Um grupo de 42 famílias de vítimas do incêndio na Boate Kiss estuda ir à Justiça contra a Netflix.
O motivo é a série ficcional Todo Dia a Mesma Noite, que retrata a história da tragédia do dia 27 de janeiro de 2013, quando 242 pessoas morreram após a Boate Kiss em Santa Maria (RS) pegar fogo.
Os parentes das vítimas afirmam que não foram consultados e dizem estar incomodados com parte das cenas e com o que classificam como comercialização da tragédia.
O empresário Eriton Luiz Tonetto Lopes é um dos líderes do movimento, e alega ter sido pego de surpresa pela obra audiovisual.
"A maioria não foi ouvida, então me achei no direito de protestar", conta ele que perdeu a filha Evelin, com 19 anos na tragédia.
De acordo com ele, os responsáveis pela série não procuraram os familiares de outras vítimas além das retratadas nas obras.
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"Não queremos dinheiro da Netflix, a gente quer que parte desse valor arrecadado seja usado para ajudar os sequelados", diz.
Lopes é bastante crítico pelas ações comerciais que envolvem a memória da tragédia, como venda de camisetas, canecas e garrafas d'água.
Série Boate kiss é diferente
Advogada que representa as famílias das vítimas, Juliane Korb, afirma que as medidas legais ainda estão sendo avaliadas, já que é necessário avaliar as queixas dos familiares em relação à lei.
"Ainda estamos estudando a o que podemos fazer juridicamente a respeito de algumas informações desses pais."
De acordo com ela, o principal motivador para esse movimento dos pais foi a surpresa e falta de comunicação sobre a produção da Netflix.
"Uma minissérie é muito diferente de tudo que foi produzido até hoje de conteúdo jornalístico. Muitos pais não tiveram estrutura psicológica de entrar naquele ginásio para fazer o reconhecimento dos seus filhos", afirma Juliane.
Boate Kiss netflix data
A cena do ginásio onde os corpos foram levados no dia tragédia é uma das que compõem o trailer da minissérie de cinco episódios que estreou em 25 de janeiro.
Juliane diz que o primeiro pedido a ser feito diretamente à Netflix é uma adequação desse trailer pois, de acordo com ela e com Lopes, as imagens já despertaram problemas psicológicos em alguns familiares.
"Faltou muita sensibilidade, porque os familiares envolvidos de forma direta com a associação tinham conhecimento. Mas faltou sensibilidade da plataforma aos demais pais serem pelo menos comunicados que estava acontecendo", diz Juliane.
Segundo ela, esses pais são favoráveis que a história siga sendo contada, mas defendem que isso seja feito por meio de conteúdos jornalísticos e documentários.
Associação dos Familiares das Vítimas declarou apoio à produção da minissérie
Em nota publicada nas redes sociais no domingo, 29, a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) declarou apoio à produção, disse estar ciente e afirma que se sentiu representada pela minissérie.
Acrescenta ainda que a obra retrata as famílias que chegaram a ser processadas por críticas ao trabalho do Ministério Público na época.
O que aconteceu com a Boate Kiss?
O prédio onde funcionou a Boate Kiss, segue de pé. A fachada da antiga Boate kiss terá um muro de concreto e tijolos. O local será um memorial em homenagens aos 242 mortos na tragédia.
Sócio da Boate kiss se enforcou?
Elissandro Spohr, um dos dois sócios da Boate Kiss, tentou se enforcar com uma mangueira enquanto tomava banho em um hospital da cidade de Cruz Alta, onde estava internado tratando de problemas respiratórios decorrentes do incêndio.
A tentativa de suicídio foi confirmada por Marcelo Arigony, um dos comissários da Polícia Civil do estado do Rio Grande do Sul responsáveis pela investigação da tragédia na Boate Kiss.
Com Estadão Conteúdo