Notícias e análises sobre medicina e saúde com a jornalista Cinthya Leite

Saúde e Bem-estar

Por Cinthya Leite e equipe
COLUNA JC SAÚDE E BEM-ESTAR

No pico de doenças respiratórias em crianças, falta de soro fisiológico, "bombinha de asma" e dipirona é pontual, garante secretário de Saúde de Pernambuco

Estado tem escassez de medicamentos usados em praticamente todos os quadros virais respiratórios na infância

Cadastrado por

Cinthya Leite

Publicado em 19/05/2022 às 15:40 | Atualizado em 19/05/2022 às 15:45
Remédios ficarão mais caros nos próximos dias - FREEPIK/BANCO DE IMAGEM

Profissionais de saúde que atuam em unidades públicas de atendimento a crianças com infecções respiratórias têm relatado a escassez de medicamentos usados em praticamente todos esses quadros virais na infância. Entre eles, estão soro fisiológico, dipirona e salbutamol (substância do medicamento popularmente conhecido como bombinha de asma). "Além desses, em algumas unidades, também há momentos sem corticoide. Todos esses são indicados nos tratamentos de 100% das doenças respiratórias", diz o pediatra Walber Steffano, presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe).

O médico informa também que, devido à falta e ao estoque abaixo do nível de segurança neste momento de explosão de casos respiratórios na infância, o Simepe solicitou que alguns hospitais privados ajudassem com a oferta desses remédios a unidades públicas. "O Real Hospital Português foi um dos que contribuíram enviando medicações. A informação que tem chegado a nós, enquanto sindicato, é que ocasionalmente há uma falta desses produtos, mas que chegam (após determinado tempo)", acrescenta. 

O soro fisiológico é usado para lavagem do interior do nariz, o que ajuda a limpar o muco nasal e a reduzir a sensação de congestão. Já os medicamentos à base de dipirona são prescritos pelos pediatras para tratar dor e febre. E o salbutamol (ou seja, a bombinha para asma) tem ação rápida e age diretamente nos brônquios e nos pulmões, a fim de facilitar a respiração.

"Infelizmente, nós temos recebido alguns relatos pontuais de falta de medicamentos. Isso ocorre por parte de alguns municípios, unidades de pronto atendimento e emergências. É algo que tem sido pontual. Buscamos resolver com compras emergenciais e empréstimos (de remédios) de outras unidades", disse o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, em coletiva de imprensa na quarta-feira (18).

Ele destacou que essa escassez ocorre em toda a rede de saúde. "Não é só uma realidade da rede pública. Às vezes, temos também pedidos da rede privada em relação a algumas dessas medicações. É fato que a guerra (na Ucrânia), o lockdown da China e outras coisas fizeram com que insumos ficassem mais escassos na sua circulação e que os custos de produção desses medicamentos aumentasse. A indústria, então, retraiu-se na fabricação de algumas dessas medicações."

Com isso, segundo Longo, a cadeia de fornecimento de remédios para combater as infecções respiratórias tem sofrido um impacto, e essa crise afeta o trabalho dos profissionais de saúde e prejudica o atendimento de pacientes nas emergências e demais unidades pediátricas. "Temos tido relatos de faltas pontuais de algumas medicações, como dipirona, salbutamol e soro fisiológico. Mas isso tem sido normalmente bem manuseado pelos serviços, sem maiores repercussões até este momento", garantiu Longo. 

O secretário acrescentou que o governo Estadual tem "estimulado que se façam compras emergenciais. Infelizmente, entra aí uma questão que é preço, porque os laboratórios e os distribuidores querem, por vezes, reajustes nos pagamentos por parte dos clientes, dos compradores desses medicamentos". 

A gravidade das doenças respiratórias  

O secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, reconhece que o Estado passa atualmente o pior momento na pediatria, com um cenário de gravidade por doenças respiratórias que não ocorria desde 2009, quando vivenciamos o surto provocado pelo H1N1 - uma nova cepa do vírus influenza A responsável por causar pandemia de gripe espanhola que assolou o mundo entre os anos de 1918 e 1920. 

Com a explosão de infecções respiratórias na infância, Pernambuco retorna ao panorama severo de 2009. A rede privada enfrenta a mesma superlotação de pacientes da pediatria que permanecem nas emergências aguardando transferências para vagas de terapia intensiva (UTI) e enfermaria. "Ninguém está sem assistência", garantiu Longo, nesta quarta-feira (18), em coletiva de imprensa. 

 

"Diversas vezes ressaltamos nossa preocupação com o período sazonal e, por isso, já vínhamos trabalhando para ampliar a oferta de leitos. Do ano passado para cá, mais que dobramos as vagas de UTI para este público na rede estadual, passando de 56 leitos na sazonalidade de 2021 para 116 atualmente", disse André Longo. 

Ele ressaltou que Pernambuco, assim como demais Estados brasileiros, vive um grande aumento de casos de doenças respiratórias. "Há um maior grau de severidade e também frequência de solicitação de leitos, desta vez com foco nas crianças. A predominância é do vírus sincicial respiratório (VSR) e rinovírus. O número de solicitações de UTI para crianças teve aumento de três vezes, em comparação ao período sazonal do ano passado. E isso é algo que extrapola qualquer planejamento", acrescentou.  

O secretário informou que, na sazonalidade das doenças respiratórias de 2021, o Estado registrava, em média, 53 solicitações por leitos de UTI infantis por semana. Na semana passada, foram 150 – número três vezes maior. A alta na demanda por internações envolvendo crianças e o aumento no fluxo de atendimentos pediátricos têm relação direta com a maior exposição das crianças aos diversos vírus.

Em crianças pequenas, de até 2 anos de idade, o vírus sincicial respiratório (VSR), um dos principais agentes de uma infecção aguda nas vias respiratórias, corresponde a mais de 40% dos quadros. E, nas crianças maiores, o rinovírus humano corresponde a 20% dos casos na faixa etária entre 3 e 5 anos e 66% nas crianças entre 6 e 9 anos.

"A maioria dos casos faz infecções leves, com tosse, coriza e febre baixa, com uma resolução de três a cinco dias. No entanto, mesmo não sendo uma característica em todos os casos, há quadros de maior gravidade. Indicamos que, se possível, evitem nesse momento lugares fechados e com aglomeração", destacou o pediatra Eduardo Jorge da Fonseca Lima, vice-presidente da Sociedade de Pediatria de Pernambuco (Sopepe).

Também representante da Regional Pernambuco da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), o médico recomenda medidas essenciais para reduzir a transmissibilidade dos vírus, como a lavagem das mãos e das narinas com soro fisiológico. "Só é necessário procurar as grandes emergências pediátricas em casos mais graves, quando houver algum sintoma mais persistente, como febre de três a cinco dias e desconforto respiratório. Inicialmente, as famílias devem procurar as unidades básicas de saúde", orientou Eduardo Jorge. A expectativa, segundo o pediatra, é que, em junho, o número de casos respiratórios comece a reduzir, o que ajuda a desafogar o sistema de saúde. 

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