Sem investir em prevenção, Pernambuco vive constante 'sobe e desce' nos números da violência

Nos últimos anos, programas de prevenção foram deixados de lado. E o resultado foi o avanço da violência no Estado
Raphael Guerra
Publicado em 19/10/2020 às 12:13
Prevenção às drogas precisa ser prioridade no combate à violência Foto: Diego Nigro/JC Imagem


Nos bons tempos do Pacto pela Vida, ainda sob o comando do ex-governador Eduardo Campos, falecido em 2014, a prevenção era vista como um dos pilares para a redução da violência em Pernambuco - seguindo, claro, uma premissa unânime dos especialistas em segurança pública. O programa Atitude, por exemplo, criado para ajudar os usuários a interromperem o ciclo mortal das drogas, ajudou milhares de pessoas. E até foi reconhecido internacionalmente. Muitos talvez nem lembrem, mas esse programa foi criado meses após um caso tristíssimo noticiado na imprensa: uma mãe que acorrentava o filho, já maior de idade, para que ele não usasse drogas. Ele acabou morto em pleno Dia das Mães. Foi em 2010, há mais de dez anos, mas ainda lembro da cena. Ao chegar para entrevistá-la, numa comunidade pobre do Recife, a mãe daquele jovem, sentada numa cadeira na porta de casa, ainda segurava as correntes que algemou por tantas vezes o filho, na tentativa de salvá-lo. 

Faz pouco mais de dez anos, mas certamente tantas cenas semelhantes de mães sofrendo pela perda dos filhos se repetem no Estado. As drogas continuam relacionadas à maioria das mortes violentas registradas em Pernambuco, como apontam as estatísticas. E pouco, ao que parece, está sendo feito para ao menos diminuir o número de usuários. Desde 2014, o Atitude tem o orçamento reduzido e pouco tem se falado em ações criadas pelo programa para ajudar quem mais precisa.

No novo mandato do governador Paulo Câmara, iniciado em janeiro de 2019, foi criada a Secretaria de Políticas de Prevenção à Violência e às Drogas. Já se passaram 21 meses, e até agora a pasta ainda não apresentou um grande projeto para contribuir com a prevenção à violência. Nem dá sinais de que isso acontecerá em breve. 

Enquanto O Governo do Estado investiu pesado em prevenção, entre 2010 e 2013, a queda das estatísticas de assassinatos foi positiva e reconhecida até pela ONU. Mas o tempo passou e a prevenção foi deixada de lado. Em 2017, houve recorde histórico na taxa de homicídios em Pernambuco. O resultado foi tão desastroso naquele ano que ficou difícil o ano de 2018 superá-lo. Houve a redução das estatísticas com investimento apenas em repressão. E os números voltaram a subir desde o final de 2019. A Secretaria de Defesa Social (SDS) fala em "tendência nacional". Mas, a bem da verdade, como mostra o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o resultado de Pernambuco foi acima da média dos estados brasileiros. Seis deles, inclusive, conseguiram reduzir a violência. 

Fica mais uma vez a lição para Pernambuco: sem prevenção, o resultado é o constante "sobe e desce" dos números da violência. E a dor imensurável para tantas famílias. 

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