EXPERIMENTAÇÃO SONORA

Grupo Sons da Mata inclui saxofone na ciranda, no coco de engenho e no maracatu rural

Idealizado por Luciano Sax, banda adicionou o instrumento de sopro na execução de ritmos da Mata Norte

Cadastrado por

Romero Rafael

Publicado em 20/04/2022 às 16:34 | Atualizado em 20/04/2022 às 19:27
Sons da Mata propõe uma experimentação sonora de ritmos da Zona da Mata Norte de Pernambuco, ao incluir saxofone na banda - DIVULGAÇÃO

A abundância da riqueza cultural de Pernambuco, que é ancorada na tradição mas sem manter-se estanque, pode ser apreciada no trabalho do grupo Sons da Mata, que fez sua estreia com o show "Sons da Mata - O Saxofone nos Ritmos da Mata Norte de Pernambuco". A apresentação, disponível no YouTube, celebra a ciranda, o maracatu rural e o coco de engenho.

Idealizado pelo músico e brincante Luciano Ramos, conhecido como Luciano Sax, o show de estreia do grupo Sons da Mata é resultado da sua vivência como artista e pesquisador no universo da cultura popular. Ao discutir em sala de aula o lugar do saxofone nos ritmos da Zona da Mata Norte de Pernambuco, de onde ele é, constatou que a presença do instrumento se mostrava tímida nesses espaços, quando comparada a outros de sopro, como trompetes e trombones. Isso o levou a refletir sobre como a adição deste elemento e as possibilidades de seu uso poderiam contribuir para fortalecer essas manifestações.

“O uso do saxofone nos ritmos da Mata Norte ainda é novo. Até pouco tempo atrás, dificilmente se via esse instrumento no coco, na ciranda e no maracatu. Isso me instigou a pensar em como criar um repertório totalmente instrumental que evidenciasse o saxofone e, para me ajudar, chamei meu amigo, o arranjador e instrumentista Felipe Vieira. Aos poucos, fomos percebendo que só o instrumental não dava conta do que queríamos e era necessário também destacar o canto, homenageando a poesia e o improviso que são marcantes nesses ritmos”, explica Luciano.

Luciano Ramos, mais conhecido como Luciano Sax, é o idealizador do Sons da Mata - DIVULGAÇÃO

Nesta empreitada, os timbres tradicionais das cirandas e maracatus da Mata Norte, produzidos pelo ganzá, surdo, caixa, trombone e trompete, são reforçados pelo saxofone. Essa inserção parte de uma experimentação sonora inovadora, que adota dois saxofones na formação do grupo, um deles na posição de solista, enquanto o outro compõe a base harmônica junto com o trompete e o trombone.

Ciranda, coco de engenho e maracatu rural

Mesclando o instrumental e a palavra cantada, o repertório é dividido entre ciranda, com músicas de Mestre Zé Galdino e Lezildo dos Santos, o Mestre Bi; coco de engenho, executado na "pegada tradicional de Nazaré da Mata", com criações de Nal Caboclo, João Paulo Rosa e Santino Cirandeiro; e maracatu rural, com letras de Mestre Bi, que, inclusive, participa do projeto como convidado, cantando.

Para o projeto, foram convidados músicos em sua maioria oriundos de Nazaré da Mata e com experiência em bandas, folguedos e ritmos regionais. A banda é formada por Luciano Ramos (saxofone soprano e tenor), Felipe Rodrigues (saxofone alto), Guilherme Otávio, Tarcísio Silva e Felipe Vieira, nos trombones; João Paulo Rosa, Nailson Vieira, Luciel Ramos, João Silva (Joãozinho) e Alisson (Lilo), na percussão.

“A ciranda, o coco e o maracatu eram essencialmente festas de terreiro e, por isso, não tinham uma estrutura de palco como há atualmente. Como o trompete e o trombone têm uma certa intensidade em questão de volume, eram bem aceitos nesses espaços porque conseguiam uma propagação maior do som em relação a certos instrumentos, como clarinete e saxofone. De um tempo para cá, os mestres passaram a incorporar o saxofone pois perceberam o quanto o som do saxofone é bonito e remete a uma questão romântica da ciranda, que tem em suas letras poesias que falam de amor, de protestos, políticas, temas da atualidade”, enfatiza Luciano Sax.

O projeto “Sons da Mata - O Saxofone nos Ritmos da Mata Norte de Pernambuco” foi contemplado pela 2ª edição do Edital de Criação, Fruição e Difusão da Lei Aldir Blanc de Pernambuco de 2021 (LAB PE 2021).

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