Em um momento em que a música brega pernambucana é alvo de várias discussões e conta com ampla visibilidade na cultura digital, o livro "Ninguém É Perfeito e a Vida é Assim: A Música Brega em Pernambuco", do pesquisador e professor de comunicação da UFPE Thiago Soares, ganhará um relançamento em e-book nesta sexta-feira (3). O livro digital ficará disponível no site da Outros Críticos.
A primeira edição foi lançada em 2017, com fotografias de Chico Ludemir, apoio do Funcultura e edição da Outros Críticos. Como os exemplares físicos esgotaram, a obra será relançada gratuitamente em e-book, com um novo capítulo: "Bregafunk, a racialização do brega".
Para marcar esse relançamento, será realizado o debate "O Brasil é brega: música, performance e moral na cultura brasileira", no canal do Youtube oficial da UFPE, às 17h, com participação de Thiago Soares e outros pesquisadores de brega pelo Brasil: Rafael José Azevedo ("Derivas no Brega Paraense"), Rafael Andrade ("Centenas de Casos de Amor: As performances do brega em Reginaldo Rossi") e Bruno Azevêdo ("No ritmo da seresta: música brega e choperias no Maranhão"), com mediação de Simone Luci Pereira.
A nova edição de "Ninguém É Perfeito e Vida é Assim" também marca o fim do projeto Outros Críticos, que por muitos anos atuou como editora independente. A marca continuará com o seu site aberto para consulta, com grande parte do seu acervo disponível gratuitamente, além de comercializar as publicações remanescentes em sua loja virtual.
Bregafunk, a racialização do brega
"Em 2017, o livro foi lançado exatamente num período em que foi aprovada a lei que reconheceu o brega como uma expressão cultural de Pernambuco. De lá para cá, tivemos um episódio muito importante que foi a nacionalização do brega-funk", diz Thiago Soares. "Eu tento avançar nesse debate sobre o brega-funk trazendo à tona a noção de que ele racializou o brega. Ele trouxe todas as tensões raciais que emergem a partir da presença de sujeitos pretos no cenário brega."
O pesquisador comenta que, a partir da chegada do brega-funk, artistas começaram a cruzar determinadas fronteiras e isso ocasionou práticas de racismo. "Cito o episódio em que Shevchenko e Elloco foram proibidos de tocar numa festa de jovens ricos e também o episódio em que Troinha foi proibido de subir no palco do São João de Caruaru, sempre numa ideia de que existia arruaça."
Soares cita que, no Brasil, existe um histórico de racismo em torno de pessoas pretas se divertindo, a exemplo da existência da "lei da vadiagem" durante o começo da República. "Pessoas negras eram presas por estarem se divertindo e dançando em espaços públicos, logo após a libertação dos escravos. É uma prática que persiste, pois vemos uma vigilância da polícia em torno dos dançarinos de passinho. A ocupação do espaço público é chamada de arrastão. É um conjunto de questões que levanto", finaliza.