ÔNIBUS: prefeitura assume controle financeiro do transporte público no Rio de Janeiro. Em Pernambuco, TCE determinou o mesmo

Em Pernambuco, TCE determinou que aconteça o mesmo com o transporte por ônibus do Grande Recife
Roberta Soares
Publicado em 21/07/2023 às 10:36
O novo sistema dará ao município do Rio de Janeiro o controle da arrecadação tarifária e o monitoramento da demanda de passageiros Foto: REPRODUÇÃO


Enquanto Pernambuco ainda assimila a decisão do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE) que determinou que o controle financeiro do sistema de transporte público da Região Metropolitana do Recife voltasse das mãos dos empresários para o governo estadual, o Rio de Janeiro partiu na frente e lançou um sistema de bilhetagem eletrônica digital gerido exclusivamente pela prefeitura.

O novo sistema será operado pela Concessionária Jaé, mas com controle do poder público. Dará ao município do Rio de Janeiro o controle da arrecadação tarifária e o monitoramento da demanda de passageiros. Os cartões Jaé vão substituir o RioCard e já estão em operação no sistema de BRT carioca. A apresentação foi feita pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes, na terça-feira (18/7).

“O que vamos fazer é acabar com a famosa caixa preta no sistema de transporte do Rio de Janeiro. O novo sistema é terceirizado, mas o controle é total da prefeitura. Todos os dados são disponibilizados para o município e atualizados em tempo real”, explicou Eduardo Paes.

"Passaremos a saber a receita do sistema e a demanda de passageiros, além de também ter mais acesso a informações sobre o volume de passageiros da cidade. Com essa gestão mais eficiente e transparente, vamos poder dar mais atenção a locais que precisam de transporte de qualidade”, continuou.

CRONOGRAMA DE IMPLANTAÇÃO

O novo sistema de bilhetagem eletrônica do Rio de Janeiro começará com o BRT e, em novembro, deverá ser ampliado para o sistema de ônibus convencional. Segundo a prefeitura, até lá não será possível fazer integração do BRT com os outros modais. Os usuários que têm o cartão do atual sistema, operado pela Riocard, não precisam se preocupar. Por enquanto, ele continuará a ser aceito normalmente no BRT.

DIVULGAÇÃO - Novo sistema de bilhetagem eletrônica do Rio de Janeiro

“Começamos, desde a quarta-feira, uma transição tranquila, em que o usuário terá muito tempo para se adaptar e trocar de cartão, algo que só vai acontecer, obrigatoriamente, no ano que vem. Os validadores já começaram a ser ligados nas estações, é uma fase de testes, porque sabemos que é um sistema complexo. Queremos que ele seja bem testado para começar em todos os modais, em novembro, com o sistema perfeito”, explicou a secretária de Transportes, Maína Celidonio.

Estações e terminais do BRT já estão equipados com novos validadores e máquinas de autoatendimento (ATMs) para compra e recarga dos novos cartões. “Com o atual sistema, não conseguimos conhecer o nosso passageiro para poder servi-lo melhor, que é o nosso objetivo no sistema BRT. Precisamos de informações melhores sobre origem e destino, para criar novas linhas e mudar os intervalos das viagens”, afirmou a diretora-presidente da Mobi-Rio, que opera o sistema BRT, Claudia Seccin.

“É inaceitável ter um atraso de 40 dias para receber informações fragmentadas enviadas pela Riocard. O Jaé, essa nova era da bilhetagem digital, vai nos ajudar a prestar um serviço melhor aos cariocas”, reforçou.

DIVULGAÇÃO - Novo sistema de bilhetagem eletrônica do Rio de Janeiro

A previsão é a de que a operação do novo sistema comece nos outros modais regulados pelo município (ônibus convencionais, vans e VLT) no dia 1º de novembro deste ano.

FIM DA ‘CAIXA PRETA’ NO SISTEMA DE TRANSPORTE

O modelo é inédito nas capitais brasileiras, mas já adotado em diversos países. Além do controle da arrecadação tarifária e do monitoramento da demanda de passageiros, também permitirá maior transparência financeira, planejamento com dados confiáveis e melhoria dos serviços de transporte.

Com o novo sistema de bilhetagem digital, todo o valor arrecadado vai para uma conta pública administrada pela prefeitura - como foi determinado pelo TCE-PE -, que passará a pagar diretamente os concessionários e permissionários do serviço de transporte da cidade.

DIVULGAÇÃO - "O que vamos fazer é acabar com a famosa caixa preta no sistema de transporte do Rio de Janeiro. O novo sistema é terceirizado, mas o controle é total da prefeitura. Todos os dados são disponibilizados para o município e atualizados em tempo real", explicou Eduardo Paes

Por outro lado, o risco de queda de demanda deixa de ser apenas dos operadores. Para receberem, eles deverão cumprir o plano operacional estabelecido pela Secretaria Municipal de Transportes. Segundo a Prefeitura do Rio, essa mudança de incentivo financeiro dos operadores é um passo fundamental para melhorar a qualidade no serviço de transporte público da cidade.

ENTENDA O NOVO SISTEMA

Além do cartão físico, os passageiros poderão pagar a passagem usando o celular, por meio de QR Code. Os usuários já podem baixar o aplicativo da Jaé ou acessar o site para criar uma conta. Por meio do app, disponível tanto para os modelos de celulares do sistema IOS quanto Android, será possível ver o saldo, extrato, fazer recarga, solicitar, bloquear, cancelar e pedir segunda via do cartão.

Os créditos eletrônicos podem ser comprados no aplicativo por meio de cartão de crédito, débito, PIX ou boleto bancário e já ficam disponíveis para uso instantaneamente. E, nesse sistema, o saldo não expira.

O passageiro poderá comprar o cartão físico Jaé nas máquinas de autoatendimento, que aceitam notas, pix, cartões de débito e crédito. Se quiser vincular este cartão à conta criada da Jaé, ele deve ir a uma loja ou ATM. Vale ressaltar que o valor pago na compra do cartão será automaticamente convertido em crédito para ser usado como passagem.

RECONSTRUÇÃO DO TRANSPORTE PÚBLICO CARIOCA

A nova bilhetagem digital faz parte do processo de reconstrução do transporte público da cidade. A requalificação do sistema BRT foi a principal delas, com destaque para a compra de 561 novos ônibus, reforma de todas as estações, reconstrução da pista do BRT Transoeste em concreto e transformação de quatro estações em terminais.

DIVULGAÇÃO - A Prefeitura do Rio de Janeiro segue apertando os operadores de ônibus da cidade

Também está sendo realizada a obra de construção do Terminal Gentileza, que irá integrar o BRT Transbrasil com o VLT e os ônibus municipais. Outro destaque é o acordo judicial firmado entre a Prefeitura do Rio, o Ministério Público Estadual e os consórcios operadores de ônibus, que possibilitou a retomada de 73 linhas de ônibus na cidade. Este reforço na operação representa a reativação de mais de 630 pontos de ônibus em 18 bairros.

EM PERNAMBUCO, TCE DEVOLVE CONTROLE FINANCEIRO DO TRANSPORTE PÚBLICO AO GOVERNO DE PERNAMBUCO

No fim de junho, a Primeira Câmara do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE) decidiu que o controle financeiro do sistema de transporte público da Região Metropolitana do Recife deverá voltar para o governo do Estado, ou seja, para o Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM).

Desde 2013, o controle financeiro está com o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE), que representa os operadores de ônibus. A decisão foi tomada durante sessão realizada no dia 20/6. A Primeira Câmara julgou regular com ressalvas o objeto de uma Auditoria Especial (Processo TC nº 20100726-5) iniciada em 2021 no CTM para analisar o sistema de transporte público da RMR.

A auditoria apurou indícios de esvaziamento das competências do consórcio e uma atuação excessiva da Urbana-PE, inclusive com a cobrança de taxas, nos exercícios de 2019 e 2020. A relatoria é do conselheiro Marcos Loreto. O CTM é uma empresa pública, sem fins lucrativos, criada em 2007 em substituição à antiga EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos).

Segundo o relatório da Auditoria Especial, a partir de 2013, o Sistema de Transporte Público de Passageiros da RMR (STPP/RMR) passou a ser executado por um sistema misto de delegação do serviço público, dos quais participavam duas concessionárias (Consórcios Conorte e MobiPE, que passaram por licitação) e sete permissionárias (as outras empresas de ônibus que não enfrentaram licitação).

As concessionárias eram remuneradas por um índice estabelecido no contrato de concessão (PRO - Preço de Remuneração ao Operador), para o qual concorrem tanto recursos tarifários, quanto eventuais subsídios governamentais. Já as outras, continuaram sob o regime de remuneração tarifária, através da comercialização de créditos eletrônicos de transporte, sem qualquer subsídio governamental.

DINHEIRO SOB CONTROLE DA URBANA-PE

Segundo explicou o TCE-PE, a equipe técnica da Gerência de Auditoria da Infraestrutura e do Meio Ambiente do tribunal identificou que, em 2019, a Urbana-PE comercializou 99,6% do volume total dos créditos, enquanto o CTM foi responsável por apenas 0,4% do total de R$ 900 milhões de recursos movimentados, mostrando a relevância da atuação do sindicato na comercialização da bilhetagem eletrônica.

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM - Em Pernambuco, a principal determinação é para que a receita obtida com a comercialização da bilhetagem eletrônica seja depositada numa conta do CTM, sem qualquer movimentação via contas bancárias da Urbana-PE

Os auditores do TCE verificaram ainda que as receitas tarifárias da bilhetagem eletrônica eram depositadas inicialmente em contas bancárias de titularidade da Urbana, que fazia os cálculos dos repasses e transferia ao CTM apenas a parte da comercialização da bilhetagem eletrônica das Concessionárias. Em seu voto, o relator acatou os argumentos do conselheiro Eduardo Porto, sugerindo o julgamento regular com ressalvas do processo.

DETERMINAÇÃO PARA QUE AS CONTAS SEJAM EM NOME DO CTM

Sendo assim, a auditoria foi julgada regular com ressalvas, com algumas determinações feitas pelo relator. A principal delas é promover adaptações necessárias no sistema de bilhetagem eletrônica, incluindo as contas bancárias de titularidade do CTM, como a principal e única conta de depósito dos recursos da comercialização da bilhetagem, sem qualquer movimentação via contas bancárias da Urbana-PE.

Só com esse procedimento, entendeu a auditoria, tornaria legal e transparente a gestão dos recursos da bilhetagem. Caberia ao gestor do Consórcio Grande Recife, a partir de então, efetuar o repasse da receita tarifária recebida da Urbana às operadoras do transporte público, como manda o Regulamento do STPP/RMR. Além de manter atualizada a divulgação em seu site dos extratos bancários mensais.

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