Já há quase 200 casos inexplicáveis de hepatite aguda grave relatados em crianças em todo o mundo. O surto foi divulgado, pela primeira vez este mês, no Reino Unido - que registrou 111 casos, principalmente em crianças menores de 10 anos. Desde então, a doença sem causa conhecida até então foi identificada em, pelo menos, 12 países. Entre as principais hipóteses para explicar a causa dessa nova hepatite, está o adenovírus, que foi detectado em, pelo menos, 74 casos.
Em Pernambuco, não há registros de casos de hepatite aguda grave de causa desconhecida, mas a Secretaria Estadual de Saúde (SES) já emitiu alerta a toda a rede de saúde do Estado (unidades públicas e privadas), que deve ficar atenta a crianças e adolescentes com sintomas sugestivos da doença. Na noite da terça-feira (26), um dia após a divulgação do primeiro alerta, a SES soltou uma atualização documento, a fim de compartilhar, com profissionais de saúde, diretrizes de identificação precoce de casos suspeitos, estabelecer medidas controle e prevenção.
"Equipes de saúde, principalmente da pediatria, devem estar atentas a crianças e adolescentes com 16 anos ou menos, principalmente com relato de passagem pelos locais afetados, que apresentem icterícia (coloração amarelada da pele e/ou olhos) ou sintomas compatíveis com hepatite aguda", destaca o alerta da Secretaria de Saúde de Pernambuco.
De acordo com o comunicado, serão investigados, por serem considerados como casos suspeitos, pessoas com 16 anos ou menos e que, desde 1º de outubro de 2021, apresentem hepatite aguda em que não estão os vírus que normalmente causam as hepatites (do tipo A, B, C, D ou E), mas que apresentam as seguintes manifestações:
- Enzimas hepáticas - aspartato aminotransferase (AST) ou alanina aminotransferase (ALT) - acima de 500 U/L
- Não apresentem outras explicações para o quadro clínico que apresenta
- Também atendem os critérios de inclusão os contatos próximos de casos suspeitos que, independentemente da idade, apresentarem os critérios acima
Segundo o comunicado emitido pela SES, os casos de hepatite aguda grave de causa desconhecida que correspondam com as definições acima devem ser notificados imediatamente através do e-mail cievs.pe.saude@gmail.com ou pelos telefones: 81 3184-0191 (horário comercial). Apenas para profissionais de saúde, o contato pode ser feito também pelo 81 99488-4267.
A pasta informa que, até agora, não estão estabelecidos critérios de definição de caso confirmado.
Quais exames devem ser feitos?
Recomenda-se que todos os casos suspeitos e contatos próximos realizem testes de sangue, soro, urina, fezes e amostras respiratórias, bem como amostras de biópsia hepática (quando disponíveis), incluindo busca de caracterização adicional de vírus, com sequenciamento.
Entre outras causas infecciosas e não infecciosas de hepatites aventadas pelas equipes locais que atendam casos suspeitos, sugere-se investigar hepatites A-B-C-D-E, adenovírus, coronavírus, leptospirose, norovírus, enterovírus, patógenos bacterianos padrão nas fezes (Salmonella, Shigella, Campylobacter e E. coli 0157).
Hepatite misteriosa: a quais sintomas os profissionais de saúde devem estar atentos?
"Pede-se, aos médicos, que estejam alertas para esta situação emergente e que estejam atentos às crianças que apresentam sinais e sintomas potencialmente atribuíveis à hepatite que podem exigir testes de função hepática", diz o alerta da SES.
Entre os sintomas, estão descoloração da urina (escuro) e/ou fezes (pálido); icterícia; prurido; artralgia (dor nas juntas); mialgia (dor muscular); pirexia (febre); náuseas, vômitos ou dor abdominal; letargia (cansaço com diminuição da energia, da capacidade mental e da motivação); e/ou perda de apetite.
Hepatite misteriosa: há como prevenir?
A SES frisa que medidas comuns de prevenção para adenovírus e outras infecções comuns envolvem lavagem regular das mãos e higiene respiratória.
A causa da hepatite aguda em crianças é o adenovírus?
O adenovírus foi detectado em, pelo menos, 74 casos em todo o mundo. Do número de casos com informações sobre testes moleculares, 18 foram identificados como adenovírus F tipo 41. O coronavírus foi identificado em 20 casos dos testados. Além disso, 19 foram detectados com uma coinfecção por coronavírus e adenovírus.
O Reino Unido, onde a maioria dos casos foi relatada até o momento, observou recentemente um aumento significativo nas infecções por adenovírus na comunidade (particularmente detectada em amostras fecais em crianças) após baixos níveis de circulação no início da pandemia de covid-19. A Holanda também relatou um aumento simultâneo da circulação de adenovírus na comunidade.
No entanto, devido a testes laboratoriais aprimorados para adenovírus, isso pode representar a identificação de um resultado raro existente ocorrendo em níveis não detectados anteriormente e que agora está sendo reconhecido devido ao aumento dos testes.
Outras investigações estão em andamento em países que identificaram casos e incluem históricos clínicos e de exposição mais detalhados, testes toxicológicos (ou seja, testes de toxicidade ambiental e alimentar) e testes virológicos/microbiológicos adicionais. Os países afetados também iniciaram atividades de vigilância aprimoradas.
No alerta emitido a unidades de saúde públicas e privadas, a Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES) ressalta que existem mais de 50 tipos de adenovírus que podem causar infecções em humanos. "Os adenovírus se espalham de pessoa para pessoa e mais comumente causam doenças respiratórias, mas, dependendo do tipo, também podem causar outras doenças, como gastroenterite, conjuntivite e cistite."
A pasta acrescenta que, embora o adenovírus seja atualmente uma hipótese como causa subjacente, ele não explica totalmente a gravidade do quadro clínico. "A infecção com adenovírus tipo 41, tipo de adenovírus implicado (na hepatite aguda grave), não foi previamente associada a tal apresentação clínica. O adenovírus tipo 41 geralmente se apresenta como diarreia, vômito e febre, muitas vezes acompanhados de sintomas respiratórios. Embora existam relatos de casos de hepatite em crianças imunocomprometidas com infecção por adenovírus, o adenovírus tipo 41 não é conhecido por ser uma causa de hepatite em crianças saudáveis."
O aumento da suscetibilidade entre crianças pequenas, após um menor nível de circulação de adenovírus durante a pandemia de covid-19, o potencial surgimento de um novo adenovírus, bem como a coinfecção pelo coronavírus, precisam ser mais investigados.
Qual a relação entre a hepatite aguda grave em crianças e as vacinas contra covid-19?
De acordo com o alerta da Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES), as hipóteses relacionadas aos efeitos colaterais das vacinas contra covid-19 não são aceitáveis atualmente, pois a maioria das crianças afetadas não recebeu a vacinação contra o coronavírus. "Outras explicações infecciosas e não infecciosas precisam ser excluídas para avaliar e gerenciar completamente o risco."