Pouco mais de 5 anos após ter ficado à frente da atuação de Pernambuco na resposta à emergência da síndrome congênita do zika, a cirurgiã-dentista e sanitarista Luciana Albuquerque, 42 anos, assume a Secretaria de Saúde do Recife. Ela tem a missão de concretizar o plano de vacinação contra a covid-19 na capital. Nesta entrevista, ela conversa com Cinthya Leite sobre os principais passos para operacionalizar a campanha, além de outros temas.
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JC - Qual a maior missão ao assumir a pasta da Saúde no Recife?
LUCIANA ALBUQUERQUE - Sinceramente eu não esperava; achava que era só uma especulação. É uma grande missão. Considero que a Saúde, por si só, já é um grande desafio. E, quando se soma a isso, uma grande pandemia sem precedentes, essa missão se torna ainda maior. O grande trabalho é articular a rede de saúde com as necessidades da população, fortalecendo os oito distritos sanitários da capital. Quem deve ordenar a rede de serviço, quem deve dizer o que merece ser encaminhado para média e alta complexidade é a resolutividade da atenção básica. Essa fala parece lugar-comum, mas é isso que precisamos colocar em prática. É fácil? Não! Mas essa vai ser a nossa missão aqui.
JC - Como a senhora avalia o trabalho da atenção básica no enfrentamento à covid-19?
LUCIANA ALBUQUERQUE - Acho que a atenção básica entrou muito tardiamente nesse processo, e ela é fundamental porque tem um grande papel de conhecer o que acontece nas comunidades, de investigar se tem muita gente adoecendo, se há muitos contactantes de pessoas infectadas. Isso é importante para fazer o rastreamento dos contatos das pessoas doentes, que é uma grande tarefa para se parar um pouco a transmissão (do novo coronavírus). No início da pandemia, pela escassez de testes, esse rastreamento não foi tão efetivo. Ainda é tempo de resgatar e fazer isso.
JC - Muitas pessoas têm reclamado da demora para liberação de resultado dos testes de covid-19. Como resolver isso?
LUCIANA ALBUQUERQUE - Assim que assumi esta pasta, uma das primeiras coisas que falei com o prefeito João Campos foi sobre o laboratório municipal. Precisamos fortalecê-lo para dar também essa resposta (de agilidade para os resultados dos exames). Hoje o município envia as amostras para o Lacen (Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco), e a gente quer dar um passo à frente: assumir o nosso próprio processamento dos testes. Somos uma grande capital, e vale a pena sim esse investimento. Queremos fazer tudo isso o quanto antes.
JC - Como tem planejado a operacionalização da campanha de vacinação contra a covid-19?
LUCIANA ALBUQUERQUE - O ideal é que Ministério da Saúde assuma a compra das vacinas e faça distribuição aos Estados e municípios. Se não ocorrer, o Estado e a capital farão a compra. Para isso, temos contactado farmacêuticas fabricantes dessas vacinas. O prefeito já assinou memorando de entendimento com o Butantan e formalizou intenção de compra de 1 milhão de doses. A depender da produção do Butantan, podemos fazer a aquisição e avaliar ampliação do nosso grupo prioritário e antecipação das fases da campanha. Entramos em contato com Pfizer e outras empresas. Vamos procurar as que estiverem disponíveis para firmar intenção de compra para nos resguardar. Acredito que tudo vai dar certo.
JC - A senhora está otimista em relação às possibilidades de data para o início da vacinação no Brasil, ressaltadas pelo ministro Pazuello na última quinta-feira (7)?
LUCIANA ALBUQUERQUE - Eu estava apostando em março, mas os últimos movimentos têm me deixado otimista para antes disso termos a vacina.