Atualizada às 20h53
Na manhã desta quinta-feira (2), uma força-tarefa composta por médicos, epidemiologistas, agentes comunitários e gestores da Secretaria de Saúde do Recife visitaram residências dos bairros da Guabiraba e de Dois Irmãos, na Zona Norte do Recife, onde predominam os casos de lesões na pele que causam coceira e que ainda não têm causa conhecida. Moradores de ambas as localidades relataram que os sintomas apareceram, em parte dos casos, ainda no começo de novembro. Com o passar dos dias, alguns comentaram que a coceira passou, mas que tem voltado a incomodar.
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Esse é um detalhe que intriga os especialistas que fazem parte da investigação, na tentativa de descobrir a causa das lesões que têm acometido centenas de pessoas na cidade - e em outros municípios pernambucanos. "Essa recorrência é importante, mostrando que tem possivelmente relação com a mata. Como a pessoa permanece no local (após alívio dos sintomas), a exposição flutua. Ela fica boa e novamente é reexposta", informa o epidemiologista social Djalma Agripino, médico e professor da Universidade Federal de Pernambuco.
Ele faz parte da equipe que tem se debruçado para investigar as hipóteses relacionadas ao surto de "lesões cutâneas a esclarecer". O médico, que se dedica a estudar problemas de saúde que são socialmente determinados, conta que, na manhã desta quinta-feira (2), a equipe que foi aos bairros viu cinco casos que relataram o retorno dos sintomas (lesões, manchas e coceiras na pele), dias após o incômodo ter sido aliviado. "São pessoas que dizem terem ficado boa, mas que voltou a ter o problema. É uma característica que faz a relação entre a exposição a um agente com o local de residência. Então, se a pessoa acometida tratou, melhorou, mas não se afastou do local de residência, questionamos: 'será que foi picado de novo (por um inseto)?' É uma pergunta que precisamos responder", explica Djalma.
Moradora da Guabiraba, a auxiliar de dentista Cristânia Coelho de Araújo, 54 anos, conta que começou a manifestar os sintomas no dia 1º de novembro. "Comecei a ter uns pontos vermelhos na pele e muita coceira nas costas e coxas. Depois, o problema foi para o braço, o pescoço e o couro cabeludo. No começo, foi bem feioso. Melhorei depois que fui ao Imip (Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira), e lá um dermatologista passou remédios e pomada. Deu uma aliviada grande. Mas há uns três dias, voltei a me coçar novamente", relata Cristânia. O marido dela, o assistente administrativo Daniel de Castro, 53 anos, também teve o mesmo quadro, assim como a neta de 2 anos, que foi atendida num hospital pediátrico da rede municipal.
Para o epidemiologista, o que mais tem predominado é a hipótese de se tratar de uma condição decorrente de questões ambientais. "Isso é o dado mais significativo. E essa recorrência (volta dos sintomas) mostra a possibilidade de as lesões de pele terem relação com algo da região da mata. O problema é que a gente ainda não sabe o que pode ser esse agente", diz Djalma. Ele acrescenta que a maioria dos casos que viu, acompanhado de dermatologistas, tem padrão de picada de inseto. "Há essa predominância nas lesões. Mas qual inseto seria? A gente ainda não sabe. Precisamos investigar mais."
Ao percorrer o bairro de Guabiraba, nesta segunda-feira (2), agentes de saúde ambiental perceberam a presença de um inseto cuja espécie não foi identificada a olho nu. Foi, então, feita coleta dos insetos, que serão analisados pelo laboratório municipal de saúde.
Dados
Segundo a Secretaria de Saúde (Sesau) do Recife, já foram registrados 213 casos de pessoas com lesões que causam coceira na pele. As ocorrências são provenientes de 46 bairros do município, com predominância na Guabiraba e em Dois Irmãos, na Zona Norte. Não há registro de agravamento associado a esses quadros.
Nesta semana, os procedimentos de monitoramento e investigação continuam, por meio da aplicação de questionários nos locais de maior incidência e da realização de novos exames clínicos e laboratoriais. Esse trabalho passa a contar com o reforço de uma equipe de dermatologistas. Outra frente é a instalação de armadilhas para a captura de mosquitos.
A Sesau reforça a importância de as pessoas não fazerem uso da automedicação, de manterem as mãos higienizadas e buscarem uma unidade de saúde para receber orientações e tratar os sintomas. Os profissionais de saúde devem notificar os casos suspeitos em até 24 horas, conforme alerta epidemiológico enviado pela Sesau para as redes pública e privada de saúde do Recife no dia 18 de novembro.