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Saúde e Bem-estar

Por Cinthya Leite e equipe
IMUNIZAÇÃO

"É precoce dizer que teremos vacina na semana que vem em todos os estados", afirma ex-coordenadora do PNI

Em entrevista à Rádio Jornal, a epidemiologista e ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunização Carla Domingues comentou sobre as previsões de início de campanhas de vacinação contra covid-19

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JC

Publicado em 14/01/2021 às 12:00 | Atualizado em 14/01/2021 às 12:32
Epidemiologista e ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunização Carla Domingues - JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL

O governo de Pernambuco anunciou, nessa quarta-feira (13), em coletiva de imprensa, que o Estado deve receber 350 mil doses de vacina contra covid-19 na próxima semana. Segundo o secretário de Saúde, André Longo, há "condições de distribuir as doses rapidamente", com expectativa de início da imunização entre 24 horas e 48 horas após a chegada das doses ao Estado. No entanto, para a epidemiologista e ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunização Carla Domingues, é precoce fazer qualquer previsão, já que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda dará - ou não - o aval para as vacinas neste domingo (17).

Dois imunizantes estão sob análise da Anvisa; o Coronavac, desenvolvido pelo laboratório chinês Sinovac e produzido pelo Instituto Butantan, de São Paulo, e a vacina de Oxford, desenvolvida pela universidade homônima, no Reino Unido, e produzido no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A expectativa é que seja dada neste domingo a autorização em caráter emergencial de alguma ou das duas vacinas. No entanto, a pesquisadora avalia que, caso apenas a de Oxford seja liberada, a logística levará mais tempo.

"A gente tem que avaliar qual vai ser liberada, porque a da Biomanguinhos (Fiocruz), por exemplo, são 2 milhões de doses que sequer estão no Brasil. O governo federal disse que hoje vai sair um avião para buscar essas vacinas na Índia, chegando no sábado à noite. A Biomanguinhos ainda tem que fazer todo o processo de liberação alfandegária, passar todo o processo burocrático, depois as vacinas vão ter que ser entregues em São Paulo, para que, então, comece a distribuir para os estados, e depois os estados para seus municípios", explica. A aeronave sairia do Recife nesta quinta para buscar as doses, contudo, horas após a entrevista com a pesquisadora, teve partida adiada para esta sexta-feira (15), às 23h.

"Já a CoronaVac já tem em torno de 6 milhões de doses no Brasil, já prontas para serem entregues ao PNI, mas aguardando ainda o registro emergencial. Possivelmente, até o final do mês teremos o início da vacina, mas é precoce dizer que teremos na semana que vem em todos os estados brasileiros. Pode ser que comecemos em alguns estados e em algumas capitais, mas o importante é que a gente está chegando ao final desse processo de liberação das vacinas e que daqui para frente vamos começar uma vacinação gradativa, não teremos para vacinar toda a população brasileira, nem aqueles grupos definidos pelo MS da primeira fase, mas o importante é que vai começar", afirma Domingues.

Na terça-feira, o Butantan informou que a CoronaVac teve eficácia geral de 50,38% em estudos no Brasil. O número é inferior ao apresentado na semana passada pelo governo paulista, de 78%, porque a taxa referia-se somente a um recorte do estudo: ao grupo de voluntários que manifestaram casos leves de covid, mas com necessidade de atendimento médico. O percentual, entretanto, não deve impedir a aprovação do imunizante pela Anvisa, que exige eficácia mínima de 50%. Para a epidemiologista, é preciso olhar o lado positivo dos resultados, que apontam para proteção contra eventuais casos graves, que levam a internações e óbitos.

"Temos uma vacina que vai ser produzida em território nacional, que pode ser refrigerada de 2 a 8 graus, uma vacina que vai rapidamente ser distribuída para a população e que protege 50% dos que foram vacinados. Do restante, se adoecer, os estudos mostraram que ela vai proteger contra a gravidade. [...] Ainda bem que temos uma vacina que vai proteger 50% da população neste momento e que vai contribuir para diminuir a gravidade; que é o que queremos nesse momento: diminuir essa filas enormes nos hospitais, pedindo UTI, e infelizmente fazendo com que as pessoas cheguem a óbito", expõe.

A cientista alerta que, mesmo com o início de campanhas de vacinação, é necessário manter os cuidados básicos contra a doença, evitando aglomerações, usando máscara e álcool em gel: "claro que todo mundo quer voltar à vida normal, mas infelizmente ainda temos um longo caminho a percorrer, e a vacina vai vir complementar essa ação porque infelizmente não tem vacina para todo mundo".

"Estamos falando em torno de 500 milhões de doses que estão disponíveis para o mundo inteiro neste primeiro momento. No Brasil, são 8 milhões de doses. São 15 milhões de pessoas no primeiro grupo, que o Ministério da Saúde definiu como profissionais de saúde, pessoas acima de 75 anos, índios, quilombolas; ou seja, essas vacinas sequer conseguem atender 50% da população alvo do grupo prioritário. Achar que a gente consegue interromper essa cadeia de transmissão com a vacina, não vai. Estamos falando que vamos proteger a população a médio prazo", explica.

 

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