No próximo dia 30, os investidores de todo o mundo estarão com os olhos atentos aos vencimentos dos contratos futuros de petróleo para junho. A expectativa é de uma provável repetição de um momento único que aconteceu na semana passada. Na semana passada o preço do barril da commodity fechou abaixo de zero pela primeira vez na história. A cotação negativa de US$ 37,63 foi o resultado da combinação entre a pandemia global do novo coronavírus e um excesso de produto disponível nos mercados globais.
Antes de responder sobre as possibilidades desse fenômeno se repetir, é preciso explicar que o que foi negociado com valor negativo foi 0 petróleo WTI, que é referência no mercado americano. Negociado na Bolsa de Nova York, o West Texas Intermediate é o produto extraído no Golfo do México. Uma de suas principais características é ser mais leve e fácil de ser refinado.
O outro tipo é o Brent, que é o petróleo extraído do Oriente Médio e do Mar do Norte e comercializado na Bolsa de Londres. Esse é referência para o mercado europeu e também para o brasileiro, pelas características similares ao produto da Petrobras. Ao contrário do WTI, esse óleo é mais pesado e, por isso, seu valor tende a ser menor.
Mas o que ocorreu na semana passada foi o inverso e o WTI ficou "de graça". Apesar dessa oscilação atípica nos preços, o WTI fechou na sexta-feira, dia 24 a US$ 16,94 o barril enquanto o Brent estava cotado a US$ 21,44 o barril. A dúvida, claro, é sobre o futuro do petróleo. E vamos ajudar você a entender.
Os contratos de junho com vencimento no dia 30 são para o Brent, mas especialistas não acreditam na repetição dos preços negativos do WTI. A consultoria britânica Capital Economics diz que o mercado vai ser caracterizado por uma considerável volatilidade de preços por pelo menos mais um mês, até que a demanda global de petróleo atinja seu nível mais baixo. A agência de classificação de risco Moody's reafirmou que os preços negativos são uma anomalia. "O preço do WTI que vimos era para o contrato futuro de maio que vencia no dia seguinte e precisava ser entregue fisicamente", afirma Steve Wood, diretor administrativo da Moody's, que reforça dizendo que em um mercado normal os contratos raramente são liquidados.
A crise desencadeada pelo coronavírus reduziu em um terço a demanda mundial de petróleo. A produção global, contudo, foi inicialmente acelerada pela crise entre a Rússia e a Arábia Saudita. O resultado disso é: excesso de petróleo e esgotamento gradual da capacidade de armazená-lo. Soma-se a essa relação distorcida entre oferta e demanda o vencimento dos contratos de maio do WTI no mercado futuro. Sem ter onde estocar o petróleo comprado, muitos investidores preferiram pagar para devolver os barris comprados, o que levou ao preço negativo. Houve um descasamento entre o mercado "de papel" (da bolsa) e o "físico" (armazenamento do produto). "A desconexão entre as bolsas de valores e a realidade econômica foi baseada em um otimismo que dificilmente será verdadeiro", escreveu Joshua Mahony, analista sênior de mercados do banco suíço IG em relatório.
Um corte combinado pela Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados) deve ter efeitos concretos (mesmo que limitados) sobre os estoques. O ministro da energia da Rússia, Alexander Novak, disse na semana passada que o corte na produção da Opep+ deve ser de 15 milhões a 20 milhões de barris por dia a partir de maio - o cartel já tinha chegado a um acordo para redução de 9,7 milhões de barris por dia na oferta. O preço também será afetado pela evolução do combate ao coronavírus. "Os atuais preços do petróleo forçarão os produtores a continuarem reduzindo a produção. Mas, à medida em que a demanda se recuperar, pelo menos parcialmente, quando os bloqueios para conter a Covid-19 forem reduzidos, o aumento de estoques deve cessar", defendeu o Danske Bank, o principal banco dinamarquês. Tudo isso deve ajudar a diminuir bastante a pressão sobre o próximo vencimento dos contratos do WTI, que é mais crítico em razão da situação de excesso de oferta no mercado americano. O presidente Donald Trump anunciou que vai apresentar medidas para ajudar o setor, principalmente após o banco Morgan Stanley estimar que a capacidade do principal centro de estocagem de petróleo no EUA chegará ao limite em junho.
As ações da Petrobras não foram impactadas pela queda do WTI, pois a referência é o petróleo Brent. Mas a guerra de preços traz uma consequência para a companhia, que já foi obrigada a fazer 12 reduções de preço neste ano para não perder clientes internacionais. Nesta semana, a expectativa com os contratos na Bolsa de Londres podem influenciar o desempenho do papel. "A Petrobras não é afetada diretamente pelo WTI porque tem como referência o preço do óleo Brent, o que acaba sendo uma blindagem", afirma o analista Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos. "Por outro lado, a volatilidade no preço do óleo WTI tira o ímpeto dos mercados globais e isso repercute de alguma forma no Brasil."