Da AFP
O cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard, pai da Nouvelle Vague, que morreu nesta terça-feira (13), aos 91 anos, recorreu ao suicídio assistido, confirmou à AFP um amigo da família.
"Jean-Luc Godard recorreu à assistência jurídica na Suíça por morte voluntária, em consequência de 'múltiplas patologias incapacitantes' de acordo com os termos do relatório médico", explicou Patrick Jeanneret, confirmando uma informação publicada pelo jornal francês Libération.
O suicídio assistido é um sinônimo do suicídio medicamente assistido, tipo de suicídio praticado com a ajuda de um médico. De forma intencional, o profissional disponibiliza à pessoa as informações ou os meios necessários para cometer suicídio - incluindo aconselhamento sobre doses letais de fármacos e prescrição ou fornecimento desses fármacos.
Essa prática é diferente da eutanásia, quem administra o meio pela qual se dá a morte é o próprio médico, sendo geralmente uma dose letal de um fármaco, enquanto no suicídio medicamente assistido é o próprio paciente quem se auto administra o fármaco.
"Não haverá nenhuma cerimônia. Jean-Luc Godard faleceu de maneira tranquila em sua residência, ao lado de seus entes queridos. Será cremado", afirma o comunicado da família sobre o falecimento. "A cremação acontecerá em até dois dias, talvez na quarta-feira", acrescentou, antes de informar que as "cinzas permanecerão com sua esposa".
Jean-Luc Godard é considerado o pai de Nouvelle Vague
Jean-Luc Godard deixou sua marca entre gerações de cinéfilos, como um dos pais da Nouvelle Vague, com clássicos como "Acossado" ou "O Desprezo".
Ele e François Truffaut lideraram a "Nouvelle Vague", que sacudiu o mundo do cinema nos anos 1960. Em 1987, recebeu um César honorário pelo conjunto de sua carreira. Em 2010, recebeu um Oscar honorário por sua obra. E o Festival de Cannes também concedeu uma Palma de Ouro especial em 2018.
"Foi como uma aparição no cinema francês. Logo se tornou um mestre. Jean-Luc Godard, o mais iconoclasta dos cineastas da Nouvelle Vague, havia inventado uma arte decididamente moderna, intensamente livre. Perdemos um tesouro nacional, um olhar genial", reagiu no Twitter o presidente francês, Emmanuel Macron.
"JLG", como também era conhecido na França, recusava homenagens, que foram muitas em sua longa carreira: prêmios nas principais competições de cinema do mundo e prêmios honorários da Academia do Oscar, da Academia Francesa ou do Festival de Cinema de Cannes. Ele morava há anos na cidade de Rolle, às margens do lago Leman, na companhia de sua esposa.
É autor de frases imortais, como "o cinema não escapa à passagem do tempo. O cinema é a passagem do tempo" e cenas fascinantes, como Brigitte Bardot conversando nua na cama. Ou Jean-Paul Belmondo caminhando com Jean Seberg na Champs Elysées.
Nascido em 3 de dezembro de 1930, Godard começou como crítico de cinema na famosa revista "Cahiers du Cinéma". Quando pegou a câmera, já tinha ideias claras: acabar com o classicismo que mais uma vez inundara o cinema francês após a Segunda Guerra Mundial.
"Acossado", o filme de 1960 que o consagrou, utilizava os travellings, a música de forma inovadora. Foi seu primeiro trabalho e com ele ganhou um prêmio no Festival de Berlim.