A infecção pelo novo coronavírus se comporta de forma diferente de pessoa para pessoa, e ainda não se sabe com certeza como a doença evolui em cada indivíduo. Superada a fase de doença aguda, período após duas semanas de sintomas, cada organismo também reage de uma maneira peculiar. Enquanto alguns pacientes se recuperam totalmente, outros desenvolvem sequelas que exigem acompanhamento de médicos e demais profissionais de saúde.
Casos conhecidos agora como "covid longa", "covid de longa duração", "covid-19 pós-aguda" ou "síndrome pós-covid" têm provado que a doença pós-viral é mais prevalente do que se imaginava inicialmente. Além dos sintomas neurológicos presentes na fase inicial da doença, pacientes que não apresentaram complicações primárias ou comorbidades durante a infecção passaram a experimentar, meses depois, sequelas neurológicas.
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Um trabalho realizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade de São Paulo (USP), junto ao Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), descobriu alterações tardias na estrutura do córtex cerebral, mesmo em pessoas com sintomas leves de covid-19. Essa região está ligada a funções fundamentais, como consciência, memória, linguagem, cognição e atenção. A pesquisa também mostrou que o vírus é capaz de infectar e se replicar nos astrócitos - células de suporte e as mais numerosas do sistema nervoso central - prejudicando o funcionamento dos neurônios.
Estimativas sinalizam que cerca de 50% dos pacientes diagnosticados com a infecção pelo coronavírus apresentaram problemas neurológicos, como encefalite (inflamação no cérebro), anosmia (perda de olfato), acroparestesia (sensação de formigamento), aneurisma, acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico (AVE), síndrome de Guillain-Barré e outras doenças. "Nesse espectro de síndromes tardias associadas à covid-19, as mais comuns atualmente incluem fadiga, névoa cerebral, dores musculares e nas articulações, distúrbios do sono, enxaquecas, dor no peito, erupções cutâneas, nova sensibilidade a cheiros e sabores, além da disautonomia, uma condição normalmente rara que causa um aumento rápido e desconfortável dos batimentos cardíacos quando a pessoa tenta realizar qualquer atividade", explica o médico Feres Chaddad, professor de neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), especialista em danos neurológicos e malformação artério-venosa.
A prevalência dos sintomas neurológicos é explicada pela forma como o vírus pode adentrar o cérebro. O artigo Lifting the mask on neurological manifestations of covid-19, publicado na revista Nature, avaliou que o coronavírus pode entrar no sistema nervoso central (SNC) por duas vias distintas: disseminação hematogênica e disseminação neuronal retrógrada. Na disseminação hematogênica, o vírus se espalha por todo o corpo através da corrente sanguínea e, em seguida, entra no cérebro cruzando a barreira hematoencefálica, enquanto a disseminação viral retrógrada ocorre quando um vírus infecta neurônios na periferia e usa a maquinaria de transporte dentro dessas células para obter acesso ao SNC.
"O acompanhamento longitudinal pós-infecção precisa ser indicado o quanto antes para pacientes recuperados e devem incluir avaliação neurológica, de imagem, laboratorial e neuropsicológica cuidadosa para examinar vários domínios cognitivos. Determinar em que medida a interação entre a infecção central e sistêmica leva a danos no SNC e alterações neurológicas, de maneira precoce, pode reduzir a incidência de danos graves e diminuir riscos futuros", Chaddad.
O maior desafio é o monitoramento dos danos colaterais para o grupo de assintomáticos e não diagnosticados. A desatenção a sintomas neurológicos leves e intermediários, especialmente desses grupos ou com sintomas leves que não acessam o sistema de saúde, esconde a verdadeira taxa de danos presentes nos pacientes pós-covid.
Queda de cabelo pós-covid
Após a recuperação da covid-19, alguns sintomas podem persistir. A queda de cabelo é um deles e pode acontecer assim que o paciente recebe o diagnóstico de cura da doença. “A perda de cabelo não é uma particularidade exclusiva dos casos de covid. Em diversas infecções graves, como a pneumonia, pode ocorrer o mesmo fenômeno entre dois e três meses depois. Entretanto, trabalhos realizados por pesquisadores estrangeiros revelam que, na covid-19, a queda acontece de forma muito mais precoce, sendo percebida de seis a oito semanas depois da doença”, explica a presidente do Departamento de Cabelos da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Fabiane Mulinari Brenner.
"No caso de uma infecção importante, como a covid-19, e de diversas outras doenças, muitos fios vão entrar nessa fase de repouso do crescimento, e os fios só cairão entre dois e três meses após o evento da doença.". Diante dessa situação, e de quadros semelhantes, recomenda-se procurar o suporte de um dermatologista, que tem condições de fazer um diagnóstico adequado para o problema e prescrever tratamentos para enfrentar o problema, evitando efeitos duradouros.