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Filme do Baile do Menino Deus tem hip hop e Maria e José no Centro do Recife

Chico César, Okado do Canal, Gabi da Pele Preta, Carlos Filho e Isadora Melo falam sobre edição atípica

Cadastrado por

Emannuel Bento

Publicado em 22/12/2021 às 18:11 | Atualizado em 22/12/2021 às 19:15
BAILE DO MENINO DEUS Filme do tradicional espetáculo conta com Chico César - STILL/FRAME

Transformado em filme em razão da pandemia, o Baile do Menino Deus chega ao público nesta quinta-feira (23), a partir das 20h, no YouTube. Para além das cenas gravadas em importantes pontos do Recife, ultrapassando os limites do Marco Zero, o projeto audiovisual dirigido por Tuca Siqueira, com direção geral de Ronaldo Correia de Brito e produção de Carla Valença, conta com uma pluralidade inédita de ritmos e de figuras emblemáticas da cultura nordestina. Filme do Baile do Menino Deus tem hip hop e Maria e José no Centro do Recife

Os novos solistas, por exemplo, são a rainha da ciranda Lia de Itamaracá e o cantor paraibano Chico César. "O Baile do Menino Deus é mais que um grande espetáculo pra mim. É como se fosse uma espécie de portal em que entro para realizar meus sonhos de adolescente do sertão paraibano”, diz Chico. O texto do "Baile" foi criado há 40 anos como parte da Trilogia das Festas Brasileiras, também composta por "Bandeira de São João" e "Arlequim de Carnaval".

Além dos nomes musicais já tradicionais no espetáculo, como Silvério Pessoa, Lucas dos Prazeres e Carlos Filho, que recentemente participou do The Voice Brasil, o filme é marcado pela estreia de nomes que representam ritmos plurais no espetáculo, a exemplo de Okado do Canal, expoente do hip hop que protagoniza o filme “Rio Doce”, recente vencedor da Première Brasil Novos Rumos do Festival do Rio.

BAILE DO MENINO DEUS Filme do tradicional espetáculo conta com Lia de Itamaracá - STILL/FRAME
BAILE DO MENINO DEUS Filme do tradicional espetáculo conta com Silvério Pessoa - STILL/FRAME
BAILE DO MENINO DEUS Filme do tradicional espetáculo será lançado no YouTube - STILL/FRAME

Hip hop, representatividade preta

Os elementos contemporâneos do hip hop tomam conta do filme quando Okado, e sua trupe de 16 dançarinos chegam ao Teatro de Santa Isabel à procura do Menino Deus, que acabou de nascer, junto com crianças e dois Mateus - vividos por Arilson Lopes e Sóstenes Vidal.

"É muito importante ocupar esses espaços. Não só breaking, mas outras danças urbanas também, acho que essas junções fazem com que o breaking tenha uma pitadinha pernambucana. Misturar ele com frevo, cavalo marinho, xaxado, maracatu entre outras culturas regionais posso dizer que fortalecemos o 'regional style'. O deixamos menos americanizado, mais pernambucano, mais nordestino. O baile proporcionou isso", diz Okado do Canal, que foi convidado pelo próprio Ronaldo Correia de Brito.

"Para mim foi não só um prazer, mas também uma satisfação pessoal participar. Quando era guri, sempre via aquela estrutura montada no Marco Zero, sempre tive curiosidade de saber como era por dentro. Esse ano tive a honra de fazer parte, de trocar saberes e de viver uma energia surreal com os outros dançarinos. É muito importante o hip hop em lugares como esses, dividindo espaço com tanta gente massa", continua.

BAILE DO MENINO DEUS Filme do tradicional espetáculo conta com Gabi da Pele Preta - STILL/FRAME
BAILE DO MENINO DEUS Filme do tradicional espetáculo terá Gabi da Pele Preta - STILL/FRAME

Já Gabi da Pele Preta, nome ligado à nova cena autoral pernambucana da Mostra de Música Reverbo, reforça sobre o "protagonismo preto" que existe no elenco da edição. "Esse foi o meu primeiro sentimento ao receber esse convite. Outra coisa é, ver o Baile virar filme nesse momento pandêmico, ressignificar o processo de feitura na arte como estratégia de sobrevivência do ponto de vista prático como comer, pagar conta, ir e vir, mas também da sobrevivência das nossas narrativas, do ponto de vista da cultura popular, que é sobretudo, preta."

A cantora ainda acredita que o Baile é como uma "manutenção da cultura popular". "Sempre foi. Apresentá-lo nesse formato de filme é permitir que essa contribuição chegue a mais pessoas. A mim, me eleva trabalhar com nomes tão incríveis, gente que admiro, mas que, em grande parte, também sou amiga. É afetivo, mas é também a legitimação da minha construção enquanto trabalhadora da arte."

O cantor Carlos Filho, que participa do Baile há cinco anos, sempre em diferentes personagens, diz que o espetáculo tem um "texto muito vivo". "Ronaldo está sempre adaptando para questões que estamos vivendo a cada ano, questões políticas de uma forma geral", comenta. "Os folguedos que são trabalhados envolvem uma tradição que mexe muito comigo, pois sou do Sertão do Pajeú. Todas as brincadeiras acabam conversando com as várias matrizes que me formaram", diz, sobre a musicalidade.

Maria e José pernambucanos da vida real

BAILE DO MENINO DEUS No filme do tradicional espetáculo, José é interpretado por Marcio Fecher, enquanto Maria é vivida pela atriz e cantora Isadora Melo - STILL/FRAME
BAILE DO MENINO DEUS Filme do tradicional espetáculo será lançado no YouTube - STILL/FRAME

Neste ano, José será Márcio Fecher e Maria a atriz e cantora Isadora Melo. Eles vivem um casal natural de Nazaré da Mata, na zona canavieira do estado. A mãe do menino Deus sonha em cursar uma faculdade, enquanto José trabalha como carpinteiro na região. O casal vai ao Recife comprar enxoval. A partir daí o longa traz cenários como Rua do Sol, Rua da Aurora, Mercado de São José, entre outros. Pela noite, Maria sente as dores do parto e, ao invés do presépio, o casal se vê numa situação de rua - um contexto muito real do Centro da cidade.

"O roteiro desse ano trouxe um subtexto muito importante e diferente do que contamos no Marco Zero", diz Isadora Melo. "São duas pessoas comuns. Eu e Marcio somos bem essa cara de todo mundo e a direção de arte reforça. Maria e José são uma família de Pernambuco como qualquer outra. No filme, Maria, José e o menino Deus estão na terra, andando de ônibus, fazendo compras no mercado municipal, sentindo dor, se perdendo. Buscar Maria, junto do José de Marcio e com a guiança de Quiercles Santana, foi trabalhar em cima dos sentimentos mais naturais que surgem quando se tem um filho. Trabalhamos para que tudo o que acontecesse fosse o mais natural e intuitivo possível.”

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