Bike PE: bicicletas estão velhas e sistema sofre sem expansão no Grande Recife
É visível que a rede ofertada - 90 estações e 900 bicicletas no Recife e, pontualmente, em Olinda e Jaboatão - há muito tempo não dá conta da demanda
Embora já incorporado à rotina dos moradores do Recife e muito disputado nos horários de pico e, principalmente, aos domingos, o Bike PE, sistema de bicicletas públicas compartilhadas da Tembici em parceria com o Itaú, vem sofrendo com a degradação e a ausência de expansão na cidade.
Quem usa sabe: tem sido cada vez mais frequente encontrar bicicletas quebradas, com sistema de marchas, freios e correntes comprometidos, bancos instáveis e pedais soltos ou quebrados, além da pouca oferta dos equipamentos. É visível que a rede ofertada - 90 estações e 900 bicicletas no Recife e, pontualmente, nas cidades de Olinda e Jaboatão dos Guararapes - há muito tempo já não dá conta da demanda de usuários - que aumentaram ainda mais com as parcerias criadas para utilização dos parceiros de aplicativos de delivery.
Vale ressaltar que o Bike PE ainda é um bom sistema, graças à tecnologia de liberação individualizada (cada uma tem seu próprio dock) e a robustez das bicicletas - que são do PBSC Urban Solutions, sistema de compartilhamento canadense, presente nas principais capitais mundiais. Mas é evidente que a qualidade do serviço está caindo a olhos vistos. E quem confirma essa percepção são os usuários.
SERVIÇO É ESSENCIAL PARA A MOBILIDADE, MAS TEM DECAÍDO
“Continuo achando o serviço essencial, não apenas como opção de mobilidade, mas também como um hábito que contribui para a melhoria da qualidade de vida das cidades. Porém, nesses cinco anos como cliente, só vi o serviço piorar. Primeiro, porque ficou limitado geograficamente. Avançou muito pouco nesse período”, critica Antônio Marcos, que usa o Bike PE com frequência.
“O número de estações e bikes está aquém da demanda. E ainda há uma deficiência, em alguns dias, ou certos horários do dia, de reposição das bicicletas. Algumas estações ficam sem nenhuma bike, outras lotadas. O segundo aspecto é a precariedade de manutenção das bikes. É muito difícil, hoje quase impossível, pegar uma bike que esteja toda certinha. Principais problemas: corrente ou catraca com defeito, falta de cigarra, seletor de marcha defeituoso, luzes de sinalização de segurança apagadas e até defeito nos freios. E há tempos que nenhuma delas tem o chamado descanso”, segue criticando.
Outra reclamação dos usuários é em relação ao atendimento prestado aos clientes. Antes havia um número de telefone para atendimento imediato. Agora, é apenas via WhatsApp, o que leva tempo e, muitas vezes, expõe o usuário conforme o lugar e o horário em que ele esteja devido à falta de segurança.
AOS DOMINGOS, ACHAR BICICLETA É TAREFA ÁRDUA
“Aos domingos, por exemplo, é tarefa árdua encontrar bikes, especialmente em algumas regiões do Recife, como a Zona Norte, onde as estações são mais distantes umas das outras e a procura é grande. A degradação das bicicletas também é evidente. Recentemente, num mesmo dia, peguei uma bike com pneu esvaziado e outra sem o pedal. A manutenção tem ficado muito a desejar”, reclama o universitário Gabriel Silva, que usa o Bike PE frequentemente.
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A gratuidade para os passageiros do Sistema de Transporte Público de Passageiros da Região Metropolitana do Recife (STPP) também deixou de existir como um dos efeitos nocivos da pandemia de covid-19. É outra perda muito lamentada pelos usuários do Bike PE.
TEMBICI NÃO INFORMA MAIS DADOS
A Tembici, operadora do Bike PE desde 2017 - embora o sistema tenha sido criado em 2011 -, não tem mais a mesma transparência de tempos passados, quando chegou ao Recife e precisava convencer a população de que o novo projeto era bom e confiável. Na época, o antigo Bike PE definhava e já não passava a confiabilidade necessária a qualquer serviço de mobilidade urbana.
Agora, a empresa de tecnologia e que chegou ao mercado com a proposta de inovação, já não responde o que é perguntado. Não informa o número de usuários, nem a quantidade de viagens realizadas, assim como não explica porque o Bike PE tem, atualmente, um dos planos mais altos de todos os sistemas operados pela empresa - R$ 34,90 o plano mensal e R$ 239 o anual.
Os valores cobrados, por exemplo, são maiores do que o sistema de Salvador (BA) e Porto Alegre (RS), por exemplo. Só perde para o Bike Sampa (São Paulo) e o Bike Rio (Rio de Janeiro), que são bem maiores do que o da Região Metropolitana do Recife.
A Coluna Mobilidade tentou obter algumas informações sobre viagens, clientes e perspectivas de expansão, mas teve apenas respostas evasivas. Pediu para conversar com algum porta-voz da empresa, mas também não conseguiu, infelizmente.
O que ficou claro é que, como esperado, não há qualquer previsão de expansão para o Bike PE por enquanto. Confira as informações oficiais encaminhadas:
“A Tembici, administradora do Bike Pernambuco, o terceiro maior sistema de bicicletas compartilhadas da empresa no Brasil, expandiu suas operações em 2022 com a adição de 10 estações e 100 novas bicicletas. Desde então, o sistema mantém um índice de usabilidade estável.
Os sistemas de bicicletas compartilhadas da Tembici são desenvolvidos com base em estudos e análises que visam atender às necessidades de mobilidade das cidades onde a empresa opera. A Tembici e o poder público dialogam constantemente sobre demandas e oportunidades para a cidade, e, no momento, estudam novas possibilidades de expansão.
É importante destacar que a nota de satisfação dos usuários em Pernambuco está dentro da zona de referência, o que se deve, em grande parte, ao trabalho contínuo de conservação e logística das bicicletas. Em 2024, houve um aumento de 11% no quadro de funcionários responsáveis pela manutenção, reparos e conservação.
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A Tembici também conta com auditorias externas realizadas por cicloativistas, que fornecem insights sobre possíveis melhorias para quem pedala, as nossas bikes compartilhadas, em Pernambuco. Com base no relatório de auditoria de 2023, a empresa implementou diversos planos de ação, resultando em melhorias significativas, como refletido no relatório de 2024.
É importante ressaltar que a precificação dos serviços da Tembici não segue uma tabela fixa. A definição dos planos é baseada em uma série de análises específicas para cada cidade. Entretanto, Pernambuco possui um dos sistemas de compartilhamento de bicicletas mais acessíveis do Brasil.
O bike PE conta com 90 estações e 900 bicicletas distribuídas em Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes, muitas delas localizadas próximas a estações de metrô e terminais de ônibus. A Tembici entende que a integração modal nas grandes cidades facilita o acesso de moradores das periferias ao sistema de transporte, influenciando diretamente o uso das bicicletas compartilhadas”.
Abaixo, as 3 perguntas enviadas à Tembici e as respostas evasivas dadas:
1. Quantidade de viagens diárias (separando dias de semana e domingos) e mensais?
A Tembici não divulga publicamente os dados referentes ao número de viagens realizadas em seus sistemas.
2. Investimentos em manutenção realizados anualmente ou mensalmente (me refiro a valores)
A Tembici não divulga valores específicos de investimentos em manutenção, mas garantimos que esse processo é uma prioridade. Nossas bicicletas e estações passam por inspeções e conservação diárias, além de receberem manutenção sempre que necessário.
3. Previsão de expansão?
A Tembici e o poder público dialogam constantemente sobre demandas e oportunidades para a cidade e, no momento, estudam novas possibilidades de expansão, mas ainda não há previsões concretas que possam ser compartilhadas.
GESTÃO É DO GOVERNO DE PERNAMBUCO
Outra informação importante é que, embora exista uma gestão do governo de Pernambuco, a operação do Bike PE é privada, mediante um termo de cooperação técnica. E, segundo o Estado, as notas de avaliação do sistema - apresentadas pela própria Tembici - são positivas.