Conteúdo atualizado às 21h40 do dia 8 de outubro de 2020
Após dois anos de negociações entre o governo de Pernambuco e a Azul Linhas Aéreas, os aeroportos Oscar Laranjeiras, em Caruaru (Agreste), e Santa Magalhães, de Serra Talhada (Sertão), finalmente passarão a receber voos comerciais, a partir do dia 11 de novembro. Serão duas frequências diárias para cada destino, pela manhã e à tarde, de segunda a sexta-feira.
O anúncio ocorreu na tarde desta quinta-feira (8), em cerimônia no Palácio do Campo das Princesas, com a presença do governador Paulo Câmara e do presidente da Azul, John Rodgerson, além do diretor de Relações Institucionais e Alianças da companhia, Marcelo Bento Ribeiro, e de outros gestores públicos.
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Os bilhetes já podem ser adquiridos através dos canais oficiais da empresa. Custam a partir de R$ 194,80 para Caruaru e de R$ 323,90 para Serra Talhada por trecho. O tempo de viagem é de 45 minutos e 1h35, respectivamente. "A grande vantagem será a possibilidade de conexão fácil e rápida com cidades de todo o País a partir do Recife. Nenhuma outra capital do Nordeste tem ligação com todas as outras da região e ainda municípios do interior", destaca Bento Ribeiro.
Na outra ponta, o presidente da Empetur, Antonio Neves Baptista, reforça que os novos voos contribuem para o desenvolvimento econômico do Estado. "Não só o turismo, como as empresas do polo de confecções e dos outros arranjos produtivos do Sertão serão beneficiadas", pontua.
Conforme a coluna havia antecipado, as frequências para Caruaru e Serra Talhada serão realizadas com aviões Cessna Grand Caravan da Azul Conecta, a empresa sub-regional da Azul lançada em 11 de agosto. As aeronaves contam com capacidade para nove passageiros e 150 kg de carga. São as mesmas que voam hoje para cidades do Mato Grosso, Pará e Amazonas, além do interior de São Paulo.
A companhia considerou usar aeronaves ATR (até 70 clientes) para as novas operações em Pernambuco, mas mudou de ideia por dois fatores: a demanda ainda restrita por causa da pandemia e a incapacidade dos terminais de comportar aviões de maior porte.
Foram as deficiências de infraestrutura, aliás, que atrasaram o lançamento dos voos, de acordo com Bento Ribeiro. "Serra Talhada vem passando por investimento há muito tempo, primeiro para a construção da pista, depois para o terminal de passageiros provisório. Por último, agora está sendo feita uma revisão da cerca em volta do aeroporto. O de Caruaru já existia, mas precisava de adequações e o Estado neste momento está investindo no terminal, que era bem acanhado", justifica.
A Secretaria de Infraestrutura e Recursos Hídricos (Seinfra) diz, por meio de nota, que na quarta-feira (7) foi assinada a ordem de serviço para a execução da reforma do prédio do terminal de passageiros de Caruaru, onde serão investidos cerca R$ 450 mil. "A iniciativa também inclui a remoção dos obstáculos determinados pelo Plano Básico de Zona de Proteção de Aeródromo (PBZPA)", informa. A previsão é de que as obras sejam concluídas, no máximo, em dois meses. Ou seja, provavelmente os voos comerciais chegarão ainda em meio a reparos.
Em Serra Talhada, para o tipo de aeronave operada pela Azul, a Seinfra afirma que não será necessária a realização de obras no terminal. Prevendo o aumento da demanda, no entanto, a secretaria destaca que está finalizando um projeto de engenharia necessário para a contratação das obras de reestruturação do aeródromo.
Segundo a Seinfra, também se encontra em fase avançada o estudo para a concessão dos aeroportos de Caruaru, Serra Talhada e do Arquipélago de Fernando de Noronha à iniciativa privada.
Mesmo com as adequações dos aeródromos para aviões maiores, Bento Ribeiro acredita que levará pelo menos um ano até o desenvolvimento de uma demanda que justifique a migração para aviões ATR. Baseado na experiência de outros mercados com os Cessna Grand Caravan, a ocupação prevista é de 75% dos assentos.
Em um contexto "normal", o perfil de clientes seria principalmente de executivos. Mas com a pandemia, o comportamento mudou. "O movimento mais forte que temos visto é de amigos e famílias buscando se reencontrar. As viagens corporativas ainda não retornaram", atesta Bento Ribeiro. Mesmo assim, trade e setor produtivo comemoram a conquista dos novos voos, mirando o futuro.
A chegada dos voos comerciais da Azul a Caruaru e Serra Talhada é tida como uma oportunidade de aceleração do desenvolvimento das duas cidades-polo e adjacências. Promessa antiga, a conexão aérea ao Recife deve facilitar o fluxo de turistas a lazer e a negócios. Já o transporte de mercadorias por enquanto será limitado às de menor volume e maior valor agregado, em função do porte da aeronave operada, que só comporta 150 quilos de carga.
Encravada no meio do Estado, Serra Talhada tem mais de 86 mil habitantes e grande importância logística para todos os municípios do Pajeú, alguns da Paraíba e também do Ceará. “Recebemos essa notícia com muita alegria. Tem muita gente esperando esses voos para fazer turismo fora e empresário esperando para investir”, diz o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Serra Talhada, Marcos Oliveira.
Segundo o gestor, o município tem mostrado “um ambiente propício para o empresário investir”, conseguindo saldos positivos de postos de trabalho formal. “Fomos um dos municípios com maior geração de emprego no Estado. Além de serviços e comércio, também temos conseguido expandir a parte industrial, facilitando com incentivo fiscal e melhorando infraestrutura”, avalia o secretário. O condomínio industrial da cidade conta com mais de 300 km² e deve fechar o ano com cinco indústrias.
No Agreste, Caruaru reúne uma população de mais de 365 mil habitantes. Com outras cidades, como Santa Cruz do Capibaribe e Toritama, compõe o polo têxtil do Estado, que produz mais de 800 milhões de peças de vestuário ao ano. A chegada de voos comerciais diários, não só para essa atividade, significa um alívio em relação à facilidade nos deslocamentos constantes e necessários para o Recife e demais cidades do País. “Quem está na capital deve chegar ao aeroporto pelo menos duas horas antes do voo. A gente que sai do interior enfrenta uma distância de 200 km e ainda o caos do trânsito urbano. Perde-se praticamente um dia de trabalho só com deslocamento. Toda semana temos motorista para pegar cliente ou fornecedores no Aeroporto do Recife. Com a vinda de novos voos para Caruaru, aumenta a facilidade de chegar e sair”, afirma o empresário Arnaldo Xavier.
Com combustível, diária de motoristas e alimentação, o custo atual chega a ser praticamente o mesmo do valor atualmente cobrado pela Azul por trecho, segundo Xavier, mas o ganho em tempo é bastante superior. “Fazer o trajeto Caruaru-Recife com logística de pessoas e encomendas rápidas pode complementar o leque que Caruaru dispõe. Já olhamos adiante, pensando num segundo momento em voos para Petrolina, Salvador, Fortaleza…”, corrobora o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Caruaru (Acic), Luverson Ferreira.