Como esperado, os motoristas de ônibus da Região Metropolitana do Recife vão entrar em greve no dia 26 de julho (quarta-feira). O movimento foi aprovado e validado pela categoria em assembleias realizadas pela manhã e à tarde nesta quinta (20). A paralisação do serviço de transporte vai prejudicar pelo menos 1,6 milhão de passageiros que dependem do sistema diariamente no Grande Recife.
Se não for revertida com alguma negociação entre rodoviários e empresários de ônibus durante a semana, a greve será a segunda enfrentada pela gestão da governadora Raquel Lyra (PSDB). A primeira é a dos trabalhadores em educação, que aprovaram uma paralisação por tempo indeterminado para começar no dia 25/7, o primeiro dia do retorno dos trabalhadores em educação às aulas, após o recesso de julho.
A aprovação da greve, inclusive, foi por unanimidade nas duas votações, realizadas na sede do Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco, em Santo Amaro, área central do Recife. E acontece ainda no início das negociações salariais, o que evidencia o clima pesado entre as categorias.
“A categoria aprovou a greve, por unanimidade, nas duas votações. Assim, a partir da 0h da quarta-feira (26/7) entraremos em greve. A partir de amanhã vamos fazer uma grande mobilização para o movimento, inclusive com outros sindicatos. E seguimos esperando um posicionamento da Urbana-PE”, afirmou o presidente dos rodoviários, Aldo Lima.
Motoristas e empresários não têm conseguido avançar nas negociações salariais e só fazem trocar acusações. As duas categorias tentaram conversar na manhã da terça-feira (18), no que seria a segunda rodada de negociação entre o Sindicato dos Rodoviários e o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Urbana-PE). Mas não houve avanços. E mais: após o encontro, só houve troca de acusações.
O prazo de quase uma semana para início da greve dos motoristas de ônibus é uma estratégia dos rodoviários para forçar os empresários a apresentarem uma contraproposta às reivindicações salariais da categoria.
A expectativa inicial, segundo os próprios rodoviários, era de que, durante as assembleias realizadas nesta quinta, fosse aprovado apenas um estado de greve e, não, o movimento em si. Pelo menos essa era a defesa do sindicato, segundo o presidente, Aldo Lima. Mas, na primeira votação da assembleia, pela manhã, a categoria aprovou a greve. Decisão que foi validada na votação da tarde.
Na mesma assembleia, os rodoviários também autorizam o sindicato a ajuizar uma ação de dissídio a qualquer momento.
Os rodoviários querem aumento real de 10%, além da inflação, piso salarial para os setores administrativo e de manutenção, aumento do vale-refeição para R$ 600 e da cesta básica para R$ 400, entre outras reivindicações.
O clima está bem tenso entre as duas partes, seja pela campanha salarial que não avança, seja pelo desconto das horas paradas durante a realização de greve da categoria ainda em 2020, no auge da pandemia de covid-19.
Uma primeira rodada de negociações aconteceu no dia 4/7 mas sem avanços. Uma nova reunião estava marcada para o dia 18/7, mas não aconteceu.
Existe, inclusive, a possibilidade de acontecer um movimento de greve dos ônibus junto com o Sindicato dos Metroviários (Sindmetro), segundo os rodoviários. Unidas, as categorias teriam mais força porque comprometeriam a operação do sistema de ônibus do Grande Recife e do Metrô do Recife, afetando 2 milhões de pessoas, em média, por dia.
Os metroviários estão em Estado de Greve desde o fim do mês de abril como pressão para forçar o governo federal a retirar a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) do Plano Nacional de Desestatização (PND), o que não aconteceu mesmo após sete meses do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A categoria está revoltada com a postura do governo federal.
Além disso, a categoria alega que, em junho, a Administração Central da CBTU sentou com os sindicatos do Recife, João Pessoa, Maceió e Natal e fechou uma proposta de Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), que agora diz não poder cumprir porque o governo federal não aceitou.
VAI TER GREVE dos RODOVIÁRIOS? Entenda
A minuta previa um aumento de 15% no salário base da categoria, que passaria de R$ 2 mil para R$ 2.725 e a garantia de emprego no caso da concessão pública ou da privatização do Metrô do Recife. Mesmo pedindo 25%, a categoria teria cedido à proposta.
Por nota, a CBTU Recife informou que submeteu o ACT ao governo federal e que ele não foi autorizado. “Em relação ao Acordo Coletivo 2023/2024, a CBTU submeteu, para apreciação à Secretaria de Coordenação das Estatais (SEST), a proposta que foi discutida conjuntamente com os sindicatos. No entanto, a proposta não foi aprovada e as negociações continuam em andamento”.
Os empresários de ônibus criticaram a aprovação da greve dos rodoviários no Grande Recife e garantiram que vão acionar a Justiça do Trabalho para minimizar os transtornos provocados pelo futuro movimento.
Confira a nota da Urbana-PE na íntegra:
"A Urbana-PE lamenta a conduta do Sindicato do Rodoviários durante as negociações coletivas deste ano que resultaram na deflagração de greve da categoria.
As lideranças rodoviárias tentaram inviabilizar qualquer tipo de entendimento entre as partes, apresentando propostas com contradições e incertezas, o que foi reconhecido pelo próprio advogado dos rodoviários, postulando reajustes de mais de 100% em diversos itens, comparecendo à negociação sem os seus advogados, pedindo adiamentos e se recusando a agendar novas reuniões.
A Urbana-PE reitera que segue disposta a continuar a negociação já iniciada, mas que não admitirá imposições arbitrárias e intimidatórias. A articulação dos rodoviários com o Sindicato dos Metroviários e a constante ameaça de interromper o transporte público da Região Metropolitana do Recife é inaceitável. É uma conduta que evidencia o descaso com a população e com a economia local.
A Urbana-PE tomará as providências necessárias para minimizar os transtornos de eventuais novas paralisações e lembra ainda que várias decisões liminares do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região determinaram que o Sindicato dos Rodoviários se abstenha de impedir o livre acesso dos trabalhadores que desejem exercer as suas atividades e a regular circulação da frota de veículos das empresas operadoras".