Pernambuco já tem 43 casos confirmados de Candida auris, superfungo resistente a medicamentos e responsável por infecções hospitalares. Por isso, ele é um dos que mais ameaçam a saúde pública no mundo.
O número atual de casos confirmados do superfungo representa um aumento de 19,5% em 20 dias. Há menos de um mês (em 18 de agosto), Pernambuco tinha 36 casos confirmados do superfungo Candida auris.
A Secretaria Estadual de Saúde (SES) confirmou, na terça-feira (6), a pedido da reportagem deste JC, os 45 casos notificados do superfungo Candida auris em Pernambuco.
Desse total, 43 pacientes tiveram diagnóstico confirmado para a colonização pelo superfungo, um caso foi descartado e um permanece em investigação, aguardando confirmação do laboratório de referência.
Os pacientes notificados com o superfungo Candida auris, segundo a SES, têm idade entre 19 e 82 anos.
Entre eles, 37 são do sexo masculino e 8 do sexo feminino.
A reportagem solicitou à SES, nesta quarta-feira (7), informações atualizadas sobre o estado de saúde desses pacientes e aguarda um retorno.
SUPERFUNGO: Candida auris mata? Quais os sintomas de Candida auris?
Os Estados Unidos tiveram um total de 537 casos (a maioria em unidade hospitalar) de Candida auris. O Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) informa que quase metade desses pacientes com Candida auris morreram em 90 dias.
"Não há nenhuma morte (confirmada, ou em investigação) pela Candida auris em Pernambuco", garante a Secretaria Estadual de Saúde (SES). Vale frisar que, em agosto, entre os casos confirmados até aquele mês (total de 36), onze foram a óbito.
No entanto, a SES assegura que essas mortes estão relacionadas a "outras complicações relacionadas à causa do internamento (como AVC, neoplasia, aneurisma cerebral, agressão por arma de fogo e acidentes de trânsito)".
Superfungo Candida auris: confira abaixo vídeo sobre o surto
O que é Candida auris?
Além do Recife, a cidade de Salvador já registrou dois surtos provocados pelo superfungo em hospitais: um em 2020; outro em 2021.
A Candida auris é um fungo emergente que representa uma séria ameaça à saúde pública. Ele pode causar infecção de corrente sanguínea e outras infecções invasivas.
Ele pode ser fatal, principalmente em pacientes imunodeprimidos ou com doenças crônicas.
Os pacientes com Candida auris podem não apresentar sinais relacionados à infecção pelo superfungo, mas ter quadro sugestivo de colonização. A diferença entre ambas as condições é que a colonização indica que o paciente está com o fungo, mas não apresenta infecção - e esta ocorre quando há presença de Candida auris na corrente sanguínea.
Superfungo Candida auris: como é transmitido?
A transmissão do superfungo Candida auris ocorre diretamente de equipamentos e materiais de assistência ao paciente com Candida auris (como estetoscópios e termômetros, além de outros), mas nada impede que essa transmissão também aconteça pelas mãos dos profissionais de saúde. Por isso, a higienização das mãos precisa ser respeitada.
O infectologista Flávio de Queiroz Telles Filho, coordenador do Comitê de Micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que a Candida auris ocorre como infecção hospitalar, que pode causar casos graves de septicemia (condição de resposta exagerada a uma infecção, seja por bactérias, fungos ou vírus) ou apenas colonizar a pele de pacientes. "Mas ela facilmente se mantém dentro de hospitais onde é detectada. É muito difícil de ser erradicada", frisa.
Como tratar o superfungo Candida auris?
De acordo com o infectologista Filipe Prohaska, o maior problema relacionado ao fungo é que esse agente infeccioso é multirresistente a diversos medicamentos antifúngicos.
"É um micro-organismo exclusivamente hospitalar", diz o médico, que se preocupa com o potencial agressivo desse fungo. Estudos apontam que até 90% dos isolados de Candida auris são resistentes a medicações como fluconazol, anfotericina B ou equinocandinas.
Outro motivo de preocupação é que a Candida auris pode permanecer viável por longos períodos no ambiente (semanas ou meses) e apresenta resistência a desinfetantes.
Já o infectologista Arnaldo Colombo, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e referência nacional em contaminação com fungos, explica que o tratamento da Candida auris é feito com antifúngico. "O único problema é que é um micro-organismo com capacidade de persistir no ambiente hospitalar por muito tempo. Se não forem instituídas medidas de desinfecção adequada, o fungo pode colonizar esses pacientes por tempo prolongado e se tornar resistente a medicações", alerta o médico.