Após um ano conturbado marcado pela demissão da curadora, adiamento por tempo indeterminado da edição presencial e cancelamento da homenagem a Elizabeth Bishop, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) inicia nesta quinta-feira (3) sua 18° edição de maneira totalmente virtual. A programação - que agora pode ser acompanhada por leitores de todo o Brasil - segue gratuitamente através das redes sociais e do canal do YouTube da Flip, reunindo grandes nomes da literatura e do pensamento contemporâneo brasileiro, como Lilia Schwarcz, Itamar Vieira Jr., Jeferson Tenório, Bernardine Evaristo e Caetano Veloso.
Apesar da participação de autores internacionais estar muito centrada em nomes norte-americanos, a programação desta Flip parece ter atendido às sugestões de Fernanda Diamant que, ao deixar a curadoria em agosto passado disse que era preciso repensar o evento "à luz dos acontecimentos." Racismo, autoritarismo, quebra de paradigmas identitários e questões de gêneros estão no foco desta edição.
O tom da mesa de abertura já é de grande sintonia com os debates atuais, com a premiada autora londrina Bernardine Evaristo, primeira mulher negra vencedora do Booker Prize - em 2019, por Garota, Mulher, Outras (lançado este ano no Brasil ela Companhia das Letras). A partir das 18h ela conversa com a brasileira Stephanie Borges, vencedora do Prêmio Cepe Nacional de Literatura de 2019 com o livro Talvez Precisemos de Um Nome Para Isso, sobre o tema Diáspora. Em seguida, às 20h30, a música estará na pauta com os cirandeiros de Paraty, Fernando e Marcello Alcantara, para conversar sobre a cultura caiçara.
Na sexta-feira (4), Jonathan Safran Foer e Márcia Kambeba discutem, com mediação de Jennifer Ann Thomas, a respeito dos impactos das ações humanas sobre o meio ambiente e a educação indígena. Eileen Myles, escritora norte-americana cuja obra é de grande importância para a literatura queer, participa deste segundo dia da Flip com a mesa Eileen Para Presidente!, que também conta com a presença de suas tradutoras brasileiras Bruna Beber e Mariana Ruggieri.
Encerrando a sexta acontece o debate Animais Abatidos, com as romancistas Pilar Quintana (Colômbia) e Ana Paula Maia, autora de Enterre Seus Mortos. A mediação é do crítico literário pernambucano Schneider Carpeggiani.
O sábado (5) reúne nomes de peso das artes e do pensamento nacional. A historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz (A Bailarina da Morte - A Gripe Espanhola no Brasil, Brasil - Uma Biografia), conversa com a ombudsman da Folha de São Paulo, Flavia Lima, e a socióloga Flavia Rios, às 16h, Sobre o Autoritarismo.
Em seguida, às 18h, é a vez do finalista do prêmio Oceanos 2020 e vencedor do Romance Literário do Jabuti 2020 por Torto Arado, Itamar Vieira Jr., conduzir o papo sobre Ancestralidades com o romancista nigeriano Chigozie Obioma, autor de Uma Orquestra de Minorias, sob mediação de Ángel Gurría-Quintana. Encerrando o penúltimo dia Caetano Veloso se encontra com autor espanhol Paul B. Preciado para falar sobre o tema Transições.
O último dia da 18° Flip, domingo (6), tem início mais cedo, às 14h, com uma mesa que vai debater os saraus periféricos. Participam Rodrigo Ciríaco e Elisa Pereira, com mediação de Jéssica Moreira. Ás 16h o escritor carioca radicado em Porto Alegre, Jeferson Tenório, autor de um dos grandes lançamentos de 2020, O Avesso da Pele, conversa sobre racismo e memórias familiares com a dramaturga e romancista norte-americana Regina Porter.
Às 18h acontece a mesa Vocigrafias Insurgentes, sobre poesia e performances, com Jota Mombaça (Brasil) e Danez Smith (EUA). E por fim, às 20h, a poesia oral do Slam dá o tom do encerramento da programação da Flip, com Nathalia Leal e Luz Ribeiro.
Nos intervalos das meses haverá sempre exibição de vídeos sobre “manifestações paratienses”, na tentativa de manter a tradição da Flip de relacionar a literatura com a vida cultural e artística da cidade fluminense.