânsito calmo.
CAMPANHA CONTRA VELOCIDADE
Na Semana da Mobilidade, a Prefeitura do Recife iniciou uma campanha de mídia de massa abordando os perigos da velocidade além do limite permitido nas vias. No roteiro, dois personagens sofrem uma colisão em um cruzamento do Recife. O sinistro de trânsito termina sendo agravado pelo excesso de apenas 5 km/h de cada um.
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“O objetivo é mostrar aos condutores que o respeito à velocidade regulamentada na via é essencial e que exceder em apenas 5 km já pode agravar os sinistros de trânsito levando, inclusive, à morte”, explica Tainá Costa, gerente de comunicação da Vital Strategies, organização parceira da Iniciativa Bloomberg para Segurança Viária Global, que está apoiando o município na política de segurança viária.
ÁLCOOL E DIREÇÃO
O Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), referência nacional no tema, fez uma análise para as datas em que confirma o estrago que o álcool ainda provoca no trânsito brasileiro - apesar da Lei Seca.
Os sinistros de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se define. Entenda) seguem sendo a principal causa de internações atribuíveis ao álcool e
a segunda de mortes. As maiores vítimas são homens, entre 18 e 34 anos.
Apesar da Lei Seca, a combinação álcool e direção causam 70 mil internações e mais de 10 mil óbitos anualmente. No Brasil, são registrados 5 óbitos por sinistros de trânsito relacionados ao uso de álcool por 100 mil habitantes. Pernambuco apresenta uma taxa de 4,6 óbitos.
GRATUIDADE NO TRANSPORTE PÚBLICO
Fortaleza, capital do Ceará e a cidade brasileira que mais tem se destacado em políticas públicas de estímulo à mobilidade urbana sustentável e coletiva, é a que anuncia ações mais palpáveis - digamos assim - no Dia Mundial Sem Carro.
Nesta quinta, a Prefeitura de Fortaleza deu uma passagem de ônibus no valor de R$ 3,90 aos passageiros de ônibus que utilizam os bicicletários nos terminais Parangaba, Siqueira, Antônio Bezerra e Messejana.
Também liberou o uso no programa Bicicletar, o Bike PE de Fortaleza, nesta quinta. É necessário apenas cadastrar o Bilhete Único no site do Bicicletar. A ação foi viabilizada pela Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) em parceria com o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus).
PANORAMA DA MOBILIDADE NACIONAL
Um panorama da situação da mobilidade urbana sustentável do Brasil foi divulgado nesta Semana da Mobilidade. O Estudo Mobilize 2022 reúne informações de 27 capitais brasileiras. A nova pesquisa confirmou o que já sabíamos por sentir na pele: houve apenas alguns pequenos avanços para pedestres e ciclistas, enquanto a crise no transporte público se mostrou permanente.
O estudo levantou indicadores sobre a oferta de transportes públicos, infraestrutura cicloviária, além de recursos para o conforto e segurança de pedestres em cada uma das capitais brasileiras. O objetivo foi acompanhar a evolução das cidades em relação às diretrizes da Política Nacional de Mobilidade ( LEI Nº 12.587/2012).
A mobilidade na prática também foi averiguada no trabalho. Os pesquisadores que participaram verificaram os tempos de espera nos terminais, de viagem, condições dos veículos e da infraestrutura, integração entre modos de transportes e também os gastos com os deslocamentos realizados.
O estudo também gerou um Painel de Dados, ferramenta interativa que permite cruzar e comparar as informações e resultados obtidos entre as várias cidades e também com as médias brasileiras.
CONHEÇA O ESTUDO
Estudo Mobilize 2022 by Roberta Soares on Scribd