Dias atrás a notícia de que o vidente Val Couto, teria previsto a morte de Marília Mendonça ganhou destaque em diversos sites de notícia e até mesmo no Google. Ouvi de alguns editores em diferentes veículos que a notícia trouxe um tráfego surpreendente.
Longe de ser um fato isolado, há séculos a humanidade se interessa por descobrir o futuro. Humanos buscam histórias para ajudar a lidar com o dia a dia e suas expectativas. A astrologia, o tarô e outras atividades ligadas ao místico ajudam a encontrar essas narrativas. Além disso, a astrologia também transmite um sentimento de pertencimento e permite que você se veja como parte do mundo.
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A astrologia ou a capacidade de indivíduos preverem o futuro não encontram suporte na ciência. Mas em tempos de estresse crescente e cada vez mais dados e informações ao alcance de todos, encontramos conforto no zodíaco e no etéreo, mesmo que não acreditemos totalmente neles.
Astrologia ajudou a moldar a ciência
Os mais céticos talvez virem os olhos quando ouvem a palavra astrologia, mas vale lembrar que esta atividade desempenhou um papel importante na história da ciência. O matemático alemão do século 17 Johannes Kepler, que descobriu as leis do movimento planetário, também fazia horóscopos para seu chefe, o Sacro Imperador Romano Rodolfo II.
O livro Um Esquema do Céu: Astrologia e o Nascimento da Ciência, de Alexander Boxer, cientista de dados e doutor em física, conta como a astrologia foi uma parte da chamada filosofia natural pelo menos até a época da revolução científica no século 17, movimento que Kepler e Galileu contribuíram.
Boxer afirma que a crença nas “influências astrais” dos corpos celestes (estrelas, constelações e planetas) em eventos e pessoas na Terra motivou estudos cuidadosos do céu desde os tempos antigos. O detalhe e a precisão extraordinários das observações astronômicas de estudiosos como o matemático grego Hiparco, no século II AC, eram devidos, pelo menos em parte, à convicção de que apenas com dados excelentes as previsões e diagnósticos astrológicos poderiam ser confiáveis.
Cálculos astrológicos feitos pelos antigos babilônios os levaram a fazer novas descobertas em geometria. A importância de observar e medir os céus ajudou a estimular o desenvolvimento de instrumentos precisos como o astrolábio. Os dados astronômicos coletados pelo dinamarquês Tycho Brahe foram essenciais para as descobertas de Kepler.
Google no horóscopo
Boxer disse em uma entrevista ao The Guardian que ficou curioso sobre a astrologia porque “me ocorreu que ela pode ser vista como o antecedente da moderna ciência de dados. Se a astrologia é lixo, como sabemos? Pareceu-me que muitas dessas questões são questões de dados”.
A cada grande descoberta da astronomia (a ciência que estuda os corpos celestes) e que mudava o nosso entendimento dos planetas e galáxias, a astrologia de certa forma se reinventava. E cada vez mais a astrologia foi se tornando um fenômeno social.
Mas a lógica da astrologia ainda hoje tem reflexos na maneira que usamos algoritmos. “A astrologia era uma expressão de uma visão profundamente determinista da matemática da condição humana”, diz Boxer. “Essa parece ser a direção que muitas de nossas tecnologias atuais estão tomando - a ideia de que podemos ser descritos muito bem com certos algoritmos bastante simples que prevêem o que você vai comprar, como vai votar, onde você está indo, quando é provável que você desmaie e morra.
“Quão diferente é a prática de consultar as estrelas para prever o futuro, de confiar em algoritmos para determinar nosso destino?”, questiona.
Este possivelmente é um ponto fundamental. A notícia sobre o vidente Val Couto e como o tema dominou as páginas do Google Notícias é um exemplo de como os algoritmos podem ser limitados ou surpreendentemente eficientes. Se isso é bom ou ruim, vai depender do seu ponto de vista e da relevância que vê nesse acontecimento. Não por acaso, mais ou menos como encaramos a astrologia.