O transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) ocorre em 3% a 10% das crianças, em várias regiões diferentes do mundo onde já foi pesquisado.
Em mais da metade dos casos, o TDAH persiste na vida adulta, embora os sintomas de inquietude sejam mais brandos.
É um transtorno que se manifesta na infância (mas nem sempre é diagnosticado nessa fase da vida) e se origina de causas genéticas, com influências ambientais.
Pesquisas atuais mostram que as crianças cujos pais têm TDAH possuem um risco maior de desenvolver o transtorno.
Quando o assunto é TDAH, uma condição preocupa especialistas: crianças expostas de forma exagerada a telas (televisão, smartphone, tablets e videogames) têm uma chance aumentada de apresentar sintomas do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, em comparação com crianças expostas de forma controlada.
A neurologista infantil Adélia Henriques-Souza, do Hospital da Restauração e do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), explica que isso ocorre devido à faixa de onda de luz azul emitida pelas telas de smartphones e tablets.
Essa luz contribui para o bloqueio da melatonina e, consequentemente, com o maior índice de distúrbios do sono, sonolência diurna, problemas de memória e concentração durante o aprendizado - sintomas de TDAH.
Esse é um dos temas de destaque do Congresso Pernambucano de Especialidades Pediátricas, promovido pela Sociedade de Pediatria de Pernambuco, que acontecerá de 31 de maio a 3 de junho no Hotel Beach Class by Hôm, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife.
"Um tempo de tela maior de duas horas em crianças acima de 5 anos é associado a um risco de 7,7 vezes maior de preencher os critérios de TDAH", destaca Adélia Henriques-Souza, que é mestre e doutora em Neurociências e Ciências do Comportamento pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
A revista científica internacional Reviews on Environmental Health publicou recentemente uma metanálise (pesquisa extensa que revisou sistematicamente vários estudos sobre TDAH) que encontrou uma correlação entre o tempo de tela das crianças e o risco de TDAH.
A metanálise mostrou que a exposição excessiva à tela pode contribuir significativamente para o desenvolvimento do transtorno em crianças. "Portanto, é necessário reduzir o tempo de tela por dia em crianças para prevenir a ocorrência de TDAH", escrevem os autores.
Entre adolescentes, a ciência traz um cenário semelhante. Um estudo brasileiro publicado, em fevereiro de 2022, na revista internacional Journal of Attention Disorders começou a acompanhar, em 1993, 2.333 participantes com 11 anos de idade sem TDAH.
Aos 22 anos, os sintomas de TDAH no público acompanhado foram positivamente associados ao tempo de televisão aos 11 anos, tempo de computador aos 18 anos e tempo total de tela aos 11, 15 e 18 anos.
Nos adultos, segundo material publicado pela Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), estima-se que a prevalência de TDAH é em torno de 4%.
Pensa-se que, em cada sala de aula, deve existir pelo menos uma criança com o TDAH.
Estima-se que até 70% das crianças com TDAH apresentam simultaneamente outros transtornos, assim como os adultos que também costumam apresentar um número elevado de outros transtornos simultâneos.
Entre eles, estão distúrbios do aprendizado (podem aparecer com dificuldade para leitura, escrita e matemática).
Há ainda o transtorno de desafio e oposição e transtorno de conduta, tiques, transtornos ansiosos (pânico, fobia social e transtorno de ansiedade generalizada), transtornos do humor (depressão, distimia e transtorno bipolar), abuso de drogas e alcoolismo.
O primeiro passo e talvez o mais importante de todos é o conhecimento.
A própria pessoa, os pais, os maridos, as esposas, os professores, enfim, todos precisam aprender sobre TDAH, saber como ele se apresenta, como isso compromete o modo da pessoa ser e agir no cotidiano, suas reações e principalmente que isso não é culpa de ninguém, nem da pessoa e nem de seus pais.
Ou seja, o programa de tratamento deve sempre incluir informação e conhecimento, medicação e recursos psicoterápicos.