Essa semana o Google anunciou que irá parar de rastrear as pessoas individualmente na internet. A medida se junta a outra, anunciada meses atrás, de que iria eliminar cookies de terceiros (pequenos pacotes de dados), que são usados para direcionar anúncios digitais.
A Apple anunciou medidas semelhantes em seu sistema operacional, que passará a exigir que desenvolvedores de apps peçam permissão do usuário para rastrear seus dados.
Em linhas gerais, as medidas devem aumentar a privacidade, mas atingem diretamente o negócio do Facebook, que passará a ter mais dificuldade para rastrear os internautas (mesmo quem não é usuário do Facebook pode ser rastreado pela empresa). E é essa capacidade de “identificar” audiências que torna o facebook tão valioso.
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Talvez você pense: bem feito, é o Mark Zuckerberg, é o Facebook. Afinal, a empresa tem um histórico de polêmicas que passam por falhas de preservação de dados dos usuários, propagação de fake news e até erros de métrica de publicidade, cobrando mais dos clientes. Mas chama atenção como Google e Apple cada vez mais usam um discurso oportunista para se beneficiar da situação, particularmente quando o tema é privacidade.
De maneira alguma me oponho ao aumento de privacidade na internet, que fique claro. Mas acho válida uma observação mais ampla.
O Google, por exemplo, ainda permitirá que seus clientes de publicidade segmentem usuários em seus serviços (YouTube, Gmail e buscas) se os usuários estiverem logados em suas contas do Google. Se a ideia é aumentar a privacidade, não seria o caso de encerrar todo tipo de rastreamento, inclusive o que seguirá sendo realizado pelo próprio Google? Como está, a nova regra imposta pelo Google torna ainda maior a vantagem da empresa no mercado de publicidade.
O órgão regulador de concorrência do Reino Unido iniciou uma investigação após uma reclamação de empresas de publicidade alegando que a decisão do Google de remover cookies de terceiros do Chrome e substituí-los por tecnologias do Privacy Sandbox (plataforma do Google) limitaria a concorrência no mercado de publicidade digital.
Práticas monopolistas
Na Apple, quem cria apps para o iOS só poderá receber os dados que o usuário autorizar expressamente. “A mudança da Apple não é sobre privacidade, é sobre lucro”, disse o Facebook em um comunicado. A empresa de Zuckerberg, em guerra com a Apple, afirma que a medida da dona do iPhone irá diminuir a receita de publicidade e forçar muitas empresas, que hoje produzem conteúdo gratuito, a terem de cobrar assinaturas para sobreviverem. E mais assinaturas beneficiam a Apple, que recebe comissões de sua loja de aplicativos. Críticos da Apple também dizem que a empresa usa seu monopólio do iOS para direcionar os usuários aos seus próprios produtos de assinatura complementares, dando-lhe uma vantagem que concorrentes como o Spotify não podem superar.