"Vou arrancar do meu diário / As folhas que escrevi falando de você". A voz doce, a pouca idade e faixas como "Amor de Menina" e "Amor de Adolescente" fizeram Dayanne Henrique ser lembrada como uma figura "teen" da música brega de Pernambuco. O seu maior sucesso era um desabafo juvenil e a figura da "lolita", hoje sensatamente problematizada, vivia um ápice na cultura pop.
Hoje com 33 anos, a "Menina do Diário" estreou no YouTube um projeto para destacar o seu nome e a sua história na música. O DVD "Baú da Day", lançado na última sexta-feira (15), reúne oito clássicos do brega romântico que ficaram conhecidos em sua voz com novas roupagens - para além da sonoridade, já que a apresentação foi gravada num cenário digital com tecnologia StageCraft (ou LedWall), que projeta cenários 3Ds.
O repertório resgata sucessos dos tempos da banda Frutos do Amor (em que ela gravou "Diário" e "Amor de Menina") e da Banda Absoluta. "As minhas expectativas são as melhores, pois o público está ajudando e recebendo muito bem. Estou trazendo antigos sucessos porque as pessoas gostam de recordar. Todo mundo tem histórias com essas músicas", diz a cantora, em entrevista ao JC.
Dayanne Henrique começou a carreira de cantora aos 9 anos cantando forró pé de serra ao lado de Arlindo dos Oito Baixos. Aos 14, ingressou na Frutos do Amor com o controverso brega "Relaxa", que tinha duplo sentido. Nessa época, ela chegou a comparecer com a família no Departamento de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA). "A juíza deu uma autorização para que eu pudesse realizar shows sempre acompanhada por responsáveis, mas na realidade eu sempre estive com a minha mãe, que me acompanha até hoje. Graças a Deus a minha família sempre me apoiou, desde muito nova", relembra.
"O brega já é rotulado como um ritmo que sofre preconceito. Por ser mais nova, adolescente, senti muito isso, principalmente por ser mulher. Foi bem complicado." Apesar dos julgamentos, Dayanne não desistiu. "Diário" foi a última música a entrar no primeiro álbum da Frutos do Amor (O Fruto Mais Gostoso do Brega), sendo um presente de Zeca Pinheiro, da Banda Camelô. "Essa música estourou e até hoje todos conhecem. Por isso ainda usamos o slogan 'a menina do Diário'", explica a artista, que chegou a montar a sua própria banda (Absoluta) e deixou o brega para ser vocalista da Noda de Caju, do forró, em 2005.
"Revival" do brega romântico
O atual retorno de Dayanne faz parte de um contexto maior para a cena do brega. Em 2017, o projeto Amigas do Brega (na formação com Palas Pinho, Dany Myller, Eliza Mell e Dayanne) fez o público pernambucano relembrar ou conhecer os rostos e os nomes que deram vozes a sucessos que nunca deixaram o imaginário coletivo. Prova disso é que, apesar da formação citada não existir mais, todas integrantes hoje tocam seus projetos. Outros nomes, como Carina Lins (Bandas Carícias e Carina) e Cláudia Morais (Banda Mancha de Batom) também ressurgiram no mercado.
"Eu tenho uma gratidão muito grande pelas Amigas do Brega. A banda me ajudou a voltar para o brega e fez o público reconhecer o valor do 'brega das antigas'. Era um ritmo sem muita atenção, então foi uma escada para que voltássemos a divulgá-lo."
Ela diz guardar boas lembranças do grupo, apesar da dissolução conturbada - após a separação, Palas Pinho chegou a ir para a justiça para impedir que Dany, Eliza e Dayanne usassem o nome "As Amigas" num outro projeto. "As polêmicas sempre existem nas nossas vidas. Era um grupo com várias mulheres de opinião. Isso é complicado de lidar, mas foi maravilhoso para ambas as partes. Eu tenho muita saudade do projeto, aprendi muito com elas. Agora estou num novo ciclo sobre a minha história." E, de fato, o "Baú da Day" reconta sua trajetória.
Sobre as mudanças do brega do início dos anos 2000 para a atualidade, ela opina: "Antes só tínhamos os DJs, as rádios comunitárias e as carrocinhas. Hoje temos ferramentas maravilhosas na internet, que ajudam na visibilidade e também financeiramente. A tecnologia está também nos shows. Esse meu DVD tem um cenário de LED já usado pelo Gusttavo Lima. Usamos tecnologia, damos novas roupagens para, aos poucos, irmos evoluindo. O brega das antigas não ficou no passado."
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