Na tentativa de controlar os custos em meio à pandemia e as mudanças de consumo, a Ambev construiu a primeira fábrica de latas com capacidade de produção de 1,5 bilhão de itens por ano em Minas Gerais, Belo Horizonte. A nova fábrica foi inaugurada nesta semana.
A fábrica já havia sido anunciada no ano passado, mas a pandemia do coronavírus fez com que a obra acelerasse por conta das drásticas mudanças nos hábitos de consumo de cerveja, o que levou a uma maior demanda de clientes que bebem mais em casa do que nos bares.
A empresa subsidiária da Anheuser-Busch apontou que a demanda por bebidas enlatadas cresceu bastante durante a pandemia, ao ponto de superar a demanda por garrafas de vidro de pequeno porte. Segundo a Ambev, antes da crise sanitária, os brasileiros consumiam mais cerveja em garrafas de vidro, em sua maioria compradas em bares e destinadas a serem compartilhadas.
A mudança de comportamento foi motivo de uma grande questão na empresa, tendo em vista que o custo de produção de latas é maior que o de garrafas retornáveis. Inclusive, no segundo trimestre do ano, a companhia chegou a reforçar a presença de garrafas retornáveis de 300 ml nos supermercados, cujo preço do litro é 30% inferior ao das latinhas.
Com a inauguração da fábrica de latas, uma nova medida foi implantada como forma de adaptação ao novo cenário. A XP investimentos pontuou dois motivos explicando o lado positivo da fábrica de latas: primeiro no curto prazo, a agilidade da empresa em se adaptar para um cenário de pandemia; segundo, a longo prazo, a manutenção da preocupação da empresa em controlar custos e margens, sobretudo em meio a cenário competitivo desafiador.
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Por sua vez, o Bradesco BBI aponta vontade de obter mais clareza sobre o potencial de economia nos custos de latas com esta nova planta, e quanto das necessidades internas da Ambev ela suprirá.
Os analistas avaliam boa capacidade do projeto. "Estimamos que a capacidade desta planta seja equivalente a cerca de 5% da produção de latas do Brasil em 2019 (19,6 bilhões de unidades) e, portanto, presumimos que a Ambev continuará a depender principalmente de terceiros para suprir as necessidades no segmento (já que tem cerca de 60% do mercado brasileiro de cerveja)".
De acordo com os profissionais, mesmo que a planta possa proporcionar alguma economia nos custos de latas, eles veem embalagens descartáveis (como as latas) ganhando participação ante as retornáveis (impulsionada pela mudança de consumo nos bares e supermercados), como negativas de uma forma geral para as margens da Ambev.
A recomendação neutra e preço-alvo de R$ 15,50 para a Ambev (upside de 20,58% frente o fechamento da véspera) continuam sendo recomendados pelos analistas do BBI. A XP também possui a mesma recomendação para os ativos, com preço-alvo de R$ 16 (upside de 28,62%).
É importante ressaltar que no acumulo do mês de setembro, até o fechamento do dia 23, as ações da Ambev registram uma alta de 1,06%, ante baixa de 3,66% do Ibovespa no período. Ainda assim, ela registra uma queda cerca de duas vezes maior do que o índice do ano (baixa de 32% ante 16% do benchmark da Bolsa), em meio ao debate sobre a recuperação da companhia.
A Confederação Nacional das Revendas Ambev e das Empresas de Logística da Distribuição (Confenar), que reúne 110 revendas da empresa e responde por cerca de 30% da distribuição da cervejaria no Brasil, que está entre os números que ajudaram a impulsionar a ação recentemente, relatou crescimento de 8,2% nas vendas da companhia no acumulado do ano até agosto.
No entanto, no mês passado, as vendas das distribuidoras cresceram 35% em relação ao mesmo mês de 2019. De acordo com Mário Sérgio Peres, diretor comercial da Confenar, o principal motivo para o crescimento foi o ganho de mercado sobre concorrentes que reduziram a oferta de produtos.
Conforme apontado pelo Credit, a notícia é positiva, sugerindo volumes sólidos no terceiro trimestre. "O ambiente competitivo mais favorável ainda está impulsionando o desempenho dos volumes de cerveja mais forte, principalmente no canal externo", dizem os analistas do banco suíço, que possuem recomendação outperform, ou seja, desempenho acima da média para ações da empresa de bebidas.
Entretanto, conforme aponta pesquisa feita pela Refinitiv, de 13 casas de análise que cobrem a ação, apenas três possuem recomendação equivalente à compra, duas recomendam venda, enquanto oito recomendam manutenção, sugerindo cautela com o cenário de curto prazo para a companhia, ainda que as iniciativas sejam positivas.