O alto custo financeiro e social que as mortes no trânsito provocam no Brasil foi confirmada em mais um estudo nacional. Agora, o levantamento é do Centro de Liderança Pública (CLP) - organização suprapartidária que busca engajar a sociedade e desenvolver líderes públicos.
O estudo calculou que o País perde, em média, R$ 21 bilhões por ano com as mortes no trânsito. Para chegar a esse valor, o levantamento considerou despesas médicas, perda de produtividade e valores associados aos danos e perdas materiais.
O CLP calculou que cada vida humana perdida no trânsito pode significar um prejuízo de ao menos R$ 800 mil. Isso sem considerar os custos sociais que essas mortes têm na comunidade e como podem interferir na trajetória das famílias.
MORBIDADE É MENOS RUIM NO SUL DO PAÍS
O estudo aponta - tendo como base os dados de morbidade nos transportes (impacto dos sinistros de trânsito na população, sem representar, obrigatoriamente, óbitos) citados no Ranking de Competitividade dos Municípios, lançado pelo CLP - que a região Sul do Brasil se destaca como a que apresenta maior número de cidades com menos de 50 internações por sinistro de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se define, segundo a ABNT) por grupo de 100 mil habitantes.
Assim, dos municípios da região com população acima de 80 mil habitantes, 46,38% apresentam morbidade nos transportes abaixo de 50 por grupo de 100 mil. Em nenhuma outra região verifica-se essa quantidade de municípios com morbidade nos transportes abaixo de 50.
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A segunda região com melhor desempenho nesse recorte é o Nordeste, a qual apresenta pouco mais de ¼ de seus municípios com população superior a 80 mil habitantes com morbidade nos transportes abaixo de 50.
AUMENTO EM RELAÇÃO A 2020
Importante ressaltar também que nas regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste ocorreu aumento do número de municípios com taxas de internação decorrentes de sinistros de transporte acima de 150, quando comparada as edições de 2020 e 2023 do Ranking dos Municípios.
Assim, em 2020, as regiões mencionadas acima apresentavam, respectivamente, 18,58% , 25% e 46,43% de seus municípios, de acordo com o critério populacional utilizado pelo CLP, com morbidade nos transportes acima de 150. Já na edição de 2023, esses números passaram para 24,87%, 31,11% e 57,14%.
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Nesse sentido, quando analisamos o conjunto total de cidades presentes na amostra, notamos que o número de municípios no País com morbidade nos transportes acima de 150 passou de 23,70% em 2020 para 29,23% em 2023.
MORTALIDADE É MENOR DO SUDESTE
Em termos de mortalidade nos transportes (contabilizados os óbitos), a região com melhor performance é a Sudeste, na qual menos de 20% das cidades apresentaram mortalidade acima de 20 por grupo de 100 mil.
Sendo que em todas as demais regiões o número de municípios com mortalidade nos transportes acima de 20 ficou próximo ou passou de 40%, chegando a 57,14% no Centro Oeste, 44,74% no Norte, 38,57% no Sul e 42,22% no Nordeste. Importante destacar também que o Nordeste apresentou elevação do número de municípios com mais de 80 mil habitantes que apresentam mortalidade no transporte acima de 20, tendo passado de 36,36% cidades na edição de 2020 do Ranking para 42,22% na edição de 2022.
De modo geral, analisando todos os municípios presentes na amostra, nota-se que o número de municípios com menos de 10 óbitos decorrentes de sinistros de transporte por grupo de 100 mil aumentou no comparativo entre as edições de 2020 e 2022 do Ranking saindo de 26,67% para 29,88%. Nota-se também que o número de municípios com mortalidade no trânsito acima de 20 reduziu-se no mesmo comparativo saindo de 35,31% do total da amostra em 2020 para 32,29% em 2022.
E quando a comparação é feita em relação a países desenvolvidos, a partir de dados da OMS, o levantamento constata que o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer, apresentando taxas de mortalidade nos transportes estruturalmente mais alta.
TRÂNSITO MATA 1,35 MILHÃO DE PESSOAS POR ANO NO MUNDO
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,35 milhão de pessoas morrem anualmente em sinistros de trânsito no mundo. No Brasil, a taxa é de 16,1 mortes por 100 mil habitantes. Na comparação, o País está acima de países vizinhos como Chile (14,9), Uruguai (14,8), Argentina (14,1) e Peru (13,6), e atrás de outros como Bolívia (21,1), Paraguai (22) e Venezuela (39,0).
Também segundo a OMS, as razões que levam aos sinistros de trânsito e a mortes ou feridas graves englobam uma série de questões, destacando-se o aumento da velocidade média; dirigir sob influência de álcool; não utilizar o capacete; o cinto de segurança e a cadeirinha para crianças; infraestrutura e veículos com baixo grau de segurança; direção desatenta; e cuidados inadequados após os sinistros, além de falhas na legislação de trânsito que estimulam a impunidade.
O estudo do CLP conclui que os sinistros de trânsito têm um impacto significativo na sociedade, com vidas perdidas, famílias desfeitas e comunidades afetadas. E aponta que os governos têm a responsabilidade de abordar esse problema por meio da implementação de leis de segurança viária, melhorias na infraestrutura, campanhas de educação pública e medidas de fiscalização.