Após pausa necessária de um ano devido à pandemia do novo coronavírus, o Recifest — Festival de Cinema da Diversidade Sexual e de Gênero — retomou as atividades, com resistência, adequando-se ao momento, numa versão online. Considerado um dos maiores eventos de cinema do segmento LGBTQIA+, o festival inicia sua programação hoje e segue até quarta-feira (31), com a exibição de 30 curtas-metragens de vários estados do País, mais um longa, além da realização, de maneira remota, de oficinas e rodas de diálogos.
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"Esse ano estamos nessa edição difícil. Queríamos estar todo mundo junto, de mãos dadas, naquele burburinho na calçada do [Cinema] São Luiz, na fila que dobrava quarteirões, a equipe se abraçando, se beijando. [...] Mas é importante esse festival acontecer, principalmente, no momento em que estamos vivendo, em uma pandemia", reflete Rosinha Assis, produtora do festival ao lado de Carla Francine.
Com classificação de 16 anos, nesta edição, três artistas mulheres trans do Recife serão homenageadas: Elza Show, Raquel Simpson e Sharlene Esse. Uma das novidades é que elas, impossibilitadas pela pandemia de se apresentar em locais públicos, receberão um pagamento pelo direito de imagem.
Junto à programação de filmes, a edição especial do Recifest abrirá espaço para exibir uma peça teatral online. Trata-se de Salto, do grupo Bote de Teatro, que irá ao ar no último dia do evento, antes da cerimônia de premiação, a partir das 19h. O espetáculo é uma livre adaptação do texto Os Saltimbancos, do italiano Sérgio Bartotti, traduzido por Chico Buarque.
"O Recifest sempre abrigou outras linguagens. Temos o foco sobre o cinema, mas sempre tivemos apresentações, performances... É uma forma de trazer esse espírito de congregar, de quem está falando a mesma coisa e quer trazer as suas mensagens", justifica a produtora Carla Francine.
Os curtas-metragens do Recifest estarão disponíveis para visualização e votação popular no site do evento (www.recifest.com) até a próxima terça (30). Além disso, a programação faz exibição especial do longa cearense Canto dos Ossos, de Jorge Polo e Petrus de Bairros.
Na curadoria do festival, os filmes foram selecionados para estimular sensações, acessar outros tempos e repensar impossibilidades, sendo divididos em cinco sessões temáticas. Além do público, o Júri Oficial também premiará trabalhos.
Entre as obras escolhidas, sete foram realizadas em Pernambuco. "O cinema pernambucano pode ser, e ele é, várias coisas. Os filmes escolhidos daqui — a maioria do Recife e Olinda — não têm muitos pontos em comum, e mesmo assim são tão bons quanto", analisa o curador Felipe André Silva.
Com o Recifest resistindo virtualmente, o evento segue militando pela visibilidade LGBTQIA+. "Nós temos uma equipe de militantes. São pessoas que prezam pela liberdade, que querem trazer essas novas narrativas e corpos dissidentes. Não temos só narrativas sobre a temática LGBTQIA+, e de pessoas LGBTQIA+. Aqui elas falam sobre o que elas quiserem falar. Então, podemos dizer que não somos só um festival de temática. Nós somos um festival LGBTQIA+, formado por pessoas, corpos e mentes dessa comunidade", conclui a produtora Carla Francine.