Mortes no trânsito: Prefeitura do Recife se pronuncia sobre mortes de ciclistas

CTTU diz que malha cicloviária do Recife cresceu muito, que combate a velocidade e culpa o governo do Estado por não implantar ciclofaixas

Publicado em 01/10/2024 às 11:46 | Atualizado em 01/10/2024 às 13:24

A Prefeitura do Recife foi provocada pelo JC a se pronunciar sobre as três mortes de ciclistas na cidade num curto intervalo de oito dias. Em nota oficial, a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) apresentou números da expansão da infraestrutura cicloviária da capital - que de fato são altos porque a malha cresceu bem, embora seja insegura - e que vem tentando se aperfeiçoar mais para oferecer segurança a quem pedala.

Mostrou que o Recife pulou de 24 km de ciclofaixas, ciclovias e ciclorrotas, em 2014, para 195,5 km dez anos depois, o que representaria um aumento 716% da infraestrutura para bicicletas. E que quase a totalidade da malha está interligada.

E mais: que a capital foi a única do Grande Recife que avançou na implantação de políticas públicas de segurança viária para ciclistas previstas no do que prevê o Plano Diretor Cicloviário (PDC) da RMR. Sobre as mortes dos ciclistas em si, a gestão municipal se isenta, aponta melhorias feitas e culpa o governo do Estado pela não implantação de uma ciclovia na área, prevista na Rede Cicloviária Metropolitana do PDC.

Confira a nota na íntegra:

Josenildo Gomes/CTTU
A capital pernambucana teria tido um aumento superior a 100% nos registros de colisões, quedas, atropelamentos e outros tipos de sinistros no trânsito com vítimas de 2022 para 2024 - Josenildo Gomes/CTTU

“A Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) informa que, de 2014 a 2024, Recife cresceu no que se refere à expansão de rotas cicláveis, saltando de 24km para 195,5km no período, um incremento de 716% no que prevê o Plano Diretor Cicloviário da Região Metropolitana do Recife (PDC-RMR). Foram criadas rotas cicloviárias importantes, como o corredor da Avenida Agamenon Magalhães, com 4 km de extensão, beneficiando cerca de 7,5 mil ciclistas diariamente, dentre outros itinerários, conectando as zonas Norte e Sul e o Centro. De toda malha cicloviária da cidade, 97% estão interligadas entre si. A capital pernambucana, inclusive, foi a única cidade na RMR que avançou em políticas públicas para promoção da segurança viárias de ciclistas previstas no PDC-RMR.

Além de todo trabalho de expansão das rotas, a CTTU informa que a promoção da segurança viária para ciclistas também vem sendo reforçadas com uso de novos equipamentos de segregação e de fiscalização eletrônica nos ciclos. A autarquia vem trabalhando também com campanhas educativas, sobretudo junto aos motoristas das empresas de transporte coletivo em relação ao respeito aos ciclistas e normas de conduta previstas no Código de Trânsito Brasileiro (CTB). A entidade municipal também intensificou as blitze, com foco sobretudo na velocidade, que podem evitar que sinistros como esses levem as vítimas à óbito.

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Três ciclistas foram atropelados e mortos no Recife em oito dias. Pedalar no Recife está dando medo. Pelo menos para quem usa a bicicleta como transporte e em dias de semana - Divulgação

Sobre os locais onde ocorreram os sinistros, a exemplo do cruzamento da Praça da Convenção com a Rua Compositor Vinícius de Moraes, no bairro de Beberibe, a rota possui infraestrutura cicloviária desde 2021, e no ano de 2022, foi implantado o projeto de urbanismo tático, cujo objetivo é a redução de velocidade com a diminuição de faixa de rolamento, ampliação de calçadas e criação de refúgio de travessias para pedestres. O local faz parte do plano de manutenção anual de sinalização da cidade, iniciado na segunda quinzena de agosto deste ano.

Já na Avenida Beira Rio, no bairro da Torre, existe um trecho de cerca de 600m de ciclofaixa e no trecho da Ponte da Torre e Ponte da Capunga e existe a projeção de novos estudos junto ao Projeto do Parque Capibaribe. A Avenida João Tude de Melo, no Parnamirim, por sua vez, faz parte do Plano Diretor Cicloviário sendo de responsabilidade do Governo do Estado, dentro da Rede Cicloviária Metropolitana”.

TRÊS CICLISTAS ATROPELADOS E MORTOS EM OITO DIAS NO RECIFE

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Cidade do Recife tem acumulado Ghost Bikes em 2024, as bikes brancas que simbolizam a morte de quem pedala nas ruas e avenidas - Divulgação
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Dois ciclistas morreram na hora e a terceira lutou pela vida por dois dias. Números de mortes no trânsito da capital aumentaram 20% e seguem crescendo - Divulgação
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Ciclistas estão entre as vítimas do trânsito assassino do Brasil. Dois morreram no Recife na segunda-feira (16/9) e uma terceira no dia 24/9 - Reprodução

Num intervalo de oito dias, três ciclistas - dois homens e uma jovem mulher - foram atropelados e mortos em diferentes bairros da cidade. Duas das vítimas - os dois homens - atropelados praticamente no mesmo horário e mortos na hora por motoristas do transporte público. Eram trabalhadores que usavam bike para se deslocar.

O primeiro morreu atropelado pelo motorista de um ônibus da empresa Caxangá, na Praça da Convenção, em Beberibe, na Zona Norte do Recife, e o segundo pelo condutor do Sistema de Transporte Complementar de Passageiros do Recife (SCTP), na Ponte-Viaduto Torre-Parnamirim, em Parnamirim, na mesma região.

A terceira vítima, uma estudante de engenharia civil da Universidade de Pernambuco (UPE), foi atropelada por um motoqueiro - a informação era de que seria condutor de aplicativo de transporte - na Torre, Zona Oeste do Recife. Ana Gabriela Sena de Barros, 20 anos, lutou pela vida por mais de dois dias, mas no dia 26 faleceu.

LEVANTAMENTO APONTA EXPLOSÃO DE SINISTROS DE TRÂNSITO COM VÍTIMAS NO RECIFE

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Sinistros de trânsito com vítimas têm alto crescimento no Recife em 2024 - Reprodução

Levantamento sobre os sinistros de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se define, segundo o CTB e a ABNT) com vítimas no Recife revelam um crescimento impressionante nos últimos três anos. A capital pernambucana teria tido um aumento superior a 100% nos registros de colisões, quedas, atropelamentos e outros tipos de sinistros no trânsito com vítimas de 2022 para 2024. 

Quando o recorte é feito de janeiro a maio de cada ano, o aumento é de 116,5% comparando 2022, 2023 e 2024. Mas quando a análise é de mês a mês, o crescimento chega a 139%, como aconteceu entre os meses de maio dos três anos analisados. De 2024 em relação a 2023, o aumento foi de 53,9%.

Os registros com vítimas no trânsito recifense aumentaram 62,66% em 2023 em comparação com 2022. O levantamento foi realizado pela Associação Metropolitana de Ciclistas do Recife (Ameciclo) com os dados abertos da Prefeitura do Recife. A comparação dos anos de 2022 e 2023 com 2024 não foi possível porque os dados existentes são referentes apenas aos cinco primeiros meses deste ano.

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