Ao longo deste mês, profissionais de saúde que atuam na linha de frente à covid-19 têm chamado a atenção em relação ao aumento no número de adultos jovens internados em leito de terapia intensiva (UTI) em Pernambuco. Um levantamento divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) comprova a percepção dos trabalhadores de saúde. Na faixa etária de 20 a 39 anos, o crescimento no volume de pacientes em UTI foi de 145%. A primeira semana do ano teve 38 pacientes desse grupo em UTI. Na semana de número 11 (14/3 a 20/3), esse número saltou para 93.
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Outro recorte do levantamento mostra que, nos grupos etários de 20 a 59 anos, o número de internamentos praticamente dobrou apenas nas últimas três semanas. Entre os adultos jovens (20 a 39 anos), foram registrados 50 casos na semana de 28/2 a 06/3 e 93 de 14/3 a 20/3. Ou seja, um aumento de 86%. Já entre os adultos com idades entre 40 e 59 anos, o aumento no período foi de 80%, com 169 registros de 28/2 a 06/3 e 304 de 14/3 a 20/3.
Em entrevista a esta coluna no último dia 20, o pneumologista Isaac Secundo, do Real Hospital Português (RHP), já havia comentado sobre essa mudança no perfil etário dos pacientes desta segunda onda de covid-19. "São pessoas de 37, 45, 40 anos, que era algo que, na primeira onda, não se via com tanta frequência como agora. Eles agravam mais rápido e, quando encontramos a droga ideal, conseguimos resolver logo o problema. Eles demandam tratamento mais complexo, em unidade de terapia intensiva (UTI), que demanda um trabalho árduo. Mas também estamos mais preparados, sabemos mais ou menos como a doença vai evoluir. Claro que é uma doença nova, e a gente não sabe tudo, mas temos uma ideia de como a gente vai ver (a progressão) e, dessa forma, antecipamos alguns passos", disse Isaac.
Para o médico infectologista Demetrius Montenegro, do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), os dados de infecção entre jovens preocupam. "Um ano após o início dessa luta, iniciada em março de 2020, percebemos que estamos vivendo novamente uma grande onda com o acréscimo no número de casos em pessoas mais jovens, que estão se expondo muito. Com isso, a consequência é o que está acontecendo nas emergências e UTIs, com a possibilidade de piorar. Sem contar que nós todos, profissionais da área da saúde, estamos muito cansados. Se você está cansado de ficar em casa, a gente está cansado de ver gente morrendo, é muito doloroso, é um sofrimento emocional grande. Essa epidemia existe, não fiquem cegos para esta doença", afirmou o infectologista.