Já são quase dois anos sem que o Recife anuncie novos corredores de Faixa Azul na cidade. Símbolo do PSB na gestão focada no transporte público coletivo, as faixas exclusivas deixaram de ser implantadas nos corredores da cidade, apesar do impacto positivo dos equipamentos para a operação dos ônibus.
São ganhos de velocidade superiores a 100% em alguns dos 11 corredores implantados desde 2013. E sem falar que a adoção das Faixas Azuis, modelo copiado do Sistema BRS (Bus Rapid Service) do Rio de Janeiro, virou símbolo recifense da mobilidade urbana sustentável. Da prioridade viária do transporte coletivo sobre o individual.
Para quem não lembra mais, as Faixas Azuis são faixas onde os ônibus têm prioridade de circulação. Funcionam apenas durante os dias úteis e, diferentemente dos corredores exclusivos (implantados junto ao canteiro central das avenidas), podem ser utilizadas pontualmente pelos veículos particulares para acessar ruas e imóveis.
O Recife avançou muito e até provocou outras cidades da Região Metropolitana a adotar o modelo, como Jaboatão dos Guararapes e, agora, Olinda (previsto no Programa Novo Caminho), mas parou no tempo. Desde 2021, com a criação da Faixa Azul da Avenida Agamenon Magalhães, na área central da cidade (esperada por mais de três anos), e da Faixa Azul da Avenida Visconde de Jequitinhonha, em Boa Viagem, na Zona Sul, nada mais foi feito.
Quem usa o transporte público lamenta a paralisação do projeto e destaca os ganhos no dia a dia. “A faixa exclusiva faz toda a diferença na viagem. A gente ganha muito tempo. Enquanto os carros ficam presos no congestionamento, os ônibus vão embora. É bom não só para o passageiro, mas também para o motorista. É muito mais rápido”, diz a universitária Maria Clara Fonseca, que utiliza diariamente a faixa exclusiva de ônibus das Avenidas Conselheiro Aguiar e Antônio de Góis.
A capital possui, atualmente, 11 equipamentos em toda a cidade, implantados entre 2013 e 2021, que totalizam 51 quilômetros de extensão. Somados aos 20 quilômetros já existentes, o Recife conta atualmente com 71 quilômetros de prioridade viária aos ônibus.
Em junho de 2020, depois de três anos de promessas e um intervalo de dois anos e meio desde a última implantação, a Avenida Agamenon Magalhães, primeira perimetral do Recife e eixo de conexão com a área central da cidade, ganhou uma Faixa Azul de quatro quilômetros de extensão (dois de cada lado). Um ano depois, o equipamento foi ampliado em 3,2 quilômetros, chegando próximo ao limite com Olinda.
Em setembro de 2021, a última Faixa Azul do Recife foi implantada na Avenida Visconde de Jequitinhonha, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. A região já conta com três corredores com exclusividade ao transporte coletivo: Avenidas Domingos Ferreira, Conselheiro Aguiar, Herculano Bandeira e Mascarenhas de Moraes - o primeiro equipamento da cidade.
São muitas as vantagens da priorização viária para o transporte coletivo. Há Faixas Azuis, como a da Avenida Domingos Ferreira, que tem conexão com a da Avenida Antônio de Góes, nos bairros do Pina e de Boa Viagem, na Zona Sul da cidade, que tiveram ganhos de 118% na velocidade dos coletivos.
Os dados são de antes da pandemia. Até mesmo os trechos mais pequenos do equipamento – há faixas com apenas 580 metros, como a da Antônio de Góes, ou com 1,5 quilômetro como as da Rua Cosme Viana, em Afogados, e Real da Torre, na Torre e Madalena – têm resultados positivos que alcançaram de 20% a 30% de aumento de velocidade. E, quanto mais rápido o ônibus anda, mais ágil é a viagem.
Dados da Prefeitura do Recife, divulgados em 2021, mostravam que o equipamento da Agamenon Magalhães, por exemplo, proporcionou um ganho de 53,7% na velocidade média dos coletivos no trecho entre o Terminal Integrado Joana Bezerra e a Universidade de Pernambuco (UPE), em Santo Amaro.
No sentido contrário, o ganho era de 25,4%. São 69 linhas circulando na avenida, operadas por 600 coletivos e transportando 250 mil passageiros diariamente.
Valores estimados pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) para implantação de Faixas Azuis mostram que o custo é baixo. O necessário mesmo é decisão política de implantar a prioridade viária dos ônibus.
Fazer um quilômetro de Faixa Azul custaria, em média, R$ 20 mil sem fiscalização e R$ 40 mil com radares. O chamado BRS (Bus Rapid Service), a versão mais barata e, por isso, bem mais prática, do BRT (Bus Rapid Transit), é um sistema que exige apenas sinalização horizontal e vertical nas faixas à direita das vias, sem necessidade de obras ou estudos mais elaborados, como acontece com os corredores segregados no canteiro central das avenidas.
Pelo menos por enquanto, não há qualquer perspectiva de ampliação do projeto das Faixas Azuis no Recife. A reportagem aguarda retorno da Prefeitura do Recife.
O equipamento da Avenida Rui Barbosa, na Zona Norte da capital, e anunciado na segunda gestão do ex-prefeito Geraldo Julio, pelo então secretário de Mobilidade do Recife, João Braga, virou lenda.
Pelas explicações da época, a Faixa Azul seria implantada a partir da Praça de Parnamirim até a altura da Praça dos Manguinhos. O trecho subsequente, até a Agamenon Magalhães, não teria o equipamento devido ao estreitamento da pista.
O setor de transporte público, o mais interessado na ampliação das Faixas Azuis, também lamenta o projeto estar estagnado na cidade. Por nota, a Urbana-PE (Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco) afirmou defender a expansão dos corredores, inclusive com a implantação de faixas exclusivas metropolitanas, que conectariam municípios.
“A Urbana-PE tem buscado soluções para elevar a qualidade do serviço de transporte público na Região Metropolitana do Recife (RMR). O setor não apenas defende a implantação de faixas e corredores exclusivos para o transporte público, como contribuiu efetivamente com projetos e estudos nesse sentido.
A Urbana-PE defende também a criação de corredores metropolitanos de transporte, conectando as faixas exclusivas para ônibus implantadas nos municípios que integram a RMR.
As faixas exclusivas proporcionam avanços importantes na qualidade do serviço de transporte público, reduzindo o tempo de espera e de deslocamento dos passageiros, os sinistros de trânsito e a emissão de poluentes. Importante destacar que a regularidade do serviço de transporte é o ponto mais importante segundo a percepção dos nossos clientes e que a queda de demanda enfrentada pelo sistema está diretamente relacionada com o tempo de viagem.
Desta forma, ampliar as faixas exclusivas é utilizar a malha viária de forma mais inteligente e justa, contribuindo também para o desenvolvimento de cidades mais equilibradas e sustentáveis”.